13/07/2007

Os Sete Pecados Mortais: A Soberba



Nos comentários ao meu post "O Fim do Limbo" de 14 de Maio alguns leitores manifestaram a sua preocupação, por um lado com o desaparecimento deste "subterfúgio para coisas que não são nem assim nem assado", por outro lado com o seu próprio futuro Bem-Estar no Além. Falou-se um pouco sobre as nossas hipóteses de entrar no Paraíso, levando em consideração as exigências da Igreja. Pessoalmente exprimi as minhas dúvidas, tocando no delicado assunto dos Sete Pecados Mortais: "Cada um fala por si, mas no meu caso cheguei à conclusão que se calhar será melhor tentar criar um pequeno Céu para mim no Agora e Aqui, pois com as condições impostas pela Igreja não tenho a minima hipótese".
Agora deu-se o caso seguinte. Ontem o incansável presidente do meu clube de xadrez, o Sr. Amadeu, telefonou para me dar os parabéns: a Federação Portuguesa de Xadrez acabou de me atribuir o título de Mestre Nacional de Xadrez. (Ver o site http://www.fpx.pt/ , lado direito da página, coluna "Novidades 08.07.2007. Três novos Mestres Nacionais: Diogo Alho, Vasco Diogo e Marinus Luyks". O último sou eu, "Rini" é diminutivo de "Marinus").
Sou jogador de xadrez a nível federado há 35 anos, dos quais 20 em Portugal, com resultados que justificam perfeitamente a atribuição deste título.
Problema: apesar desta convicção sinto uma luta interior entre a Soberba e a Humildade, entre a Vaidade e a Modéstia!
Informar imediatamente os entes queridos não provoca dilemas, a partilha de alegrias pessoais a este nível podemos considerar comportamento normal.
Mas como dar a notícia aos amigos e conhecidos!?
Às vezes temos sorte: hoje de manhã, antes do ensaio da minha banda Kumpania Algazarra, estava num café com dois colegas. "Quem me paga um café?", perguntou o clarinetista. "EU, tenho uma coisa a celebrar!" "Ah sim?"
O outro colega pediu um Compal, há sempre gente a abusar...
(A Avareza, outro Pecado Mortal. Sou avarento? Podia ter falado três horas mais tarde, oferecendo o almoço aos oito músicos da banda. Os Holandeses têm fama de serem avarentos, muitos deles também são ricos. Acho que os Portugueses não são avarentos. Eu sou Holandês, mas não sou rico. Ser avarento e pobre, isso sim seria uma tragédia...).
Outra forma de tentar resolver o problema é escrever um post num blogue, como estou a fazer agora. Gostava de ouvir a opinião dos meus sócios de "Anacruses" sobre o assunto. Pelo menos um deles, também ele laureado há relativamente pouco tempo, deve saber lidar com a situação melhor do que eu....
Imagem: "Os Sete Pecados Mortais" de Hieronymus Bosch

17 comentários:

MCA disse...

Parabéns. Tem mérito, sim senhor. Tem razões para estar orgulhoso. Não é pecado. O pecado do orgulho tem a ver com a convicção de não precisar de Deus, a convicção da auto-suficiência. Esse é que é o pecado mortal. Agora, orgulhar-se de algo para o qual teve mérito não é pecado. Desde que agradeça a Deus tê-lo dotado dos dons para o conseguir. Está a ver a lógica?

Rini Luyks disse...

Cara Maria Clara,

Obrigado pelas palavras simpáticas e pela explicação. Estou a ver, sim senhora.
Realmente este Pecado Mortal ou Capital da Soberba não é o mais simples de encarar, há nuances.
Também já mudou várias vezes de nome com o passar dos séculos: Soberba, Vaidade, Orgulho, Arrogância...

Cristina Gomes da Silva disse...

Parabéns!

Rui Rebelo disse...

Parabéns Rini.

Sabes que não ficaste a jogar melhor xadrez por isso. Foste é reconhecido e isso é sempre bom.
Eu já sabia que tu eras Mestre, sem nenhuma associação mo dizer.

Também já tive alguns prémios que souberam sempre bem. apesar de que o melhor prémio que posso ter é eu próprio gostar realmente do meu trabalho. Infelizmente sou o meu mais duro e implacável crítico.

Anónimo disse...

Hello Rui, yeah, that's the spirit man! Sabes que nestes 35 anos de xadrez só joguei uma mão cheia de partidas que considero de alguma qualidade. É verdade que o criador tem de ser duro consigo próprio.

Fernando Mota disse...

"It's nice to be important, but it's more important to be nice".

Soberba seria fingir que não sabe bem sermos distinguidos. Na verdade todos queremos ser bons, especiais, naquilo que fazemos. E se não queremos, devíamos mudar de ramo. Se achamos um prémio merecido, se conseguimos ter a lucidez de ver que aqui ou ali acertámos e fizémos alguma coisa que tocou nalgum sítio especial nos outros e houve alguém que reparou e decidiu assinalá-lo, então celebremos e paguemos cafés e Compais aos amigos. Estou à espera do meu. Pode ser de morango...

Parabéns & Abraços, Mestre, tu que talvez sem saberes me vais ensinando tanto da arte do estar e do ser.

Helena Velho disse...

Uma das mais primárias necessidades, a par com a de respirar e comer, é ser reconhecido! E Rini (Marinus) Luyks soberba é uma palavra que só existe no dicionário da culpa judaico-cristã!
E , na minha modesta( vaidade!) opinião quem é reconhecido é por que merece embora, nem sempre, as razões versus reconhecimento sejam as mais razoáveis.
Mas ,não é o seu caso!
Assim, festejo consigo o título de MESTRE nesse jogo/exercício fantástico que é o xadrez!

Um abraço!


p.s.- posso tomar um cafezinho em sua honra? pago eu, claro!

Jorge Oliveira disse...

Rini,
Parabéns, certamente mereceste!

Não existem pecados mortais, existe é pecado mortal. Gostei muito do comentário da MCA sobre orgulho.

Abraço (clássico...eheheh)

Rini Luyks disse...

Muito obrigado pela generosidade nos vossos comentários, a contrastar com a avareza penosa nas minhas ofertas de café e Compal... Mesmo assim acho que já aprendi alguma coisa em 20 anos de convívio em Portugal.
Fernando, a tua definição de "soberba" não anda muito longe de "falsa modéstia", parece-me. Saber elogiar e saber ser elogiado, nada fácil, como no xadrez saber perder e saber ganhar (em termos de comportamento).

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

deliciei-me com este post. uma surpresa! Parabens pelo prémio e obrigada por me fazer rir.

ah! não esqueça separar Deus da Igreja, uma vez que estes já se encarregaram de o fazer.

Júlia

Anónimo disse...

Rui, para já e com toda a admiração, os meus sinceros PARABÉNS!
E eu sabia e está tudo dito quando li este post (esbocei um enorme sorriso), é que quando o conheci a primeira vez a comentar no Ideias Soltas (recorda-se?), fiquei logo a pensar, oh este Rui deve ser muito, muito talentoso e aí está!... Fico muito contente que possa partilhar com todos os que o conhecem e com os que não o conhecem, mas que muito gostariam de o conhecer (que é o meu caso)...
E tenho a acrescentar que tenho acompanhado este seu blogue e há 2 semanas atrás estava para deixar aqui um comentário (não sou de deixar comentários), a felicitá-lo pela qualidade do mesmo e claro está com este post não resisti!
Quanto à soberba considero-a o pior dos pecados, é terrível mesmo! E arrisco acrescentar que é por não conhecermos o talento que quase sempre se esconde na simplicidade e humildade, que se vão salientando por aí tantos reinos da assoberbice...
Um grande abraço e muito obrigada
Alice

Anónimo disse...

E com pedidos de desculpas por este engano, que devem de ter reparado, faço a seguinte correcção, acrescentando:
Os meus PARABÉNS a todos (Rui Rebelo, Rini Luks e Fernando Mota), pelo blogue em seus textos e informação e em seus autores e artistas…
Muito Obrigada
Alice

Rini Luyks disse...

Cara Ali_se,

Obrigado pelo comentário simpático, embora eu tenha a consciência que o "enorme sorriso que esboçou" em princípio não era destinado a mim, se calhar um bocadinho...bem, não se pode ter tudo na vida.
Posso confirmar que o Rui é mesmo "muito, muito talentoso", mas não há muitos casos em que os talentos para a música e para o xadrez se encontram na mesma pessoa.
O ex-campeão mundial russo Vassili Smyslow e o grande mestre húngaro Lajos Portisch eram ao mesmo tempo cantores líricos de renome, o grande mestre russo Mark Taimanow era um pianista famoso, mas eles são excepcões. Aliás, parece que o último arruinou ambas as carreiras quando perdeu, em 1971 no auge da Guerra Fria, um match de xadrez contra o americano Robert Fischer por 6-0: as autoridades soviéticas simplesmente já não o deixaram sair do país...
Chamo-me Rini Luyks em vez de Luks, cara Ali_se, mas está perdoada, uma vez que 40% das letras do meu apelido não fazem parte do alfabeto português...

Anónimo disse...

Pois Rini, o sorriso era sim e também para si, pela forma interessante e elegante do texto, quando dei por mim, já lá estava o comentário, e quando vi que afinal não era o Rui, ops, ainda tentei apagar mas não dá no vosso blogue, e de imediato coloquei outro comentário para compor e na atrapalhação não disse o devido… Mas tudo se consertou, o Rui já lá me deixou um amável comentário e aqui o Rini até me desculpou, agora sim e, sem ser numa de escrever comentários num domingo de manhã que dá no que deu (ficou como emenda), tenho a dizer-lhe Rini que virei mais vezes a lembrar-lhe que são três os autores deste blogue.
Apesar de eu não ser apreciadora de nenhum tipo de jogos, mas quanto ao Xadrez que penso que, o que é mais importante é sempre o que poderá resultar da concentração num pensamento que estará por detrás desse mesmo jogo e que nem sempre é valorizado e tido em consideração… Mas isso seria uma longa
A continuação de muito boas postagens e sempre que se justifique, com alguma amostragem do que o que se faz, de bem feito, que se diga sempre nesta forma exemplar e em estilo a dar-se o exemplo e porque assim jamais será tido de soberba.
E um muito obrigada pelas suas palavras Rini com sinceros parabéns.
Cumprimentos
Alice

Rui Rebelo disse...

Cara Alice,

Vejo que o meu amigo Rini já lhe respondeu na sua forma própria que tanto gosto. Confesso que gostava de jogar tão bem xadrez e tocar tão bem acordeão quanto o meu amigo holandês.

Resta-me acrescentar que sou frequentador do seu blogue para o qual já tinha feito um link no anacruses.

Fui ver ao ideias soltas e encontrei os posts em que nos conhecemos. foi sobre o La Feria e o Rivoli e toda a discussão sobre arte e entretenimento. Boa troca de ideias. Talvez fosse interessante retomar o tema aqui no anacruses.

cumprimentos

Rini Luyks disse...

Cara Alice,

Fui visitar o seu blogue e gostei, nomeadamente dos posts com conteúdo mais filosófico. O texto do grande pensador português José Gil até me vai dar uma ideia para um novo post.

Caro Rui,

Ainda posso maginar que gostavas de jogar "tão bem" xadrez como eu (mini-soberba minha), agora tocar "tão bem" acordeão!!?? Há pouco tempo dedicaste um post ao virtuoso Richard Galliano, agora lembro-me por exemplo do trabalho magnifico do Toninho Ferragutti no CD "Mumadji" (Maria João).
Uma pequena confessão: no meu post "A camioneta harmónica" da semana passada mudei a primeira frase. Em 1995 não escrevi "Sou acordeonista....etc.", mas "A minha profissão é acordeonista....etc."! Hoje em dia já não tenho coragem de afirmar isto, sou amador no sentido mais literal: gosto de tocar acordeão, mas também gosto de outras actividades, por exemplo xadrez, e esta circunstância impede-me provavelmente de atingir um nível de excelência nas duas disciplinas!

Anónimo disse...

Caro Rini,

Os meus parabéns!
Já relativamente à vaidade e à soberba, quando te sentires acometido dessas angústias faz como os luteranos do Norte Europeu: pegas num bom ramo de silvas e fustigas as costas até doerem. Vais ver que alivia...

Rui Mota