13/05/2007

A Bela Arte de Dizer Mal


O escritor, poeta, cantor e músico Boris Vian tinha uma opinião clara sobre o que devia fazer um crítico de arte:
1. dizer qual é a obra de arte que viu, ouviu ou leu (não sei se ele também considerou obras de arte cognoscíveis pelos sentidos tacto, olfacto e paladar....);
2. fazer um pequeno resumo do que ele próprio (o crítico) fez na vida até agora e quais são os seus planos para o futuro imediato;
3. exprimir a sua opinião sobre a obra: "achei boa ou má".
E mais nada.
Extraordinário!
Lembrei-me disto quando li nesta semana duas críticas sobre a peça "Longas Férias com Oliveira Salazar": no "Diário de Notícias" do dia 8 de Maio por Miguel Pedro Quadrio, no "Público" do dia 11 de Maio por Rui Pina Coelho, ambos os textos disponíveis on-line.
Estes senhores são Críticos de Teatro, Professores na Universidade ou Escola Superior de Teatro e Cinema ou Membros de Comissões de Atribuição de Subsídios do Ministério da Cultura. Não sei quais são os planos deles para o futuro próximo, mas devem estar muito bem na vida como estão, por isso o mais provável é o "Statu Quo" (está-se bem, deixa estar como está).
Os dois senhores não gostaram da peça, em contrapartida, público e actores têm-se divertido imenso a vê-la e fazê-la.
Pior ainda, ambos os Senhores Professores (!) não sabem ler o programa: um menciona como cenógrafo José Manuel Castanheira em vez do encenador/cenógrafo José Carretas, o outro vê em cena Marcelo Caetano em vez de Humberto Delgado....
Sabe-me bem dizer um bocadinho mal destes críticos maldizentes, agora só falta uma qualificação final, veja imagem...

16 comentários:

pin gente disse...

diria a minha avó " presunção e água benta cada um toma a que quer"

boa viagem (se é que ainda vai)

Anónimo disse...

Caro Rini,

Compreendo o teu sentimento mas não entendo qual é a surpresa.
Esta questão da crítica de arte dava pano para mangas e penso que deveria ser discutida no Anacruses. No entanto, a realidade intemporal tem sido: “Quando a crítica é má o crítico é uma besta, quando é boa, o crítico é bestial.”

Vou ver se consigo ler as críticas para poder fazer um comentário mais fundamentado.

Anónimo disse...

Caro Rui,

Em relação ao assunto "besta - bestial": se a crítica fosse favorável e o espectáculo mau (penso por exemplo à mania de certos críticos de cinema de dar 4 ou 5 estrelas a qualquer filme de origem nacional...) também não concordo, obviamente.
Mas percebo que no caso de "Salazar" o assunto tem uma carga especial, o crítico pode vir ao espectáculo já com muitas ideias e expectativas na cabeça...

Anónimo disse...

Viva,

Livre-nos Deus de nunca errarmos!, apetece-me dizer. Em relação à crítica que escrevi, não lhe mudaria uma vírgula, à excepção, claro está, do engano Marcelo Caetano por Humberto Delgado. Uma desatenção minha lamentável, mas que, convenhamos, não muda a minha leitura do espectáculo. Mas também, não se trata de não saber ler o programa, uma vez que nem o vi à venda no Teatro da Politécnica nem me foram disponibilizados quaisquer materiais para melhor poder fazer o meu trabalho (ao contrário do que acontece noutros locais...). (já para nem falar da pobreza franciscana da folha de sala...)

Não me revejo na figura do crítico maldizente nem nos epítetos que me atribui. Visto a pele de crítico com grande responsabilidade.
O tratamento por Senhor Professor é francamente abusivo, uma vez que nem os meus alunos o usam. A figura do maldizente aqui não é minha, mas sim sua!

Não duvido que se tenham divertido a fazer o espectáculo nem que o público se tenha divertido também. Confesso que tembém me diverti no espectáculo. Mas a uma produção teatro das beiras /TNDMII há que exigir muito mais do que divertir! A diversão não basta (já lá vão esses tempos). Se lida mal com a exigência da crítica, nunca havemos de concordar em nada.

Quanto ao meu statu quo, como lhe chama, ou se estou bem ou mal na vida, terá que admitir que não tem nada a ver com isso e peço-lhe que guarde as suas opiniões sobre a minha pessoa para si.

até à próxima, ;-)

Rui Pina Coelho

António Pires disse...

Rini:

Não conhecia essa frase - genial, diga-se! - do Boris Vian mas conheço outras como a famosa «Escrever sobre música é o mesmo que dançar sobre arquitectura» (que geralmente é entendida como um gozo aos críticos de música mas que eu sempre achei especialmente bonita e poética :).

E não, não venho defender «corporativamente» a classe. Venho só dizer que é muito bom que, com a net e os blogs e etc., os críticos possam ser criticados por quem criticam nas caixas de comentários dos seus blogs e os artistas tenham, eles próprios, blogs em que podem criticar os críticos... Acho que as coisas nunca estiveram tão equilibradas e ainda bem!

Ah, e viste o meu comentário referente à homenagem ao José Valor?

Um abraço

Rui Rebelo disse...

viva Rini,

Já li as críticas que me enviaste por mail e não vejo que sejam alvo de tanta revolta. As gralhas do Castanheira e do Marcelo Caetano não são assim tão graves. Já li bem piores. A resposta do Rui Pina Coelho foi uma surpresa agradável pois como o António Pires disse "é muito bom que (..) os críticos possam ser criticados por quem criticam" e que ainda assim tenham o direito à resposta.
Eu não me posiciono nesta questão específica pois se fosse crítico também teceria várias críticas negativas ao vosso espectáculo, mas não seriam com certeza fundamentadas com a proposta de programação do TNDMII. Uma coisa é uma peça estar desajustada de uma proposta de programação de um Teatro Nacional, outra é o valor do objecto artístico em si, apesar de ambas terem importância.

Quero acreditar no Rui Pina Coelho quando diz “Visto a pele de crítico com grande responsabilidade”, apesar de já ter lido várias calinadas em críticas suas. Mas isso acontece com todos e não é suficiente para eu fazer juízos de valor.
Pessoalmente estou-me a cagar para os críticos, gosto de os ler principalmente quando dizem mal pois isso faz-me reflectir sobre aspectos do meu trabalho. Em Espanha temos tido boas e más críticas (maioritáriamente boas) e a única que gostei de ler era má. Mas foi essa que nos fez repensar a facilidade com que piscávamos o olho ao público e com isso evoluir um pouco.
No entanto nenhum dos críticos percebeu a intenção do espectáculos. Todos eles conseguiram ler coisas que nós não queríamos dizer. Mas é esse o seu papel: teorizar sobre o que os outros criam mesmo que não haja nada para teorizar.

Lembro-me, há muitos anos, quando os críticos eram sempre os mesmos e conheciam quase toda a pequena classe teatral portuguesa. Carlos Porto, Fernando Midões, Eugénia Vasques e poucos mais, eram amigos ou conhecidos próximos da gente do teatro e ainda assim passavam de bestiais a bestas na generalidade das companhias e dos fazedores de teatro. Mas naquela altura ser crítico de teatro era para toda a vida.

Rui Rebelo disse...

rectificação:

não me estou a cagar para os críticos mas sim para as críticas que escrevem.

Anónimo disse...

Caro Rui Pina Coelho,

Obrigado pela sua franca reacção, como observa António Pires, é óptimo que críticos e criticados podem comunicar desta maneira e até inverter os papéis...
Do seu comentário deprendi que se sente incomodado pelo estilo algo acutilante ou corrosivo do meu post. Nós, alguns Holandeses, somos assim, algo acutilantes e corrosivos, mesmo depois de uma estadia de 20 anos em Portugal.
Já em ocasiões anteriores (neste blogue e outros) reparei numa diferença de sensibilidade entre latinos e nórdicos quando se trata de conversa do tipo "encontro imediato". Pessoalmente aprecio por exemplo bastante o estilo "Britcom" (adoro Catherine Tate nos domingos na RTP 2).
Isto para dizer que a minha intenção neste post foi denunciar uma situação, não ofender pessoas, só dizer um bocadinho mal...
Assim, a passagem "Statu quo" é uma extrapolação de raciocínio, se calhar algo entusiasmada, a partir da definição (do papel do crítico) de Boris Vian, obviamente não tenho nada a ver com a sua vida pessoal. Em relação ao "Senhores Professores" não vejo o "abusivo", uma vez que os Senhores são mesmo professores.
Na sua crítica escreve: "Perdeu-se uma oportunidade para satirizar, exorcizar e carnavalizar a figura do ditador Salazar". Se calhar o Senhor estava a espera de ver um espectáculo diferente, mas aí acho que o encenador tem a última palavra. Só posso dizer que o autor (espanhol!, facto importante que não referiu na sua crítica) Manuel Martinez Mediero acompanhou os ensaios intensamente e gostou muito do resultado final.
E numa das últimas representações em Lisboa, uma senhora de 82 anos, familiar do actor que fez de Silva Pais, não parou de chamar nomes ao protagonista "Salazar"!

Anónimo disse...

Caro Rui (Rebelo),

Concordo que a resposta de um "conceituado crítico de um diário nacional" é uma surpresa, não concordo com o teu comentário "mitigante", mas isto é muito bom, assim temos "vida no blogue"!
E também acho que não era preciso a tua rectificação!

Anónimo disse...

Caro António Pires,

Sim, vi o programa em Viseu nos dias 15 e 16 de Junho, a homenagem ao "nosso" José Valor é justíssimo.
Gostava de ir lá, mas acho que já temos trabalho com os Algazarra na área de Lisboa.

Um abraço

Anónimo disse...

Caro Rini,

não foi um comentário mitigante, foi mesmo a opinião de que não vale a pena darmos valor às críticas pois elas não têm qualquer valor.
Mas gostei bastante do facto deste teu post ter chegado ao destinatário e de ele ter respondido. Assim os críticos `têm críticos e terão de ter mais cuidado com gralhas, compadrios e antipatias.

espero que este assunto não morra aqui. eu não mandei achas para a fogueira mas também não mandei água.

Anónimo disse...

Certíssimo, Rui!

Anónimo disse...

os criticados criticam os criticos!

GENIAL!!!

Anónimo disse...

hahaha. para que servem os críticos?

Anónimo disse...

hahaha. para que servem os críticos?

Anónimo disse...

Este post é histórico!!!