07/01/2007

Quem tem ética passa fome


Foi esta curta frase que proporcionou a imortalidade mediática a Teresa Guilherme, produtora e importadora de Telelixo (em grande parte proveniente da minha Holanda, tenho de admiti-lo com vergonha na cara, emigrar para Portugal pelos vistos também não resolve, o lixo vem atrás...). A frase vinha numa entrevista no suplemento dominical "Pública", algures no início de 2001. Em plena euforia sobre o êxito do Big Brother ela fez mais umas revelações que merecem ser lembradas, do género: "A minha mãe disse sempre: "Ó filha, não és muito bonita, mas pelo menos dás nas vistas". Ou esta: Pergunta:"Qual será o próximo passo (depois do Big Brother)? A morte em directo!?" Resposta: "Porque não!? Se houver mercado....".
Claro, porque não? Toda a gente feliz: espectáculo na TV com as audiências a subir, moribundo em paz com a despedida dourada do Endemol, já para não falar dos herdeiros!
Passaram seis anos e achei graça à actualização pela Contra Informação,
Tristesa Guilherme (voz) com Francisco Bolsa na Mão (maracas):
"Não valho nada, mas tenho, tenho tudo,
TV foleira é aquilo que produzo,
Mas não m'importa, ganho muito dinheiro
P'ra comprar amigos, estrelas, o amor verdadeiro!"
A ver no blogue "Salvoerro" de Filipe Homem Fonseca, post de 20 de Dezembro 2006:


20 comentários:

Anónimo disse...

Caro rini,

penso que a Teresa Guilherme não importou nada da Holanda.
A Endemol é holandesa mas não tem nada a ver com a Teresa Guilherme, teve apenas no big brother. As floribellas e companhia são formatos argentinos.
Mas aqui em casa é um ganha pão.

Anónimo disse...

ganha pão com ética, entenda-se.
ou seja, não é um ganha lagosta. Pois essa questão de passar fome é relativa - depende que comida ingerimos para matar a fome.

Anónimo disse...

Bom... eu percebo este comentário e o que me parece fundamental aqui discutir é o facto de pessoas com qualidades reconhecidas terem de recorrer a este tipo de formatos porque é o único que se vende realmente neste país.
Realmente... se o mercado é este, então importa perceber o que é necessário fazer para educar as audiências e melhorar o nível de exigência de quem vê. Se o nível de exigência em relação a tudo o que não seja material e de satisfação imediata é tão pequeno, como poderia não ser em relação à cultura e ao alimento do espírito? O conhecimento está pelas horas da morte e arrasta com ele qualquer necessidade de bons conteúdos em tudo (a começar pelas escolas e seus manuais).
Horas e horas a fio poder-se-iam gastar com isto (na realidade até já foram gastas) mas os resultados seriam, infelizmente, sempre pobres porque o que domina é a lógica da facturação.

Anónimo disse...

Parece-me que era neste sentido que o Palhaço do Xadrês se dirigia. Não se questiona a ética de quem trabalha para viver, nem de quem produz... deve-se questionar o que aconteceu para que o mercado das mortes em directo (falemos da execução do Saddam) possa vir a conquistar um lugar na televisão nacional e para que a oferta presente seja tão pobre.

Rui Rebelo disse...

Isto tem a ver com o post que eu fiz sobre "arte e entretenimento" e que se discutiu muito fora deste blogue. O ponto mais dramático é a sociedade de consumo sem regras e a lei do rentável.
Não há volta a dar. Ou mudamos radicalmente a nossa forma de estar na sociedade e na vida ou inevitávelmente estamos dentro do sistema com poucas hipóteses de uma real liberdade de pensamento. O que fazemos aqui simboliza isso. Criticamos aspectos da sociedade com as ferramentos e os mecanismos que essa mesma sociedade nos dá. Não somos originais no pensamento pois ele, concordadnte ou discordante, está sempre ligado ao sistema, matriz da humanidade moderna, que nos mata a capacidade de agir limitando-nos a reagir.
A era do virtual já é aqui e agora e a distância da Natureza e de nós próprios começa a ser perigosamente incontrolável, esperemos não ter de esperar por catastrofes naturais a nivel planetário para mudar as mentalidades padronizadas na matriz do consumo.

Anónimo disse...

caro PX,

tens de me explicar esta parte:

"(...)moribundo em paz com a despedida dourada do Endemol, já para não falar dos herdeiros!"

saudações

Anónimo disse...

Bem, a primeira "irreverência" do Palhaço foi logo a valer, pelos vistos. Estive durante as últimas 24 horas ausente deste blogue, mas obviamente sinto me obrigado a reagir aos comentários.
Rui (16:31 e 18:59), podes ter razão em relação às ligações contratuais efectivas (ou não) da Produtora Teresa Guilherme, mas eu estava a referir-me à globalização do Telelixo em geral e continuo a sentir-me envergonhado do facto de a Holanda ter um papel de pioneiro neste negócio. Em relação à frase sobre a ética não tenho dúvida que a Teresa Guilherme estava a falar a sério, é a sociedade do espectáculo a tentar assumir o poder de uma maneira agressiva a sair de todos os poros...(lembro-me por exemplo as entrevistas no tal "Confessionário" da Casa Big Brother, o que interessava mais eram as "vias de facto" de todo o género entre os candidatos).
Concordo com o que diz a Rita (21:08 e 21:14): não se questiona a ética de quem trabalha para viver, do outro lado acho demasiado fácil quando os produtores rejeitam responsabilidades com o argumento: é isto o que há e dá, é isto que as pessoas querem ver. Os produtores também deviam ter um papel na educação das audiências.
O caso da execução do Saddam é paradigmático: todos criticam o video, mas também todos os jornais televisivos transmitem, a palavra contenção já não faz parte do vocabulário, parece...
O comentário do Rui (23:19) faz-me lembrar o livro "One-Dimensional Man" (Herbert Marcuse), nos anos setenta literatura obrigatória nos colégios de filosofia (http://www.marxists.org/reference/archive/marcuse/works/one-dimensional-man/index.htm ), ou seja o sistema/a sociedade a prever, tolerar e neutralizar toda a crítica individual. A questão é: ficamos conformados ou não? Esperança ou desespero?
Neste sentido, Rui (0:50), a minha extrapolação macabra (e desesperada) sobre "a morte em directo", o fim da dignidade, quando até esta última fronteira se transforma numa fonte de lucro. Já deduzi de reacções anteriores que o humor negro nórdico (bastante corrosivo) nem sempre cai bem em clima latino, vou estar atento à isto...

Anónimo disse...

Pergunta: quem são os pombinhos na pequena fotografia no início deste post!?
Resposta amanhã.

Anónimo disse...

o teu humor negro nórdico (bastante corrosivo)cai sempre muito bem. Nem sempre este latino, que oscila entre paradigmático e lunático, entende logo à primeira.

Fernando Mota disse...

Porque é que audiências precisam de ser educadas? E seriam educadas por quem e ao gosto de quem? E qual é o nível de exigência adequado para produtos de entretenimento deste tipo? E será que os pobres não precisam de ética? Ou será que a sua necessidade é medida pela quantidade de zeros na folha de pagamento?

Muito bem. Estamos todos (os 4?) de acordo em relação à mediocridade dos produtos referidos no post do nosso amigo holandês (vivam as bicicletas, os queijos, as loiras bonitas e o Rychsmuseum! Não é assim que se escreve, pois não, Rini?). Temos a mesma opinião sobre as inutilidades que abundam o nosso panorama de entretenimento televisivo. E até podemos ter os mesmos sonhos de um país onde os camionistas leiam José Luís Peixoto, as empregadas de limpeza ouçam as suites para violoncelo do Sebastião e os caixas de hipermercado vão ver espectáculos de dança contemporânea, para não falar dos advogados, dos arquitectos e dos políticos, nem da nossa iletrada população universitária.

No entanto, não entendo esta tendência para diabolizar os produtores destas coisas quando eles têm alguma razão quando dizem que isto é o que as massas querem (carbonara, alguém?). De facto é isto que muito boa gente quer ver e é só para isto e para muito pouco mais que muitas delas estão preparadas ao nível cognitivo e sensível. E a ideia de que se lhes fosse dada uma alternativa a canção seria outra vai sendo cada vez mais contrariada pela grande percentagem de lares portugueses com acesso à Internet e a mais de quarenta canais de televisão, bem como pelo crescimento de uma programação cultural de qualidade e variedade em várias cidades do país (e não falo de Lisboa, ver o caso de Guimarães, Vila Real, entre outras, agora acompanhadas por Braga).

Alternativas? Os portugueses sempre foram especialistas em encontrar alternativas. Falta-nos riqueza? Vamos buscá-la a África e às Índias. Isto está mau? Vamos para França. Falta-nos força? Fazemos sopas de cavalo cansado! Povo mais flexível seria difícil encontrar. Se realmente quisesse já há muito que teria começado a comprar discos da Maria João Pires em vez de apenas ouvir falar dela no telejornal quando a mesma diz que vai para o Brasil por falta de apoios do estado português.

Educá-las? Vamos é ensiná-las a pescar o seu peixe e talvez um dia todos possamos ganhar o pão da forma que queremos. Com ética. E já agora, com qual?

Anónimo disse...

Não creio que este problema se resuma aos portugueses. Encontro mais mediocridade televisiva em países ricos e desnvolvidos. O lixo é muito maior. Mas como importamos alguma boa cultura de lá, achamos sempre que eles é que sabem, eles é que são cultos e ricos.
O problema não é haver muito lixo mas sim não haver quase alternativa(e embora especialistas os pts não são milagreiros). Se só nos derem McDonalds é natural que as nossas papilas gustativas atrofiem. O mesmo se passa com todas as outras coisas que consumimos. Ou acham que o Dr House é muito melhor que a floribella. Não é. A merda é a mesma para um público diferente. Faz-nos é sentir mais inteligentes quando no fundo somos é mais estupidos em pensar assim.
Se discutimos o lixo televisivo é porque temos televisão em casa e a ligamos, sentados no sofá, aquirindo assim o comportamento que vimos aqui criticar.
Portanto, quem nunca estupidificou em freante a uma televisão que atire a primeira pedra.

A era das ideologias acabou. Toda a gente sabe que ninguém vai mudar o mundo. O bom disto é que começa a haver muita gente que sabe que se consegue mudar a si próprio...

Anónimo disse...

Pois, caro Fernando, concordo que a expressão "educar as audiências" soa bastante pretenciosa e até condescendente. Mais correcto seria: "oferecer uma possibilidade de escolha entre programas de melhor qualidade". Séries televisivas recentes como "A Ferreirinha", "João Semana", "Até amanhã camaradas" ou "Bocage" conquistaram audiências significativas e têm para mim um valor educativo, ensinam-me alguma coisa sobre a história deste país de uma maneira bastante atractiva. Mas é verdade: EU tenho que optar por ver estes programas em vez de uma novela qualquer...

P.S. Em Holandês escreve-se "Rijksmuseum", caro Fernando, desta vez COM pontinhos então (daí a minha relutância, caro Rui, em assinar os meus "posts" neste blogue com o meu nome completo Rini Luyks, SEM pontinhos no y, realmente isto não é fácil para vocês, Portugueses sem y nem k...)
Em relação às "loiras bonitas": isto pode ser uma surpresa, mas estas não me fazem falta nenhuma em Portugal. Pelo contrário, existe uma expressão popular muito generalizada na Holanda: "daar heb je weer zo'n dom blondje" ("olha, outra loirinha estúpida") e como se sabe, os ditados oriundos da sabedoria do povo sempre têm um fundo de verdade. Para não ser acusado de misoginia posso acrescentar que a população feminina na Holanda nutre sentimentos semelhantes pela excessiva população de loiros masculinos, o que pode ser uma explicação para a emigração de alguns deles (eu e Piet "Endemol" Hein, por exemplo) para terras lusas, onde temos um acolhimento mais caloroso.

Anónimo disse...

Solução da pergunta (3:38):
Falabella e Foleirabella

Anónimo disse...

Todos os intervenientes neste post são convidados a se dirigirem ao "Consultório Musical" (post 31-12-2006), onde receberão uma prescrição não solicitada (e por isso gratuita) com efeitos imediatos bastante benéficos.

Anónimo disse...

Caro Rini Luÿks,

Mas porque é que haverias de assinar Rini Luÿks sem o ¨ no ÿ? Hï Hï.

No que respeita a mulheres, eu gosto de todas as cores de cabelo, talvez exceptuando alguns azuis e metalizados. Em matéria de piercings também tenho algumas reservas, especialmente quando possa envolver certos vocábulos em latim. Mas enfim, no geral concordo contigo, vivam as latinas!

RR,
Nunca disse que este problema se resumia ao povo lusitano. Infelizmente para os outros.

Quanto ao Dr. House, tocaste numa série da qual gosto bastante e que considero paradigmática (no meu caso) pois é das pouquíssimas séries que me interessaram sem ter qualquer valor educativo, pretensão a ser uma proposta estética ou artística, ou seja, não é mais do que um produto de entretenimento televisivo. E no entanto, bons actores, bons diálogos, boa realização e técnica. E um plot interessante. Não é nenhum "The Office" nem nenhum "Sete Palmos abaixo da terra" mas é por isso mesmo que eu a considero um paradigma do puro entretenimento televisivo. De qualidade. Quanto a ser a mesma merda que a Florinéscia talvez me queiras apontar uma área em que a dita seja apenas um pouco melhor que mediocre. E o marketing não conta, p.f.

Rui Rebelo disse...

Observa bem o Dr. House com olho clínico, take a take.
E depois falamos. É o que dá a falta de alternativas.

Eu também gosto mas já desmontei porquê. mais fundo do que a simples explicação subcutânea satisfatória.

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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