13/03/2010

"O Que Faz Falta"

Estreia já a 18 de Março, no Teatro Villaret.
Inesperadamente, pediram 12.000 euros pelos direitos do Zeca Afonso (algo inédito em teatro), o que nos levou a ficar impossibilitados de utilizar as suas músicas e a 10 dias da estreia tivemos de alterar estruturalmente a parte musical da peça, usando apenas músicas do Chico Buarque. Felizmente o espectáculo ficou a lucrar com isso, ganhou um lado mais profundo e poético não perdendo o seu carácter político.

Mas para mim Zeca Afonso deveria ser "património cultural universal" e deveriam haver leis que estabelecessem limites para não acontecerem aberrações destas. Este pedido é completamente contraditório com a obra e a vontade de José Afonso.

Deixo aqui um texto de Pablo Neruda relativamente à autoria de uma obra sua.

Los versos del Capitán - Pablo Neruda

"Mucho se discutió el anonimato de este libro. Lo que yo discutía en mi interior mientras tanto, era si debía o no sacarlo de su origen íntimo: revelar su progenitura era desnudar la intimidad de su nacimiento. Y no me parecía que tal acción fuera leal a los arrebatos de amor y furia, al clima desconsolado y ardiente del destierro que le dio nacimiento.Por otra parte pienso que todos los libros debieran ser anónimos. Pero entre quitar a todos los míos mi nombre o entregarlo al más misterioso, cedí, por fin, aunque sin muchas ganas.¿Que por qué guardó su misterio por tanto tiempo? Por nada y por todo, por lo de aquí y lo de más allá, por alegrías impropias, por sufrimientos ajenos. Cuando Paolo Ricci, compañero luminoso, lo imprimió por primera vez en Nápoles en 1952 pensamos que aquellos escasos ejemplares que él cuidó y preparó con excelencia, desaparecerían sin dejar huellas en las arenas del sur.No ha sido así. Y la vida que reclamó su estallido secreto hoy me lo impone como presencia del inconmovible amor.Entrego, pues, este libro sin explicarlo más, como si fuera mío y no lo fuera: basta con que pudiera andar solo por el mundo y crecer por su cuenta. Ahora que lo reconozco espero que su sangre furiosa me reconocerá también."


Pablo NerudaIsla Negra, noviembre de 1963

21 comentários:

Maria disse...

Não tenho palavras para classificar essa dos 12 euros. Alguém anda a passar muita fominha, com certeza.

Abraço.

Pedro Fiuza disse...

inacreditável!!!

Unknown disse...

Tiveram sorte...!
Olha se pedem direitos pelo nome da peça...
Uma vergonha visto de que ponto de vista se queira ver.

João Carlos Moreira disse...

Pedir 12.000 euros pelos direitos de José Afonso para uma peça de teatro é, no mínimo, criminoso e um ultraje à sua memória. É exactamente o oposto da sua vida e obra. Este escândalo deveria ser levado às mais altas instancias para que não se volte a passar, pera que se legislem sobre assuntos de "património nacional" como este.

Rini Luyks disse...

Escândalo a denunciar em comunicado ao público e à comunicação social na estreia.

Ai meu Deus disse...

A questão é a de saber de quem são os direitos da obra de arte. Pagos os devidos direitos ao autor (o modo como isso se faz é complicado, é -- mas essa é outra questão), a obra é património social (olha se um professor -- por exemplo -- pedisse direitos de autor relativamente aos alunos que ajudou a formar...)

lopes duarte disse...

INACREDITÁVEL!!!!

ana almeida disse...

isto deveria ser denunciado na imprensa. é escandaloso!

Vasco Rodrigues disse...

Mas escandaloso porquê?
Os autores e os seus herdeiros deixaram de ter direitos sobre a obras que produzem?
Será que o espectáculo que vão realizar é gratuito?
Se querem fazer um espectáculo comercial com a obra dos outros paguem!
E já agora é melhor certificarem-se bem se podem ou não utilizar as músicas do Chico Buarque, pode ser que venham a ter uma surpresa!

Rini Luyks disse...

Se calhar o caro Vasco R. devia ler o post de 4 de Março neste blogue para perceber melhor o carácter especial deste projecto.
Acho que a questão não será o "deixar de ter direitos sobre as obras" mas mais o valor exorbitante pedido, com o qual o próprio Zeca Afonso (como já foi referido) de certeza não concordaria.

Anónimo disse...

Sr Vasco Rodrigues,

É claro que os autores têm direitos sobre as obras que produzem e os herdeiros têm usufruto da herança.
A questão coloca-se relativamente ao custo desses direitos e aos critérios de escolha dessa tributação. Para uns é quase de graça e para outros tem um preço proibitivo. Ora, num autor como José Afonso, que deveria ser considerado património cultural nacional, deveria haver algum critério. Se o projecto não é para obter lucros (11 artistas em cena mais uns quantos criativos, por muito boa que a bilheteira seja dificilmente cobre os custo de produção) deve ser taxada como em todo o mundo, uma percentagem de bilheteira que pode ir até aos 7%. Ou então deverão ser negados os direitos por uma questão ideológica qualquer.
O mais escandaloso no meio disto tudo é que, neste caso, o autor (que conheci pessoalmente) era com toda a certeza contra esta atitude de aproveitamento económico da sua obra. E mais adianto, o estado deveria pagar os direitos a esses herdeiros vendilhões, pois difundir a obra do Zeca é uma acção de grande utilidade pública.

Rui Rebelo disse...

Acho muito bem. Eu cá se fosse filho do Zeca nem sequer autorizava que utilizassem a obra do meu pai por menos de 100 mil euros. Muito menos a uma pessoa tipo eu que admiro e respeito profundamente a sua obra.
Esse Sr. Vasco demonstra ser muito inteligente e concordo em absoluto com ele.

Rui Mota disse...

No meio desta história toda, fiquei sem perceber quem é que pediu os 12.000euros de direitos. A SPA, a viúva do Zeca, os restantes (filhos) herdeiros?
Já agora gostava de saber. Faço parte da direcção da Associação José Afonso e nunca aconteceu tal coisa...

rui rebelo disse...

Foi a filha mais velha que estava a gerir os direitos, mas ao que parece já não está. Segundo me disseram voltou a ser a viúva a tomar conta da gestão.
Quando os herdeiros andam em lutas no tribunal para ver quem gere os direitos é porque alguma coisa está mal, certo?

Rini Luyks disse...

Se isso for verdade, Rui R., deve aplicar-se aquele ditado de alguém "revolver-se no túmulo"...
Até amanhã e muita merda!

Rini Luyks disse...

Grande show! Muito bacana!
A única coisa que fez falta, Rui....next post :) !
(mas disfarçaste bem)

António Tavares disse...

Parabéns Rui,

A parte musical é muito, muito boa!
O espectáculo tem algumas fragilidades na encenação . achei-a demasiado ilustrativa e o elenco pouco homogéneo na sua prestação. Mas no geral achei um bom espectáculo.

PARABÉNS

Rui Mota disse...

Adenda ao meu comentário acima:
A verba pedida pelos direitos de autor foi de 5.000euros e não 12.000euros como é dito lá atrás. De resto, a SPA - consultada pela Helena Afonso - sugeriu 8.000euros e ela acabou por baixar para 5000euros. Não é que tenha muita importância agora, mas convém explicar bem as coisas, para não ficarem más interpretações no ar. De resto, se é muito ou pouco, deixo aos critérios de cada um...

rui rebelo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Rui Rebelo disse...

Caro Rui Mota,

Passo a explicar melhor,

A verba pedida foi de 8.000 Euros (antes da estreia) mais 5% da bilheteira no mínimo de 100€ por espectáculo (40 espectáculos = 4000€) o que dá no total, no mínimo 12.000 Euros. Depois disseram que poderiam pagar apenas 5000 antes da estreia e os outros 3000 depois da temporada, mantendo os 100€ mínimo por espectáculo. O QUE DÁ SEMPRE 12000 EUROS, apenas muda o facto de ser a prestações.
Eu nunca teria inventado um número se não tivesse a certeza absoluta do que estava a dizer.

Abraço

Rui

rui mota disse...

Rebelo,

Agradeço a explicação. Limitei-me a dar nota da versão que me foi dada pelo Francisco Fanhais, presidente da AJA, que falou com a Lena e com o Fragateiro sobre o assunto.
De resto, e porque não sou parte interessada na questão dos direitos do Zeca, fico-me por aqui...

Abr.

RM