Logo depois da última representação do musical "A Fábrica de Nada" (Artistas Unidos) quase todos os músicos do elenco fizeram audição para a orquestra do musical "Cabaret", a estrear no Outono no Teatro Maria Matos com encenação de Diogo Infante.
Pessoalmente não tinha grandes expectativas, pois na ficha de inscrição a produção pediu um "acordeonista-multi-instrumentista" (teclas e cordas), coisa que não sou, mesmo assim apeteceu-me aceitar o desafio.
A audição tinha duas fases: execução de uma peça livre e de uma peça do musical, no meu caso "Perfectly Marvelous" (acima a pauta e uma interpretação em vídeo).
A preparação da audição foi um espectáculo em si: foi-me atribuido um camarim no teatro, junto com outro acordeonista, de formação clássica, muito bem vestido e equipado. Ele olhou com uma certa curiosidade para a minha roupa informal e a minha mala de acordeão artesanal. Para não haver mal-entendidos ele começou o seu aquecimento com uma interpretação virtuosa de uma peça de Piazzolla. Entretanto entraram no camarim mais candidatos: um teclista, outro acordeonista e um guitarrista com visual tipo Nirwana.
O último mandou parar o virtuoso: "Silêncio por favor! Se ainda não sabes o que vais tocar, agora já é tarde!" Gostei dessa. Depois ele levou a sua guitarra à casa de banho para afinar, discrição acima de tudo.
Fui o primeiro a fazer audição depois do jantar do júri, fui apresentado ao encenador Diogo Infante e ao director musical Rúben Alves, um músico conceituado, conhecido como professor na "Operação Triunfo". Toquei como peça livre um tema de Nino Rota para o filme "Amarcord" de Federico Fellini (fazia parte do repertório da saudosa Bigodes Band), um acordeonista cego, a menear a cabeça e a trautear a música enquanto toca. Diogo Infante gostou, estava a rir-se, o director musical se calhar nem tanto, limitou-se a preencher uma folha numa pasta, deve ser o papel dele. Da pauta de "Perfectly Marvelous" ele deixou-me tocar só a primeira parte e não os compassos mais complicados 18 até 26 (à tarde eu tinha suado as estopinhas para dominar essa parte a uma velocidade de 180 semínimas por minuto, mais c'est la vie...).
Mais tarde recebi um mail do colega Rui Faustino, a ele só lhe foram concedidos 30 segundos do solo de bateria que ele tinha preparado, c'est la vie aussi.
Para nós não houve "Operação Triunfo", fica para a próxima...
P.S. Encontrei uma versão do tema de "Amarcord", tocada pela banda holandesa(!) "I Compani" em http://www.youtube.com/watch?v=oHood5HsosQ, no fundo vemos a famosa cena do filme com o tio louco na arvore a gritar: "Voglio una donna!"
Este fragmento a ver em http://www.youtube.com/watch?v=Au02p8huOuU&NR=1
1 comentário:
as aventuras das audições...
boa história para contar.
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