09/01/2009

Últimos Dias Imaculados


Acaba já este fim-de-semana a temporada de "Imaculados" no Teatro Aberto. Dea Loher, a autora, virá assistir ao último espectáculo (dia 11) e estará disponivel depois para uma sessão aberta.

Como prometido, aqui fica parte do texto que escrevi para o programa:

"Escrever sobre música é como dançar sobre arquitectura" (John Cage)

E eu acrescentaria que o silêncio é onde se edifica o som. Diria mesmo: "In principium erat silentium". E é na escuta do silêncio que encontramos o som que nos harmoniza e afina com os demais.

     Impressões sobre o texto

Depois do século que matou Deus e as Ideologias utópicas fica-nos o quê?

Já ninguém acredita que pode mudar o mundo e o que fica é o vazio da existência sem  uma razão. As ideologias e as instituições desmoronaram proporcionando-nos um espelho para nos observarmos, e com isso podermos mudar e evoluir. Mas já estávamos demasiado cegos para aprendermos com esse reflexo. Já não era credível. Os olhos com que observamos o mundo são cada vez menos nossos e a virtualidade do que vemos distancia-nos cada vez mais da condição humana. Lutar por alguma coisa ou contra ela são dois lados de uma mesma moeda que já não tem  valor. Sem fé e sem esperança torna-se difícil não se estar perante o abismo.

Será que só nos resta escolher entre a cegueira e o desespero?

Penso que a saída está numa entrada. Uma entrada em nós próprios. Local onde é realmente possível transformar e melhorar. Local onde ainda se pode encontrar tudo aquilo que não se encontra fora.

Se o mundo é o reflexo de nós próprios, só o transformamos se nos transformarmos primeiro.

E é aqui que entra o silêncio. É aqui que começa tudo...

6 comentários:

Tinta Azul disse...

Depois de ter gostado de ler
saio, devagarinho, silenciosamente.

:)

Silvares disse...

Sssshhhhhhhh... shh.
O espelho está embaciado de reflectir tanta realidade.

Fernando Vasconcelos disse...

Bem, vou tentar ir amanhã. Estava a pensar ir à Gulbenkian mas se calhar vou mudar de planos.

Rini Luyks disse...

Foi interessante o encontro com Dea Loher depois do último espectáculo. Ela falou-nos nomeadamente sobre as diversas versões da peça nos quase vinte países onde já foi levada à cena. Encenadores diferentes, sociedades diferentes.
A adaptação mais depressiva e apocalíptica foi na opinião da autora feita em Vilnius (Lituânia), onde o humor (negro) desapareceu completamente, a peça acabou lá com o palco cheio de cadáveres, espelho de uma sociedade triste sem esperança.
Até em Gana (África) a peça já foi encenada, disse Dea Loher, só que ela não sabia como ficou lá resolvida a questão dos imigrantes clandestinos sub-saarianos...

Amanhã, terça 13 às 18.30 h há mesa redonda no Goethe Institut em Lisboa (Campo Mártires da Pátria) com leitura de cenas das peças "Inocência" e "Tatuagem" de Dea Loher, nas traduções de José Maria Vieira Mendes, pelos Artistas Unidos.
Info na página do Instituto: http://www.goethe.de/ins/pt/lis/ptindex.htm

Anónimo disse...

Nem mais Rui,

andamos mesmo cegos. a realidade é cada vez mais virtualidade e o conhecimento daquilo que somos é-nos impingido por valores impostos, por verdades fabricadas em que acreditamos piamente.

Abrir os olhos para a realidade, implica fechá-los à virtualidade e à informação que nos querem impôr.

Mas é dificil. fácilmente somos adormecidos a sonhamos que estamos conscientes...

Anónimo disse...

Gostei muito do vosso trabalho. Foi o que mais gostei no espectáculo.

Parabéns.