15/08/2014

Em Defesa do Projecto Cultural dos Artistas Unidos

ASSINAR É URGENTE

PETIÇÃO

Exmo. Sr. Reitor da Universidade de Lisboa 
Professor Doutor António Cruz Serra, 


Foi com muita apreensão que soubemos que a Universidade de Lisboa dá por terminado o contrato que permitiu a actividade dos Artistas Unidos no Teatro da Politécnica, pondo fim a um percurso de três anos em que a companhia transformou um espaço abandonado numa das referências culturais da cidade. Essa revelação é particularmente inesperada por recordarmos que as longas negociações para a cedência deste espaço pela Universidade de Lisboa foram então minuciosamente acompanhadas pelo Ministério da Cultura, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e pela Câmara Municipal de Lisboa, que apostaram no Teatro da Politécnica para este fim específico, acreditando num projecto cujas expectativas nos parecem ter sido até excedidas pela companhia. 

Estranhamos que o argumento para a cessação do contrato seja o atraso nos pagamentos do valor de arrendamento – aliás muito elevado comparativamente a casos similares. Para além da desconsideração pelo investimento financeiro que os Artistas Unidos fizeram, muito superior aos valores em atraso e que inclui não só obras de reabilitação mas também diversas obras de reparação, não compreendemos como, desde Junho de 2013, não foi possível chegar a um compromisso quanto ao plano de pagamentos com que os Artistas Unidos pretendem liquidar os valores em falta. Acresce a isto o conhecimento atempado que a Universidade de Lisboa teve do motivo pelo qual surgiram dificuldades: os avultados cortes imprevistos no financiamento por parte da Direcção-Geral das Artes, que é agora cerca de metade do que era aquando da assinatura do contrato, e cujo valor inicial serviu de referência à fixação da renda. Compreenderíamos talvez esta postura se para a Universidade de Lisboa, no difícil quadro económico em que vivemos, os valores em causa fossem elevados – mas claramente não é o caso. 

Não deixa de causar perplexidade que o concurso que a Universidade de Lisboa tenciona abrir em breve para a concessão do Teatro da Politécnica, com o qual diz defender o interesse público, tenha como único critério de decisão o valor de renda proposto pelos concorrentes, sem que o projecto ou o historial seja tido em conta, apesar do espaço ser destinado a actividade teatral. 

Nós, espectadores, artistas, produtores, programadores ou simplesmente cidadãos que reconhecem na cultura uma dimensão maior da nossa vida em sociedade, sentimo-nos ameaçados por mais uma terrível perda num tempo de destruição da cultura nacional. Nesse sentido, seria importante que Universidade de Lisboa tratasse a companhia como um verdadeiro parceiro, não desistindo tão facilmente de um espaço de cultura e de cidadania, não limitando as actividades, que vão muito para além da produção teatral própria dos Artistas Unidos, e evitando a asfixia de um projecto com múltiplas valências que o tornam indispensável na cultura portuguesa. 

Não é demasiado tarde e é esse ponto que sublinhamos e de que partimos para um apelo lógico: que se dê uma oportunidade a um compromisso de onde todos – universidade, companhia e cidadãos – podem sair vencedores; que se faça da renovação do contrato com os Artistas Unidos uma prioridade, para que se mantenha o Teatro da Politécnica como o imprescindível espaço de cultura que se tornou, onde criação, divulgação e formação coexistem, cumprindo uma luta que se espera ser também a de uma instituição universitária. Que não se desfaça por tão pouco o que tão exemplarmente se construiu. 

05/05/2014

"Vai Maria vai" - versão Ocaso Épico/Lucretia Divina (1993)


Finalmente foi recuperada duma K7, com preciosa ajuda de Rui Carvalheira, uma versão muito livre do tema "Vai Maria vai" (Zeca Afonso) que resultou duma colaboração Ocaso Épico/Lucretia Divina no verão de 1993.
O propósito foi uma candidatura para o projecto "Filhos da madrugada cantam José Afonso", uma homenagem ao cantautor, a celebrar os 20 anos da Revolução dos Cravos em 1994.
A ideia nasceu quando ouvi uma faixa de música tribal berbere, incluída no álbum da banda sonora do filme “The Sheltering Sky” de Bernardo Bertolucci (baseado na novela de Paul Bowles): https://www.youtube.com/watch?v=edmBlRovPDw .
Mostrei o CD a Carlos Cordeiro aka Farinha Master dos “Ocaso Épico”.
A banda estava nessa altura numa fase de “standby”, eu tinha tocado com eles no fim da década de ’80 a convite do Farinha, entrei logo depois do lançamento do álbum “Muito Obrigado” em 1988.
Com inspiração no tema berbere criámos uma base melódica e rítmica bastante complicada: uma melodia em compassos de alternadamente 6 e 7 tempos e em sobreposição uma batida em ritmo binário, significando que a base (melodia + ritmo) se repetia após cada oito compassos: 4 x (6 + 7).
Numa tarde no verão juntámo-nos na garagem do Farinha em Algueirão-Mem Martins: Farinha e os Lucretia Divina (Alagoa, Valor, Donzília e eu) para experimentar. Gravámos várias versões, na minha opinião a mais conseguida foi esta (no soundcloud aqui em baixo).
Ficha técnica: composição Farinha Master/Rini Luyks, programações/sintetizadores/flauta/voz: Farinha Master;
voz: Donzília; acordeão: Rini Luyks.

A nossa versão tribal (muito “para frentex”) de “Vai Maria vai” não foi seleccionada para a compilação Zeca Afonso, mas ficou um trabalho bastante original e serviu em 1999 como banda sonora para a peça de teatro “As Bruxas” de Helena Flôr Dias.
Farinha assistiu comigo à estreia da peça no espaço “Moira” no Chiado e gostou.
http://anacruses.blogspot.pt/2007/02/farinha-master.html

Fica então aqui o registo em homenagem ao Farinha. 

https://soundcloud.com/rini-luyks/01-vai-maria-vai-vers-o-1

29/04/2014