Lamento furar esta greve mas não a sinto como minha.
Embora concorde com as reivindicações que a suportam, sinto que eu (e a maior parte dos que nos rodeiam) pertenço a outras batalhas. As batalhas dos que não têm direito a subsídio de desemprego nem a baixa remunerada, dos que descontando ou não para a segurança social não têm senão a segurança que possam pagar, a outros, privados, e portanto, tão solidários quanto aqueles que hoje viram o seu dia de greve pago por todos nós.
Contra a greve? Não. Antes contra esta divisão equívoca de estatutos e de deves e haveres que criam a ilusão de que Portugal é um estado democrático moderno e solidário com milhares ou milhões de profissionais independentes ou liberais (expressão macrocéfala… serve para tudo) que podem pagar a sua segurança social ao privado e ainda contribuir solidariamente para a dos outros no público. Maravilhosa república plena de médicos, arquitectos e advogados com os seus prósperos consultórios, ateliers e escritórios a somar lucro enquanto se banham nas águas quentes do Pacífico. Deve ser esta a imagem que o governo tem de todos nós, de recibo verde em riste e tão pouco solidários para com os mais carenciados.
Quanto ao discurso deste e dos outros governos acerca da produtividade, da inovação, da competitividade, do PIB, das taxas e dos dividendos, já sabemos a cantiga de cor. Já a cantavam aos nossos pais. Somos nós que pagamos porque a culpa é nossa. Agora como antes. Já nascemos culpados. Uma espécie de pecado fiscal original.
9 comentários:
não precisas de gritar que a malta não é surda. sabes bem como sou sensível aos sons muito altos e a tons agressivos ou irados.
Tens de ter mais cuidado com este teu velho amigo.
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No entanto esta tua manifestação faz-me lembrar o meu recente post "Reinterpretando Brecht".
http://anacruses.blogspot.com/2007/05/reinterpretando-brecht.html
As batalhas fazem todas parte da mesma guerra e deviam ser de todos.
Ah pois é, bébé...
Lembremo-nos todos disso na próxima reunião dos intermitentes...
p.s.: este comentário deverá ser lido à intensidade máxima de 5 db utilizando apenas os primeiros 3 harmónicos da série. adagio. rubato.
bébé? ainda se fosse bebe...
Eu prometo que faço um post a alertar os funcionários públicos para a questão dos intermitentes na próxima reunião. Se houver... a avaliar pela união e pela capacidade de organização...
Caro Fernando,
Gostei muito deste post teu apesar dos decibéis gráficos.
Afinal também tens a tua veia "Brechtiana", parece-me.
Eu não tenho direito a baixa remunerada, nem a subsídio de desemprego (e se tivesse não dava para nada). Tenho que pagar a segurança social ao estado, não tenho dinheiro para pagar ao privado (também não me interessa).
Por favor, veja o meu comentário ao teu post (muito a propósito) do dia 14 de Fevereiro, sobre os intermitentes. Acho que as reivindicações dos intermitentes também têm o seu lugar nesta greve!
P.S. Quem é o "fumando mata"? Estou a ficar um bocado farto destes comentários (semi-)anónimos... Identifique-se, por favor, para comunicarnos ou cala-se para sempre...
fumando mata é a alcunha do Fernando Mota na gíria dos meus filhos.
Rini,
Em relação à tua relação (ou ralação) com a Segurança Social, seria interessante expores mais informação, pois é deveras singular a forma como resolveste/adaptaste a situação. Eu simplesmente não pago, nunca paguei e espero nunca ter de pagar uma Segurança Social que não me protege em caso de doença ou desemprego. Seriam 150€ de pura solidariedade e eu não ganho para dar esmolas tão avultadas.
P.S.:Sim, "Fumando Mata" é a deliciosa alcunha que os filhos do Rui arranjaram para mim, a melhor que alguma vez tive. Mais um Verão na sua companhia e terei mesmo de deixar de fumar...
Auténticos sábios, estes filhos!
pois é. foram bem ensinados...
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