11/12/2008

O centenário de Manoel de Oliveira e a prenda da C.M. de Lisboa

Transcrevo a notícia (http://diariodigital.sapo.pt/ ):
"O realizador Manoel de Oliveira, que hoje festeja 100 anos, convidou o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, para almoçar no local onde decorre a rodagem do seu novo filme "Singularidades de uma rapariga loura". A autarquia de Lisboa apoiou financeiramente o filme baseado no conto homónimo de Eça de Queirós com 200.000 euros. No almoço, além do autarca, estarão o embaixador de França em Portugal e a direcção do Instituto de Cinema e do Audiovisual, num total de 70 convidados, incluindo a equipa técnica."
Numa curta reportagem no Jornal da Tarde da RTP reconheci imediatamente o sítio das filmagens: Jardim do Palácio Beau Séjour, Quinta Nova da Conceição (http://www.quintanovaconceicao.com/ ), a poucas centenas de metros da minha casa...
Com a curiosidade dum autêntico paparazzo decidi ir espreitar, vestido a rigor: casaco e gorro de lã, tipo arrumador (estava frio). O porteiro do jardim deixou-me entrar, ele conhece-me, vou passear regularmente neste espaço verde. Contornei o edifício e sim senhor, através de duas grandes janelas vi mesas com velas acesas e vultos sentados (irreconhecíveis). Ainda ponderei entrar no restaurante, mas o meu visual não estava a condizer com o ambiente. Como alternativa decidi fazer umas passeatas tipo vai e vem à frente das janelas, com um sorriso em direcção às mesas, pois não quero mal a ninguém. Foi esse o meu contributo à festa....
Brincadeiras à parte, agora o porquê deste post. Das obras do cineasta Manoel de Oliveira que vi na cinemateca adorei "Douro, faina fluvial" (1931) e "Aniki-bobó" (1942, vídeo aqui acima), disseram-me que tenho que ver também "A caça" (1963). No cinema comercial vi até agora (só) "Non, ou a vã glória de mandar" (1990) e não gostei nada, de facto não fui ver mais nenhum dos filmes de Manoel de Oliveira, estreados após 1990 e são muitos, uns vinte! O homem faz um filme todos os anos, com certeza estará nisso o segredo da sua longevidade....
Agora: um apoio de 200.000 euros da Câmara de Lisboa (na situação financeira em que está) para mais um filme dele acho uma vergonha....(nomeadamente depois de "Cristóvão Colombo - O Enigma", considerado por muitos um dos piores filmes europeus dos últimos tempos).

7 comentários:

Rini Luyks disse...

Vi agora (de regresso de mais uma representação de "Imaculados", aliás com 5% da verba que António Costa ofereceu a Manoel de Oliveira o Teatro Aberto podia evitar a redução da temporada da peça, ver comentários post Anacruses de 4 de Dezembro), vi agora, dizia eu, na RTP a última meia hora do referido filme "Cristóvão Colombo - O Enigma".
Foi mais do que suficiente. Fez-me lembrar uma piada na revista "Já" (uma lufada de ar fresco nos anos '90, infelizmente com uma carreira muito curta): a redacção quis atribuir a Manoel de Oliveira um Oscar para Melhor Banda Sonora pelos silêncios profundos no seu filme "Vale Abraão" (1993). Nem mais!

Rui Mota disse...

Rini,

Manoel de Oliveira ama-se ou odeia-se.
Pessoalmente, já vi mais de trinta dos seus filmes e continuo a gostar de todos os que ele fez antes de 1974. Depois, tornou-se um cineasta do regime, que não necessita sequer de escrever um argumento para ter sempre apoio financeiro. Uma instituição, que (alguns) portugueses veneram, porque em França dizem que ele é um "mestre"... Como são os franceses que o dizem, os portugueses (parolos) têm medo de ficar mal vistos. Uma pepineira.
Penso que há muitos anos que ele não faz um bom filme e mesmo os prémios que vai recebendo nunca são dados a um filme específico, mas à sua obra e, principalmente, à sua longevidade.
Porque chegar aos 100 anos é, de facto, uma obra de arte, aqui ficam os meus sinceros parabéns!

Rini Luyks disse...

Caro Rui M.,

Estou inteiramente de acordo com o seu comentário. Eu não odeio Manoel de Oliveira e dou-lhe os parabéns por chegar aos 100 anos em plena actividade. Só tenho o azar de ter chegado a Portugal em 1986, por isso conheço mal a obra que o cineasta produziu antes do 25 de Abril. A Cinemateca dedicou-lhe um cíclo nos últimos meses, mas por causa do meu trabalho no Teatro Aberto não consegui ver nada.
Sei que deve ser bastante atrevido para um estrangeiro criticar um ícone nacional como Manoel de Oliveira, mas a questão é que ouvi a notícia do apoio dos 200.000 euros da Câmara de Lisboa logo a seguir ao comunicado do nosso encenador João Lourenço (redução da temporada da peça "Imaculados" por falta de verbas) e aí passei-me um bocado...
A qualificação (actual) "cineasta do regime" parece-me adequada e inspirou-me mais um post sobre o assunto (nós holandeses somos assim...)
Caro Rui, se tiver disponibilidade, está convidado para assistir à peça "Imaculados"!

Rui Mota disse...

Sobre o Oliveira (que muitos anos mais faça!) estamos conversados. Aconselho o "Aniki-Bóbó", "O Acto da Primavera", "Douro, Faina Fluvial" e "A Caça", não necessariamente por esta ordem. Depois, há boas cenas/imagens em filmes como "Amor de Perdição", "Francisca", "Vale Abraão", "Viagem ao Fim do Mundo", etc...mas não passam disso mesmo: boas cenas/imagens que não fazem um filme, muito menos bom. O ritmo é lento, a ponto de adormecermos; os diálogos são confrangedores, a roçar a filosofia de pacotilha; a encenação é pobre e sem criatividade; os actores são normalmente de teatro e não sabem estar perante a câmara. Enfim, um pedantismo execrável, de um católico que tem espírito de menino traquinas. Que uma certa "inteligenzia" lhe preste homenagem, em Portugal e em França (porque no Mundo anglo-saxónico ninguém lhe liga "peva"), só mostra o provincianismo das "elites" lisboetas: tudo o que os "Cahiers du Cinema" escrevem, é sagrado.
Huub Bals (o falecido director do Rotterdam FilmFestival) costumava dizer que os filmes do Oliveira o faziam dormir ao fim de 10 minutos, mas como havia sempre 30 pessoas na sala, ele pensava que elas também tinham direito a ver os filmes...não podia estar mais de acordo.
Obrigado pelo convite para o teatro. Lá estarei. Qual é melhor dia?

Abraços,

RM

Anónimo disse...

Caro Rui M.,

A peça está em cena de 4ª feira a domingo (ver post 4 de Dezembro) até 11 de Janeiro. Como disse o encenador João Lourenço no vídeo: não é uma peça fácil e dificilmente vai ter salas cheias, sexta e sábado têm sido os melhores dias.
Não há espectáculo nos dias 24, 25 e 31 de Dezembro e 1 de Janeiro.
Pode avisar-me na véspera para fazer a reserva.
Abraço.

Rui Mota disse...

Rini,

Ok. Obrigado. Já agora, informo que tenho uma entrevista do Rentes de Carvalho (saída esta semana no "De Groene Amsterdammer") que godtaria de enviar. Para onde a envio?

RM

Anónimo disse...

Obrigado, Rui M. Já recebi.
Continuo adepto do blogue de JRC "Tempo Contado" (link nas nossas "Harmonias").