O festival "Rotas & Rituais", inserido nas Festas de Lisboa, é dedicado ao povo cigano, "o povo das estrelas".
As actividades dividem-se entre o Cinema São Jorge e o Padrão dos Descobrimentos. Para mim os pontos altos são o ciclo de cinema de Tony Gatlif (hoje vi o seu último filme "TranSylvania" com Asia Argento, mas nos filmes de Gatlif todos os actores são estrelas, trailer em http://www.youtube.com/watch?v=hgGhw7sr_cQ) e os concertos nos dias 1, 2 e 3 de Julho, nomeadamente no dia 1 o projecto "Queens and Kings", uma recolha de canções ciganas pela Fanfare Ciocarlia, a não perder!
Aqui acima um vídeo de um dos meus temas preferidos: "Ah Ya Bibi" (que também faz parte da banda sonora de "TranSylvania").
3 comentários:
Rini,
Estou de acordo relativamente ao ponto alto do festival: os filmes do Gatliff. Não vi o "Transylvânia", mas todos os outros são excelentes, com destaque para "Les Princes", "Lacho Drom" e "Gadjo Dilo".
No entanto, os seus filmes/personagens, enfermam de uma visão idílica da vida cigana, ao conferir-lhe uma "superioridade cultural" que pode ser confundida com racismo ao contrário.
Já no que diz respeito à música, todos os seus filmes são bons. Nem podia ser de outro modo.
Caro Rui M.,
Penso que a "discriminação positiva" em relaçaõ à vida cigana nos filmes de Gatlif tem muito a ver com as suas próprias experiências da vida na marginalidade antes de começar o seu percurso artístico (que considero ainda mais extraordinário por causa disso). Uma frase famosa dele: "Quando toda a gente continua a dizer que nós (os ciganos) somos maus, então vamos mesmo ser maus!".
Durante o festival no Cinema São Jorge são projectados dados sobre a vida dos ciganos em Portugal. Ainda hoje em dia, para um jovem cigano que acabou a quarta classe, a carta de condução é considerado o documento mais importante na sua vida, pois indispensável para o "negócio", educação e formação são de importância secundária...
No ano passado os últimos dois concertos de rua que fiz com a Kumpania Algazarra tiveram lugar no Bairro do Casalinho da Ajuda e no Bairro 2 de Maio, bairros com comunidades ciganas. São bairros muito problemáticos, já à primeira vista ao nível de arruamentos e esgotos com soluções prometidas mas nunca concretizadas pela Câmara de Lisboa. Fomos lá tocar por iniciativa da LPDM - Centro de Recursos Sociais, uma organização que, junto com a J.F. da Ajuda promove e executa lá um projecto de intervenção com crianças e jovens em risco (duração 2006-2010) com o objectivo: "integrar os jovens a vários níveis da comunidade, nomeadamente educação, saúde, emprego e formação profissional". Descrição do projecto no site http://www.lpdm-crs.org.pt/pt/perspectivas.htm .
O espectáculo "Queens and Kings" da Fanfare Ciocarlia foi fantástico, muito melhor do que a versão (curta) na Festa do Avante do ano passado. A banda precisa da proximidade do público e o ambiente no Cinema São Jorge (completamente cheio) foi vibrante com toda a gente de pé desde o início. Uma selecção de canções ciganas, alternadas com êxitos "clássicos" da Fanfare: Suite Ciocarlia (tema mais conhecido na versão "Kalashnikov" de Bregovic), Asphalt-Tango, Mesecina, Ah Ya Bibi, etc.
Houve surpresas como uma bailarina do ventre que me fez lembrar Hafsia Herzi no final do filme "La graine et le mulet" ("O segredo de um cuscuz"), uma bailarina cigana muito bem dotada fisicamente a "contracenar" com o maestro/saxofonista (conheço pelo menos um músico da Kumpania Algazarra, também saxofonista e colega meu na saudosa Bigodes Band, que não se importava nada trocar com ele...), uma diva da Macedónia com uma voz... foi para mim a estrela da noite.
Duas horas e meia depois o concerto acabou em plena Avenida da Liberdade, centenas de fãs a não arredarem pé e um percussionista da Fanfare Ciocarlia a passar o chapéu para ganhar mais uns trocos. Músicos de gema!
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