Fadoul e Elísio, dois emigrantes clandestinos, culpam-se de nada terem feito para impedir uma mulher de se afogar.
Rosa gostaria de receber mais atenção de Francisco, o marido. A mãe de Rosa está doente e instala-se em casa da filha.
Absoluta, uma jovem cega, dança num bar junto ao porto para homens que ela não vê e que a desejam.
Uma mulher só dispõe-se a tudo para existir aos olhos dos outros.
Ella, uma filósofa que não aceita o envelhecimento, deixou de acreditar nas ciências do espírito e fala sozinha.
Em Imaculados, peça escrita e estreada em 2003, a autora alemã Dea Loher cruza destinos que as contingências da vida separou, criando uma dança de roda marcada pelo humor do desespero e a energia de viver.
Considerada uma das vozes mais inventivas e poéticas da nova dramaturgia europeia, como comprovam os muitos prémios que têm distinguido a sua obra, Dea Loher escolhe para as suas peças histórias e figuras do quotidiano e confere-lhes uma dimensão filosófica e universal ao apresentá-las na procura de respostas para grandes questões como o sentido da vida, as possibilidades de transformação da sociedade, a realização dos sonhos individuais.
Em Imaculados, cruza histórias e personagens para tematizar a relação com o outro, com o estrangeiro, a responsabilidade e a culpa, a solidão, o amor, o confronto com a morte, a pertinência das utopias, a busca de felicidade, e demonstrar que, num mundo aparentemente regido pelo acaso, os seres humanos, afinal, acabam por estar todos misteriosamente ligados.
Unschuld, na versão portuguesa "Imaculados". Trata-se de uma peça que entrelaça com poesia e humor diversas histórias do nosso quotidiano, histórias que podem parecer insólitas mas que revelam a nossa procura desajeitada de sermos melhores num mundo em que a morte deixou de ter valor ou, por vezes, parece ser a única saída.
IMACULADOS
de Dea Loher
Versão: João Lourenço e Vera Sampayo de Lemos
Dramaturgia: Vera Sampayo de Lemos
Encenação: João Lourenço
Música: Rui Rebelo
Cenário: António Casimiro e João Lourenço
Figurinos: Maria Gonzaga
Coreografia: Carlos Prado
Acordeonista: Rini Luyks
Com: Amílcar Azenha, Ana Brandão, Ana Nave, Ana Rita Trindade, Carlos Pisco, Carmen Santos, Cátia Ribeiro, Francisco Pestana, Inês Rosado, Irene Cruz, Luís Barros, Pedro Ramos, Quimbé e Rini Luyks.
No Teatro Aberto de Quarta a Sábado às 21:30 e Domingos às 16h
4 comentários:
Decisão algo trágica da direcção do Teatro Aberto. Por causa da total indefinição da política cultural do Governo o teatro vai manter a peça "Imaculados" em cena apenas até 11 de Janeiro (em vez de 1 de Fevereiro).
A proposta dos actores para fazer a temporada toda e e receber as últimas três semanas mais tarde não foi aceite, pois como disse João Lourenço: "Nem sabemos se vai ser atribuido subsídio algum para 2009."
Não há 10.000 euros para terminar a temporada de uma peça de teatro que mostra a sociedade como ela é, há sim milhares de milhões para salvar bancos geridos por criminosos de colarinho branco.
O Estado das Coisas...
O Teatro vai fazer esforço para que a autora alemã da peça Dea Loher esteja presente no dia 11 de Janeiro, haverá nesse último dia discussão com o público após o espectáculo.
Pois é caro Rini,
Pelos vitos a direcção da política cultural é a de fazer mais com menos. e nós estamos no fim da fila. Não se percebe o que é que eles querem. se é acabar de vez com a Cultura, que acabem, mas tortura às entidades e aos artístas é sadismo político. A desculpa da crise serve para se fazer qualquer atrocidade. Voltamos à velha conversa do inicio deste blog - o confinar a manifestação artística à indústria do entretenimento ou ao gosto de uma elite afecta ao poder.
Felizmente não me tiram a vontade de criar...
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"E NÃO SE PODE EXTERMINÁ-LOS?"
Rui, tenho a tentação de chamar as coisas pelos nomes e comparar o destino de "Imaculados" com por exemplo o musical "Cabaret" no Teatro Maria Matos (por pouco não entrei nesse projecto no Verão).
O último foi o "remake" de uma peça conhecida com direito a concurso televisivo (e todos os patrocínios que daí vêm) para escolher a protagonista, ou seja: um projecto "mainstream". É claro que uma peça de intervenção como "Imaculados" não ambiciona este estatuto e ainda bem, mas depois há um preço a pagar...
Quando falas de "elite afecta ao poder", penso que entramos no universo dum Deus aparentemente omnipotente como Filipe la Féria.
Estou a lembrar-me dele no Telejornal RTP ao lado do Presidente da República Cavaco Silva, este foi ver um dos "blockbusters" de La Féria (acho que foi "Jesus Christ Superstar" no Algarve no Verão). Momento supremo de televisão estatal: o telespectador afoga-se em rios de baba despejados de todos os lados em cima dele.
Exterminá-los? Só se for um maremoto tipo 1755.
Parabéns pelo trabalho.
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