Na segunda feira passada vi na RTP o programa "Prós e Contras" sobre o tema "Os novos escravos do trabalho". Uma parte importante da emissão foi dedicada a algumas situações delicadas de trabalhadores portugueses na Holanda. Muitos esperam encontrar lá um paraíso, mas vêem-se explorados da pior maneira.
Um dos convidados no programa foi o escritor J. Rentes de Carvalho, um transmontano que vive há mais de 50 anos na Holanda. Um facto muito curioso: este homem já vendeu lá muitas centenas de milhares de livros (escritos originalmente em português e todos imediatamente traduzidos!), mas tem ao mesmo tempo um público muito restrito em Portugal.
Nos anos '80 li dois livros dele que contribuiram muito para despertar a minha curiosidade em relação a Portugal: "Waar die andere God woont" (título original: "Com os holandeses"), um retrato bastante cáustico dos holandeses e dos seus costumes que subscrevo e "Portugal, de bloem en de sikkel" (título original: "Portugal, a flor e a foice"), escrito logo depois da Revolução do 25 de Abril. Há muita coisa a dizer sobre este homem com um percurso biográfico bastante invulgar, veja p. ex. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/rentes.htm
Aqui um pequeno exerto de uma entrevista com ele na Holanda.
Pergunta: "Vivendo há tantos anos na Holanda deve conhecer profundamente a idiossincrasia da sociedade holandesa. Que caracteristicas dessa sociedade fariam falta a Portugal? E da sociedade portuguesa, há alguma característica que faria falta à Holanda?"
Resposta: "Dos holandeses bem nos falta o afinco ao trabalho e ao estúdo a sério, a consciência social, a disciplina, a pontualidade.
Para a Holanda poderíamos certamente exportar aquela nossa forma de carinho que, mesmo quando não é sincera, sempre dá um certo conforto à alma. E poderíamos ensinar os holandeses a comer. Há aqui excelentes restaurantes, mas a culinária doméstica é de fugir dela a sete pés. Um pouquinho do nosso "deixa lá" também compensaria a rigidez calvinista."
Eu não posso concordar mais!
No início deste ano, aos 77 anos, este homem abriu o seu website e blogue pessoal "Tempo Contado", http://www.tempocontado.blogspot.com/ .
Depois do programa da RTP resolvi deixar um comentário neste blogue, mas cometi o lapso imperdoável de interpretar o inicial "J." como "Joaquim". Desenvolveu-se um pequeno tertúlio a três (entrou também a visitante do nosso blogue "Maria Velho"), onde sai uma pistola da gaveta, onde se trocam nomes e sexos e onde se fala também do Purgatório e do Limbo....
Ver o post "Mauser 6,35" do dia 12 de Junho.
4 comentários:
Caro Amigo quase Português:
Obrigada pela menção à minha pessoa! Num blog como este , tão bem estruturado e com tanto carácter só me resta uma(s) palavra(s) para dizer: Bem haja!
ps: O JRentes de Carvalho é fenomenal, não é? Além de ter um sentido de humor apuradíssimo é um Senhor!
Vou tomar a liberdade de "linkar" o Anacruses. Para mim é uma honra, espero que para Vocês não seja uma mácula...
bem vinda cara Maria Velho.
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Rini,
também nao conhecia esse senhor. fantástico.
Estou por Espanha un dias e o Fernando na Grécia. A "casa" fica só ao teu cuidado.
abraço
Cara Maria Velho,
Então a minha menção à sua pessoa como "a nossa visitante" (fazendo confusão com outra "Maria", neste país ninguém pode levar isso a mal e de resto, já sabe que tenho um problema com nomes em geral...) foi antes do tempo mas previdente, digamos. As suas "Ervilhas" também já estão nas nossas harmonias.
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