03/01/2007

Projecto Tao

A necessidade de ganhar

Chuang Tse (sec. IV a.C.)

Quando um arqueiro faz tiro ao alvo,
sem nenhum objectivo,
emprega toda a sua perícia.
Mas se o objectivo é ganhar um prémio qualquer,
nem que seja uma taça sem valor,
fica nervoso.
E se o prémio é de ouro,
então fica meio cego ou vê dois alvos:
Fica fora de si !

A sua perícia não mudou.
Mas o prémio divide-o. Preocupa-se.
Pensa mais em ganhar do que em atirar.
E a necessidade de ganhar
impede-o de usar toda a sua perícia.

4 comentários:

Anónimo disse...

caríssimo Rui,

não me atreveria a fazer um comentário no post anterior. É um prazer visitar o teu espaço. Sou um fã assiduo mas ainda não tive a calma necessária para espreitar o vosso consultório musical com o tempo que merece.

Esta da necessidade de ganhar parece que veio de propósito para mim... precisamente hoje...


um grande abraço

Rui Rebelo disse...

bem vindo meu caro Gabriel,

Welcome!

Vai passando por cá e deixando a tua lavra.

abraço

Anónimo disse...

"Mas há momentos, nunca o pensaste?, há momentos em que tudo se nos abisma até à fadiga. O desânimo sem fundo. A vertigem para lá de qualquer significação. Nós somos o artifício de nós. Mas é aí que construímos a legitimação de se existir. Somos duplos do que somos e por baixo da camada que nos torna plausíveis há uma outra realidade que revela o plausível em ficção. O que somos não é. O que somos é o que resta depois de tudo se dissipar. O falso de nós é que é verdadeiro. Ou ao contrário, não sei."

Vergílio Ferreira

Rui Rebelo disse...

Caro anonymous,

Obrigado pela citação. A diferença entre o pensamento de Vergilio Ferreira e um qualquer de Chuang Tse, é que o primeiro parece deliciar-se com o eterno impasse da filosofia do ser (é um estado propicio à poesia e ao sofrimento) e o segundo parece desejar mesmo o encontro do seu Ser, pondo em prática acções que encaminham para um processo de conhecimento baseado na simplicidade e no casamento perfeito com a Natureza.

O Português é profundo e poeta por natureza, utiliza muitas palavras para dizer pouca coisa e é espelhado pelo fado e pela saudade.
Eu gosto deste lado "artístico" de existir como se cada palavra tivesse um choro e cada choro uma canção e cada canção um belo poema.
Mas, como dizia Fernando Pessoa, "quando tentei arrancar a última (máscara) ela estava colada à minha cara". Ou seja, num processo de auto conhecimento e dissipação das máscaras, os autores portugueses não são a melhor ajuda. A densidade não ajuda à simplicidade.

saudações anacrusicas.