31/05/2007

REACTABLE

O resultado parece a banda sonora de um mau filme de ficção científica dos anos 60 do século passado. Mas o interface é fantástico e a lógica de jogo merece que se lhe tire o chapéu. A Björk já aderiu. E eu se me deixassem até dava umas voltinhas...

Aqui está uma breve explicação (em estrangeiro)...

The reactable is a collaborative electronic music instrument with a tabletop tangible multi-touch interface. Several simultaneous performers share complete control over the instrument by moving and rotating physical objects on a luminous round table surface. By moving and relating these objects, representing components of a classic modular synthesizer, users can create complex and dynamic sonic topologies, with generators, filters and modulators, in a kind of tangible modular synthesizer or graspable flow-controlled programming language.


The instrument was developed by a team of digital luthiers under the direction of Dr. Sergi Jordà. The "Interactive Sonic Systems" team is working in the Music Technology Group within the Audiovisual Institute at the Universitat Pompeu Fabra in Barcelona Spain. Its main activities concentrate on the design of new musical interfaces, such as tangible music instruments and musical applications for mobile devices.

E aqui está o link... http://mtg.upf.es/reactable/

LUA CHEIA.



Sentem?
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FMI

o post anterior pode OUVIR-SE aqui

30/05/2007

Ser solidário...?

FMI
JOSÉ MÁRIO BRANCO

Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não seja muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não ser muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto.
Chama-se FMI.
Quer dizer: Fundo Monetário Internacional.
Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos…
É o internacionalismo monetário!


Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o Mortimore do Meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu ‘attachi-case’ sai a solução!

FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI

Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem ‘on the rocks’ do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!

FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico ‘hara-quiri’
FMI Panegírico, pro-lírico daqui

Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!

FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI …

Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt’e-quer, messe gigantesca, vem-te vem, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D’ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o ¨Muchê Dyane¨ que te traz debaixo d’olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do Serviço Nacional de Saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o Astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás aí a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és ‘Sepuldra’ tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?
A one, a two, a one two three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI …

Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, ‘amanda’-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um ¨tripe¨ fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal não quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh!, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autêntico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa… Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem… E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do… que dia é hoje, hã?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI …

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-fascistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p’ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o ¨Teng Hsiao-Ping¨Teng Hsiao-Ping está a tratar da tua vida com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canadá ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai ¨baby¨, ¨come on¨ descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, hã? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é ‘pequeno burguês’, o menino pertence a uma classe sem futuro histórico… Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, ‘terneio’ Satanás, filhos da puta! Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe…

Mãe, eu quero ficar sozinho… Mãe, eu não quero pensar mais… Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero ¨desnascer¨, ir-me embora, sem sequer ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe… Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar…

Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.

O FURA-GREVES


Lamento furar esta greve mas não a sinto como minha.

Embora concorde com as reivindicações que a suportam, sinto que eu (e a maior parte dos que nos rodeiam) pertenço a outras batalhas. As batalhas dos que não têm direito a subsídio de desemprego nem a baixa remunerada, dos que descontando ou não para a segurança social não têm senão a segurança que possam pagar, a outros, privados, e portanto, tão solidários quanto aqueles que hoje viram o seu dia de greve pago por todos nós.

Contra a greve? Não. Antes contra esta divisão equívoca de estatutos e de deves e haveres que criam a ilusão de que Portugal é um estado democrático moderno e solidário com milhares ou milhões de profissionais independentes ou liberais (expressão macrocéfala… serve para tudo) que podem pagar a sua segurança social ao privado e ainda contribuir solidariamente para a dos outros no público. Maravilhosa república plena de médicos, arquitectos e advogados com os seus prósperos consultórios, ateliers e escritórios a somar lucro enquanto se banham nas águas quentes do Pacífico. Deve ser esta a imagem que o governo tem de todos nós, de recibo verde em riste e tão pouco solidários para com os mais carenciados.

Quanto ao discurso deste e dos outros governos acerca da produtividade, da inovação, da competitividade, do PIB, das taxas e dos dividendos, já sabemos a cantiga de cor. Já a cantavam aos nossos pais. Somos nós que pagamos porque a culpa é nossa. Agora como antes. Já nascemos culpados. Uma espécie de pecado fiscal original.

Greve Geral




Estou de acordo com a sugestão do bloguista "Kaos", os meus caros sócios também, suponho.
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29/05/2007

Diego el Cigala no CCB

Fui ver hoje o concerto do Diego el Cigala no CCB. Grande concerto, grandes músicos, grande voz. Tocaram fundamentalmente temas do “Lágrimas Negras” e alguns do “Picasso en mis ojos”, apresentando ainda algumas músicas do próximo álbum “Dos Lágrimas Negras”.

Gostei da atitude relaxada como quem está em casa, brincando, falando com os músicos e pedindo que lhe tragam mais bebida quando o copo está vazio (4 ou 5 durante o concerto).

Escusadas eram as duas vezes que saiu do palco e de regresso fungou ao microfone e limpou o nariz. Não pelo que foi fazer a bastidores mas porque fungar ao microfone é feio.


O DVD “Blanco y Negro”, com o pianista Bebo Valdez é uma obra prima obrigatória e uma das mais bem conseguidas fusões musicais da última década.

Alexander Scriabin



O post do Fernando com a imagem do telescópio espacial "Hubble" provocou-me uma associação com a música do compositor Alexander Scriabin (1872-1915), nomeadamente a obra "Prometheus - Poem of Fire".
Descobri este compositor na Festa da Música Russa no CCB em 2001.
Scriabin deixou-se inspirar por Chopin e Wagner, para ele existe uma relação entre música, cores e ideias (ver o círculo das quintas, fazer clique na imagem para melhorar a legibilidade).
Uma experiência interessante é tentar aplicar este "Círculo de Scriabin" à música que ouvimos. Os resultados podem ser surpreendentes!
Pode-se ouvir uma obra deste compositor : "Vers la Flamme, Poème, Opus 72", interpretado pelo grande Vladimir Horowitz em http://www.youtube.com/watch?v=A0nrg7Lqfak.
Com o aumento da impetuosidade da música, o pianista quase levanta voo na última parte!

Terapia...?

Para quem sempre achou que era muito mais divertido fazer do que ver...

http://jacksonpollock.org

Imagens do Hubble


Não, não é ficção científica. São imagens do satélite Hubble.
A mostrar mais uma vez que a realidade ultrapassa sempre a ficção.
Para quem ainda não conhece aqui está uma boa colecção...

28/05/2007

azul, vermelho e preto


Nova "Arca de Noé" em construção

(Notícia "Greenpeace News", 16 de Maio 2007)

MONTE ARARAT, Turquía - Activistas de Greenpeace começaram a construção de uma réplica da Arca de Noé, 2500 metros acima do nível do mar no Monte Ararat. Muitas pessoas acreditam que a Arca de Noé encalhou lá depois do Dilúvio.
A ideia de uma réplica da Arca é construir um símbolo de esperança e lançar um apelo aos líderes mundiais: é preciso tomar medidas urgentes para evitar um aquecimento global de proporções catastróficas.

26/05/2007

"Tocar música antiga é como fazer ficção científica"

All' Improvviso - L'arpeggiata - Christina Pluhar

Descobri há pouco tempo esta preciosidade. Músicos fabulosos a interpretarem música antiga de uma forma muito livre e criativa.

Já dizia o Jordi Savall “tocar música antiga é como fazer ficção científica”




Resta dizer que este disco (e muitos outros da mesma colecção) foi 100% suportado pela France Telecom com base no Mecenato Cultural. Pois é, o que por cá é miragem, a duas horas de avião é realidade.

24/05/2007

"Hedgehog in the Fog" de Yuri Norstein

...para desenjoar de músicas aleatórias e de teorias budistas (olá Rini ;) voltei à MONSTRA (Teatro Maria Matos, até Domingo). Desta vez de público. Deparei-me com esta e outras OBRAS deste senhor russo. O divino é simples. E por isso improvável.

Antonin Artaud

"Qui suis-je ?
D'où viens-je ?
Je suis Antonin Artaud
Vous verrez mon corps actuel
Voler en éclats
Et se ramasser
Sous dix mille aspects
Notoires Un corps neuf
Où vous ne pourrez
Plus jamais
M'oublier. "
.
Antonin Artaud nasceu em Marselha no dia 4 de Setembro de 1896, numa família de ascendência grega, cuja tradição acabou por influenciá-lo, nomeadamente no que diz respeito ao seu fascínio pelo misticismo. Sofrendo de perturbações mentais desde cedo, passou, ao longo de toda a sua vida, várias temporadas internado em asilos. Adepto do movimento surrealista, Artaud escreveu alguns poemas dentro dessa linha; no entanto, é no Teatro que o autor se irá destacar. Estudou interpretação em Paris e fez, em 1921, a sua estreia no “Dadaiste-Surréaliste Théâtre de l’Oeuvre”. Foi também dramaturgo e, enquanto tal, apresentou uma ideia incompreendida pelo seu tempo, mas que deixou marcas para a posteridade: o “teatro da crueldade”. Com os seus Manifeste du Théâtre de la Cruauté (1932) e Le Théâtre et Son Double (1938), Artaud propõe substituir o teatro clássico pelo “teatro da crueldade”, no qual a peça já não é apenas um espectáculo, passando a ser uma união entre os actores e o público através de um exorcismo mágico. Apesar de as teorias de Artaud não terem sido bem aceites pela sua época, foram determinantes, por exemplo, para o teatro do absurdo, tendo inspirado autores como Genet, Ionesco e Beckett. Morreu a 4 de Março de 1948 em Ivry-sur-Seine, após nove anos passados em manicómios que deterioraram a sua saúde física e mental.

Anouar Brahem II - Kasfh

Muito a propósito, Rui, o teu post sobre Anouar Brahem.
Eu também não conhecia esta música, no mês passado foi o sócio Fernando que me apresentou um trabalho dele: "Le pas du chat noir" (oud, piano e acordeão).
No Youtube encontrei um video que podia mencionar num comentário ao teu post, mas ninguém tem paciência para digitar aqueles caracteres todos, suponho.... Por isso:
http://www.youtube.com/watch?v=HZNGbMnCbIg&mode=related&search=

Anouar Brahem

O propósito da abrangência da melodia, da harmonia e do ritmo, regidos pela riqueza da fusão cultural.


A música de Anouar Brahem acompanha-me desde o seu primeiro disco na ECM em 1991(o Barzakh em vinil que tinha uma capa linda) e pauta-se por um bom gosto e uma qualidade irrepreensíveis.



Obrigatório para quem não conhece.

23/05/2007

...mushrooms?


"The highest purpose is to have no purpose at all. This puts one in accord with nature, in her manner of operation."
John Cage

Canção da Solidariedade (B. Brecht / H. Eisler)

http://viadrina.euv-frankfurt-o.de/~juso-hsg/lieder/solidatitaet/soli.htm
(para letra e melodia original)

"Em frente e não esqueçam / Onde está a nossa força! /Na fome e na fartura /Em frente e não esqueçam /A Solidariedade".

A Cançaõ da Solidariedade ("Solidaritätslied") foi composta por Bertolt Brecht e Hanns Eisler para o filme "Kuhle Wampe" (1931). É o relato da vida de uma familia alemã em plena crise económica. Pai e filho estão no desemprego e quando o filho se suicida em desespero, a familia tem que deixar a casa e viver num acampamento, chamado "Kuhle Wampe" ("Barriga Fria", sinónimo de "Barriga Vazia" ou "Fome"). O filme foi proibido pelos Nazis em ascenção.
Ficou famoso o dialogo final do filme: "Quem deve mudar o mundo?" pergunta um senhor abastado. "Aqueles, a quem ele não agrada", responde uma trabalhadora.

A "Canção da Solidariedade" foi cantada inúmeras vezes nas grandes manifestações europeias dos anos '70 e '80 em protesto contra o perigo do armamento nuclear e dos centrais de energia nuclear.

John Cage

“I can't understand why people are frightened of new ideas. I'm frightened of the old ones.”

(A pedido de várias famílias, ou não, regressamos às citações do Cage.)

22/05/2007

"Dificuldade de Governar" ou um paralelismo assustador?

Todos os dias os ministros dizem ao povo como é difícil governar. Sem os ministros o trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima. Nem um pedaço de carvão sairia das minas se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol sem a autorização do Führer? Não é nada provável e se o fosse ele nasceria por certo fora do lugar.

É também difícil, ao que nos é dito, dirigir uma fábrica. Sem o patrão as paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado ele nunca chegaria ao campo sem as palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem, de outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados?
E o que seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

Se governar fosse fácil não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina e se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas, não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida que há a necessidade de alguns tão inteligentes.

Ou será que governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira são coisas que custam a aprender?

Bertolt Brecht

20/05/2007

Reinterpretando Brecht

É PRECISO AGIR

Primeiro levaram os comunistas
Eu como não era comunista
Caguei bem no assunto

Em seguida lixaram os operários
Mas como eu não era operário
Nem me chateei

Depois prenderam sindicalistas
Como também não sou sindicalista
Continuei a minha vida

Agarraram depois uns padres
O que é que eu tenho a ver com isso?
Eu nem sequer sou religioso.

Agora levam-me a mim
...
Foda-se, agora é tarde

King Kong versão 2007

"Só neste país..." é uma expressão muito generalizada "neste país", mas acho que o próximo episódio é típico para o meu país nativo, a Holanda. Infelizmente.
Trata-se de um caso de "aapjes treiteren", "chatear macaquinhos" com olhares, palavrões e gestos, também praticados em certos estádios de futebol (no ano passado o "tratamento" do jogador africano Samuel Eto'o por adeptos de Zaragoza foi muito mediático).
Aconteceu no Jardim Zoológico em Roterdão, só que desta vez o "macaquinho" foi o gorila macho Bokito, 180 quílos e 11 anos de idade. Depois de três anos de permanência neste Zoo o Bokito fartou-se das "atenções" de certos visitantes e resolveu reagir. Saltou um fosso de quatro metros de largura (facto inédito para um animal que em geral tem medo de água) e atirou-se a uma mulher que, como se soube depois, o vinha visitar quase todos os dias....
Esta senhora teve bastante menos sorte do que a "namorada" Ann Darrow (a actriz Fay Wray que morreu há pouco tempo com 96 anos de idade) no filme "King Kong" de 1933: ela está agora nos cuidados intensivos com uma mão esmagada, pulso e antebraço partidos e mordeduras pelo corpo todo.
Depois de largar esta infeliz mulher o bicho ainda atropelou um deficiente numa cadeira de rodas e, esmagando uma porta de vidro, entrou num restaurante, onde deixou uma empregada em estado de choque. Afinal um veterinário conseguiu anestesiar o animal com um dardo sedativo.
Parece que o director do Zoo incorre agora numa pena de seis meses de prisão por negligência quanto à segurança, mas para mim é claramente um caso de culpa colectiva.
P.S. Sem querer ser muito sensacionalista: agora mesmo apareceu na net o vídeo de um "encontro" anterior entre Bokito e a mulher agredida, filmado pelo marido.
Segundo funcionários do Zoo, ela dá uma interpretação completamente errada à expressão facial do gorila Bokito: ele não está a responder ao (sor)riso dela, pelo contrário, sente-se ameaçado, pois a senhora não mostra o respeito que uma fémea deve mostrar por ele....
Soube-se que esta senhora Petronella já tinha sido avisada pelos mesmos funcionários para não continuar a desafiar o animal. Soube-se também que crianças atiraram uma chuvada de pedrinhas aos macacos pouco antes da evasão do gorila....
Está tudo explicado.

19/05/2007

Mais vale prevenir...




Dando continuidade à dieta musical, pergunto quanta música é que ouvem, onde a única acção consiste apenas em ouvir música?

E entretanto vamo-nos protegendo
da poluição musical e do terrorismo musical.

Ou assim!?


O Nosso Prémio "Deixem-se de Merdas".....assim!?

Muito obrigado, caro Aminhapele!
"Merda, muita merda", já entrou nos ouvidos dos sócios deste blogue por causa do nosso trabalho de teatro (para os leigos nesta materia: antes de entrar em cena os actores costumam dizer uns aos outros "merda" em vez de "boa sorte", um hábito que remonta ao século 19, se não me engano: Sarah Bernardt, França!?)
Um prémio "Deixem-se de merdas!" também fica bem para um blogue que já tratou de vários assuntos escatológicos, alguns posts tornaram-se escatológicos por causa dos comentários dos nossos leitores.
Continuaremos por isso este caminho, mesmo escorregando de vez em quando ao pisar uma merdinha de um cão mal acompanhado. Como disse o grande Mahatma Gandhi: "O caminho é tão importante como o destino".

18/05/2007

Bodies - The Exhibition


Desde o início deste mês está montada num palacete em Lisboa a controversa exposição "O Corpo Humano como nunca o viu" ("Bodies - the Exhibition") .
Controverso é sobretudo o método como o organizador e preparador de corpos Gunther von Hagens alegadamente conseguiu os cadáveres que fazem parte da exposição: ele foi acusado de comprar vítimas de execuções em China. Em 2004, a Sociedade Internacional de Direitos Humanos exigiu, em vão, o fim da exposição itinerante que tem recolhido críticas e elogios em todo o mundo.
A técnica de conservação dos cadáveres desenvolvida por Hagens chama-se "Plastinação" e consiste em vários passos:
- fixação: o corpo é conservado para evitar decomposição, em geral numa solução de formol;
- desidratação: água e e lípidos são removidos do corpo por colocação num banho de acetona fria (-25º C), em 4 ou 5 semanas os líquidos são substituídos por acetona;
- impregnação forçada: o corpo desidratado é submergido num polímero líquido e colocado sob vácuo, a acetona no corpo entra em ebulição e deixa o polímero tomar o seu lugar;
- endurecimento: em seguida, o corpo (cheio de polímero) é colocado numa câmara, onde entra em contacto com um assim chamado "gás de cura", que vai endurecer o polímero em 48 horas.
Entretanto, para "aquecer" o assunto mais um bocadinho: hoje vi no "Metro" uma pequena notícia sobre uma empresa americana que está a vender cadáveres e órgãos humanos "plasticinados" na internet : www.cor-labs.com/
Onde é que este negócio vai parar!?
Obviamente há também imagens no Youtube:
- "Bodies - The Exhibition" em http://www.youtube.com/watch?v=jyHQjJlvL90
O último video foi feito pelo New York Times com a autorização do próprio Hagens (aviso: imagens muito explícitas que podem perturbar pessoas mais sensíveis!).
Pelo menos os "curiosos, mas não tanto" (como eu) podem poupar assim os mais de 20 euros de entrada da exposição.....

O que é que os Contrabaixos têm contra os baixos?


Este cavaleiro devia ser baixo
e vai daí toca de lhe dar contra o contrabaixo
Não deve ser um salvador daqui...

15/05/2007

Concerto para bombardino, campanula, campainha e relógio despertador

Fui almoçar com o Fernando e para sobremesa gravámos um clip. Não saiu lá muito bem mas tínhamos decidido que não perdíamos mais do que 10 minutos com a brincadeira.
Foi o que se arranjou...


Noite dos Museus

Museu de Arqueologia (Mosteiro dos Gerónimos)
19 de Maio 21:30h
Habitar o Espaço
Desenho digital em tempo real: António Jorge Gonçalves
Música ao vivo: Fernando Mota

Noite dos Museus


(Fazer clique na imagem para melhorar a legibilidade)

14/05/2007

MONSTRA

FESTIVAL DE ANIMAÇÃO DE LISBOA
21 a 27 Maio
www.monstrafestival.com


Fernando Mota
23 Maio 4ª Feira 21h00 Teatro Maria Matos
Concerto de música ao vivo acompanha filme de animação:
Motion Painting N.1 de Oskar Fishinger
Música original de Fernando Mota

O Fim do Limbo


Notícia de última hora: O Limbo não existe!
"A Igreja Católica eliminou o Limbo, onde a tradição católica colocava as crianças que morriam sem receber o baptismo, considerando que aquele reflectia uma visão excessivamente restritiva da salvação" (Jornal Público).
Estou desolado....
Desde que estou em Portugal, a minha fé na existência do Limbo tem aumentado lenta mas progressivamente, de tal maneira que julgava poder afirmar que estou agora permanentemente no Limbo, é o meu sítio preferido!
Para onde vou agora!? Para o Purgatório, ou logo para o Inferno?
Meu Deus, este Papa complica-me muito a vida!

Manuel João Gomes


Pegando no comentário do colega Rui ao meu "post maldizente" de ontem: "a questão da critica de arte dava pano para mangas", acho que é apropriado começar com uma homenagem ao crítico e tradutor Manuel João Gomes, falecido no ínicio deste ano.
Além de ser crítico, foi um homem muito empenhado na divulgação do teatro. Encontrei-o só uma vez, foi no camarim do Teatro da Taborda na estreia do espectáculo "O Sorriso" da Companhia do Chapitô, ele chamou-me "palhaço", considerei isto um elogio vindo da boca dele....
"De poucas falas, sempre fugídio, tinha um sorriso trespassado por um semblante levemente irónico, era um homem que tinha uma saudável e coerente aversão aos mecanismos do poder", (homenagem no blogue http://respiraromesmoar.blogspot.com/search/label/Teatro , post de 13 Fevereiro 2007).
Atitude também reflectida no seu trabalho para a irreverente editora Antigone: traduções de obras de Henry David Thoreau, Étienne de la Boétie, Marquês de Sade, etc.

13/05/2007

Será que ainda vou gostar dela!?


(transcrição parcial da página www.esquerda.net/ de 11 de Maio):
A Plataforma dos Intermitentes das Artes do Espectáculo e do Audiovisual manifestou fortes reservas em relação à proposta de lei do governo sobre o regime dos trabalhadores das artes e espectáculos e do audiovisual, aprovada ontem na generalidade. .....
Segundo Bruno Cabral, da Plataforma, a proposta demonstra uma incompreensão do que são realmente intermitentes. .....
"O Governo parte do princípio que o intermitente é um profissional sempre ligado à mesma estrutura, que tem momentos mortos no seu trabalho. Por exemplo, um músico de uma orquestra que tem ensaios, concertos, mas depois passa por algum tempo morto". Mas estes trabalhadores normalmente têm contrato, não são intermitentes. "Os verdadeiros intermitentes são aqueles que trabalham hoje para uma estrutura e amanhã para outra, o que é normal nas actividades artísticas e faz parte da diversidade normal neste tipo de manifestações.".....
Bruno Cabral aponta ainda um segundo problema: o projecto só leva em consideração os interpretes e não os técnicos intermitentes.
A Plataforma vai acompanhar o percurso na Assembleia da República da petição que entregou no dia 23 de Abril, e também o debate na especialidade da proposta e dos projectos de lei, procurando esclarecer os principais pontos em debate. Na opinião de Bruno Cabral, quem fez a proposta de lei do governo demonstrou um grande desconhecimento da realidade dos profissionais das artes, espectáculos e audiovisual.
E quem fez a proposta? A Ministra da Cultura.
Ergo, resposta à pergunta no título: não, para já ainda não vou gostar dela....
Vários depoimentos de profissionais intermitentes em relação à esta materia no site: http://www.aipcinema.com/lista_areas.php?IdArea=17

A Bela Arte de Dizer Mal


O escritor, poeta, cantor e músico Boris Vian tinha uma opinião clara sobre o que devia fazer um crítico de arte:
1. dizer qual é a obra de arte que viu, ouviu ou leu (não sei se ele também considerou obras de arte cognoscíveis pelos sentidos tacto, olfacto e paladar....);
2. fazer um pequeno resumo do que ele próprio (o crítico) fez na vida até agora e quais são os seus planos para o futuro imediato;
3. exprimir a sua opinião sobre a obra: "achei boa ou má".
E mais nada.
Extraordinário!
Lembrei-me disto quando li nesta semana duas críticas sobre a peça "Longas Férias com Oliveira Salazar": no "Diário de Notícias" do dia 8 de Maio por Miguel Pedro Quadrio, no "Público" do dia 11 de Maio por Rui Pina Coelho, ambos os textos disponíveis on-line.
Estes senhores são Críticos de Teatro, Professores na Universidade ou Escola Superior de Teatro e Cinema ou Membros de Comissões de Atribuição de Subsídios do Ministério da Cultura. Não sei quais são os planos deles para o futuro próximo, mas devem estar muito bem na vida como estão, por isso o mais provável é o "Statu Quo" (está-se bem, deixa estar como está).
Os dois senhores não gostaram da peça, em contrapartida, público e actores têm-se divertido imenso a vê-la e fazê-la.
Pior ainda, ambos os Senhores Professores (!) não sabem ler o programa: um menciona como cenógrafo José Manuel Castanheira em vez do encenador/cenógrafo José Carretas, o outro vê em cena Marcelo Caetano em vez de Humberto Delgado....
Sabe-me bem dizer um bocadinho mal destes críticos maldizentes, agora só falta uma qualificação final, veja imagem...

10/05/2007

Começo a ver o público com outros olhos


Lá vou eu outra vez para Espanha. Este ano já passei mais tempo lá do que cá. Não sei porque é que nuestros hermanos gostaram tanto deste “El Gran Creador” mas ando a fazer uma média de 8 espectáculos por mês e já perdi a conta aos quilómetros.
Fazer de Deus é bom mas tanto cansa.


09/05/2007

Dieta Musical



Na sequência do post anterior proponho um desafio que representa o primeiro passo para uma dieta musical equilibrada:

Tomar consciência da quantidade de música que consumimos diariamente de forma voluntária ou involuntária, bem como a qualidade da escuta, do objecto musical e da atenção que lhe prestamos.

Conselhos:

Mastigar bem a música, não ouvir música em excesso, ter cuidado com os decibéis, evitar a compressão de baixa qualidade e a utilização de headphones. Sempre que possível ouvir música ao vivo e acústica e quem quiser que acrescente mais nos comentários.

04/05/2007

Poluição Musical

As "intoxicações musicais" são um problema de saúde pública cada vez mais frequente, e que se alastra às zonas rurais.
Porque é que eu hei de ser obrigado a consumir música quando vou ao super mercado, a um restaurante ou ando de transportes públicos?
Devia existir legislação que erradicasse a poluição musical dos espaços públicos, pois a quantidade de música má que invade estes espaços é um autêntico atentado aos direitos, liberdades e garantias do cidadão. E é possível forçar a assembleia a legislar, à semelhança de outros países.

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Sei que já existe uma associação na Holanda que anda a trabalhar no sentido de apresentar uma proposta de lei ao Parlamento Europeu mas ainda não a consegui descobrir. Gostava de me associar também.

...e o Porto aqui tão perto.


Teatro Nacional S. João. 400 pessoas. O Porto é uma naçon.
Até Domingo, Por Detrás dos Montes no Porto.
Muitos quilómetros. Sempre bem recebidos.
Gostamos de cá estar?

03/05/2007

Turtle Island String Quartet

Há uns anos deram-me a conhecer os Turtle Island String Quartet apresentando-os como uma evolução do Kronos Quartet.
Não tem nada a ver a meu ver.
A qualidade é igualmente elevada mas o repertório, a capacidade de improvisação e a multiplicidade de linguagens, são incomparáveis.
Ao vivo sei que são fantásticos.


Este é um clip que encontrei no youtube do DVD "Swinging Bach" do Bobby McFerrin incerido no "24 hours bach"

Um nome a decorar o destas tartarugas.