12/05/2010

Os anjos de Manoel de Oliveira



Como era de esperar os veneráveis vultos da cultura e ciência portuguesa acorreram em massa para prestar vassalagem ao Papa Ratzi no encontro hoje de manhã no CCB.
Ao Manoel de Oliveira coube a honra de proferir um discurso como representante da confraria.
Quanto ao conteúdo do discurso: o caro leitor julgue por si.
Eu reparei sobretudo na passagem (no vídeo entre 2:20 e 4:20) em que o cineasta mencionou o facto de ter "inserido" um anjo em dois das suas obras: "O Acto da Primavera" (1962), baseado num auto popular do século XVI de Francisco Vaz de Guimarães (neste caso o anjo já existia no texto original) e "Cristóvão Colombo - O Enigma" (2007), um filme com um anjo da guarda, "inventado" por Manoel de Oliveira.
Enquanto "O Acto" é geralmente apreciado como uma "obra marcante no cinema etnográfico e na antropologia visual" ( http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Acto_da_Primavera ), também é consensual a opinião que "O Enigma" é um dos piores filmes de sempre do cinema contemporâneo europeu...
Aos 101 anos de idade, é compreensível que Manoel de Oliveira comece a tratar do seu mais do que merecido lugar no Paraíso. Na presença do Papa Ratzi ele deve ter pensado: "Dois anjos valem mais do que um só anjo!" Mas neste caso acho que pensou mal: o anjo d' "O Acto da Primavera" era suficiente.
Além disso, duvido que Papa Ratzi seja o interlocutor indicado para meter uma cunha lá no Além...

2 comentários:

Rui Mota disse...

O Manoel de Oliveira, a quem invejo a saudável longevidade e desejo muitos anos de vida, há muito tempo que deixou de ser um cineasta inovador e interessante. Sempre foi um beato, não-assumido, às voltas com os seus temores e puritanismos de quem foi criado numa sociedade castradora e repressiva como a Salazarista. No entanto, fez alguns óptimos filmes (no período anterior aos anos oitenta, quando se tornou um cineasta do regime). Desse período deve destacar-se o "Acto da Primavera", sem dúvida um marco do cinema etnológico/antropológico em Portugal. O "anjo", nesse filme, é um achado e os momentos de humor são geniais, até pela sua inocência. Actualmente, Oliveira tornou-se um "chato", que só continua a filmar porque o estado português o subsidia sem qualquer critério para além da ignorância e saloice nacional. Uma tristeza.

Rini Luyks disse...

Realmente, aquela genuflexão que ele fez aos 101 anos: é de atleta!