31/12/2009

"Air" - Ekseption / J.S.Bach (1969)

O.K., ainda um último post antes de 2010...., uma resposta ao "Air on the G-string" de Susana Serrano (blogue "Suco, Suquinho, Sucodinho").

Há 40 anos as versões de temas clássicos dos "Ekseption" causaram bastante consternação na cena musical holandesa. Em 1969 eles tiveram dois hits: "Air" e (ainda mais) "The 5th" de Ludwig Van (como dizia o protagonista do filme "Clockwork Orange"), a ver em http://www.youtube.com/watch?v=DRmNUUFxFvo .

Uma pequena homenagem ao líder e teclista da banda Rick van der Linden (faleceu em 2006).

Acabaram os anos 0...


Soa bem, não!?
Um próspero 2010 para todos!

123.456



Na última hora de anteontem (29 de Dezembro) passou por este blogue o visitante nº 123.456, outro número curioso (já "celebrámos" os nºs 10.000, 66.666, 69.696, 100.000 e 111.111...).

Para celebrar o nº 123.456 (número que em termos musicais me faz lembrar tercinas e sextinas) proponho nesta passagem do ano uns pequenos exercícios rítmicos, a executar por exemplo com as duas mãos nos joelhos, tão simples como isso.
Simultaneamente bater nos joelhos: as cruzinhas com a mão direita, as bolinhas com a mão esquerda, depois ao contrário. Exercícios para treinar a independência das mãos. Difícil?

Ver http://www.danielambrusi.com.br/Nucleo/Nucleo.htm .

Calendário Karacter 2010: 100 anos da República








View more presentations from spottvs.

29/12/2009

Para Quê Chorar"

Explicação da criação do samba "Pra que chorar" pelo Vinicius de Moraes em casa da Amália Rodrigues, seguido da primeira gravação do meu filho com a sua nova câmara.

24/12/2009

Presépio do precário

(clicar para ampliar)

Orçamento:
- figuras do presépio: ofertas gratuitas na compra do Diário de Notícias (outono 2003);
- ornamentos de Natal: 25 cêntimos cada bola;
- pedras porosas: gratuitas, encontradas nos Açores e na Madeira;
- escaravelho em caixinha: 50 cêntimos;
- mini-farol em pedra e estuque: um euro e meio, recordação da Holanda;
- pião (parcialmente visível): dois euros, recordação de Salzedas;
- jeropiga: dois euros e meio (sobrou do magusto);
- panettone: quatro euros e meio, uma extravagância de facto, mas pronto, uma vez por ano...

Bom Natal!

Mensagem sazonal

Boa Páscoa e Feliz 2012

22/12/2009

Ardeu o prédio do Hot Clube de Portugal...

(foto: Blitz)





Mais um caso de vergonha cultural.
O Hot Clube de Portugal, um dos mais antigos clubes de jazz no mundo (celebrou 60 anos em 2008), sofreu danos graves por causa dum incêndio no prédio.
Durante o combate às chamas o Clube, situado na cave dum edifício com andares superiores devolutos, ficou inundado com a água dos bombeiros. Há suspeitas que o fogo possa ter começado quando sem-abrigo entraram no prédio pelas traseiras.... tal como no grande incêndio no ano passado na Avenida da Liberdade, a escassos centenas de metros de distância!
Na minha terra há um provérbio: nem um burro se magoa duas vezes tropeçando na mesma pedra.
Sem mais comentários...

A Luta Continua...


A Jorna:



INTERROGATÓRIO A UM PRECÁRIO:

21/12/2009

20/12/2009

Silent Night no Hawaii ou o Ukulele Perdido

Silent Night no Ai Vai-te



Hoje fui fazer uma animação onde toquei este Ukulele que estava arrumado no estojo há anos. Para me redimir de tal pecado* resolvi fazer este clip mesmo de mãos frias e um pouco enferrujadas.

(*) pecado é ter este instrumento há anos no estojo e não o facto de fazer uma animação que é apenas uma forma honesta, e por vezes divertida, de ganhar uns trocos.

Patos e galinhas

Como número de palhaço seria perfeito, imbatível :)), o vídeo vem do mesmo concurso que celebrizou a cantora "patinho feio" Susan Boyle...

Em 1993 participei num espectáculo de novo circo no Chapitô: "Tété, Ilusão, Sonho & Companhia". Já perto do final do show havia um truque semelhante ao do vídeo acima com uma galinha viva e um canhão em madeira, muito colorido e também com engenho explosivo, claro. Em dezenas de execuções o número nunca falhou: depois do tiro a galinha ficava bem caladinha num compartimento secreto do canhão e do alto da tenda de circo descia logo, morta e já depenada, uma galinha (de borracha) de pára-quedas. A seguir o pobre animal era colocado delicadamente num pequeno coche preto e ao som da Marche Funèbre de Chopin no acordeão os artistas davam umas voltinhas à pista, com pompa e circunstância e chorando convulsivamente.

O número era sem dúvida um dos pontos altos do espectáculo, mas também tinha um reverso... Os miúdos são os maiores amigos dos animais e quanto mais pequenos, mais amigos são. Algumas vezes uns fedelhos ficaram em lágrimas e depois tinham de ser convencidos que a galinha ainda continuava viva dentro do canhão!

Já não se fazem espectáculos assim, é uma pena (de galinha)!

Kseniya Simonova - animação em areia

Esta jovem ucraniana ganhou em Junho um concurso de talentos com emocionantes animações ao vivo em areia, como esta: "Ty vsegda ryadom" - "Estarás sempre perto" sobre a vida na União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial.

18/12/2009

Iva Bittová - "Divna slecinka"

Como no ano passado um vídeo da fabulosa vocalista/violinista Iva Bittová para aquecer os dias de Dezembro, desta vez na companhia dos holandeses "Nederlands Blazers Ensemble".

O percurso desta "bruxa" checa em http://en.wikipedia.org/wiki/Iva_Bittov%C3%A1

16/12/2009

Prenda de Natal 1987


No ano passado foram oferecidas neste blogue variadíssimas prendas de Natal (http://anacruses.blogspot.com/2008_12_01_archive.html ): votos de Obama, sonhos de Natal, vídeos de publicidade "Wonderbra", um presépio enternecedor.
Neste ano o Rui já nos ofereceu uma linda canção e eu encontrei uma bela curta-metragem.

And now for someting completely different...
Os comentários ao post "Exclusivo" (13 de Dezembro) fizeram-me lembrar a minha primeira prenda de Natal em Portugal: um pequeno livro de Benjamin Péret (pseudónimo: Satyremont), poeta surrealista e agitador cultural na primeira metade do século XX, editado por Edições Antígona.
Encontrei esta obra controversa (imagem) em Dezembro 1987 numa livraria, com uma faixa a dizer "A sua prenda de Natal", uma capa bastante sugestiva (ilustrações de Yves Tanguy) e um preço muito acessível.
Tratava-se da reedição em português de "Les Rouilles Encagées / Les Couilles Enragées". A "contrepèterie" ("spoonerism" em inglês, não sei como se chama esta troca de sílabas em português) perdeu-se na tradução: "Os Tomates Enlatados / Os Colhões Enraivecidos".

As primeiras páginas do livro despertaram imediatamente a minha curiosidade:
- capa: Benjamin Péret - Os Tomates Enlatados (Les Rouilles Encagées), uma tentativa de ludibriar a censura (publicado em 1954, ver também - pág. 3);
- editorial na contracapa: "Esgotados Os Tomates... há algum tempo no nosso país, Antígona vê agora necessidade de apresentar a segunda edição.
Actual na acutilante defesa dos costumes, do bom senso, dos padres ("Apalpai-nos senhor as nossas nalgas"), este livro suscita no leitor um desejo mais forte de reencontrar a castidade, às vezes perdida, da antiga vadiagem. Porque o puritanismo desperta no homem o sentido de ordem para depois se poder abandonar livremente à pulsação libidinal de cada instante (ah, ah, ah, ah, ah).
Péret soube - como diria Raoul Vaneigem - criar um mundo de contralinguagem acessível às crianças e aos sonhadores impenitentes, um mundo que necessita da revolução social para a todos revelar naturalmente a sua banalidade."
Novembro 1987
- pág. 3: Benjamin Péret (Satyremont) - Os Colhões Enraivecidos (Les Couilles Enragées, título da obra original, publicada em 1928, mas logo apreendida pela polícia);
- pág. 5: fotografia de Benjamin Péret, insultando um padre;
- pág. 7: "Já agora"..., seguido por uma oração de conteúdo erótico que não será reproduzida neste espaço (é Natal...), mas é fácil de encontrar na net;
- etc. etc.

Ou seja: mal chegado a Lisboa, instalado num ambiente a condizer com a sua condição (uma mansarda de seis metros quadrados), este músico de rua iniciou-se logo num vernáculo obsceno/escatológico de fazer corar as pedras da calçada, em vez de começar a aprender o português "como deve ser".
Realmente uma prenda de Natal diferente, visto da perspectiva duma educação católica eu diria quase: uma prenda "auto-infligida", do género "Ai como eu sofro, mas tenho que ler isso!"

14/12/2009

Opções




Make your choice!

13/12/2009

Exclusivo


Mais ou menos um complemento escatológico do post de 31 de Maio (http://anacruses.blogspot.com/2009/05/tangorreia_31.html) que provocou uma "livre associação" num comentário: o tango "Youkali" de Kurt Weill, no vídeo em baixo interpretado por Ute Lemper.
Estou curioso, se desta vez também...
Adivinha: onde é que arranjei o papel?

11/12/2009

Partly Cloudy


Nova curta metragem Pixar-Disney.

http://imgs.sapo.pt/sapovideo/swf/flvplayer-sapo.swf?file=http://rd3.videos.sapo.pt/v5urAwzZwmpy4QRvV5rf/mov/1

Canção de Natal

Natal de Elvas
Eu hei-de ir ao... presépio.

Uma prenda para os nossos caros leitores.











10/12/2009

Finalmente!?

Será que finalmente o "negócio sujo do Tamiflu" (http://anacruses.blogspot.com/2009_08_01_archive.html, post 28 de Agosto) vai ser investigado como deve ser?
O vídeo do Channel 4 (link mais abaixo) é excelente!

foto: Armazem de Tamiflu, algures nos EUA


Eficácia do Tamiflu sob forte escrutínio
Esta semana fica marcada pela polémica entre investigadores das ciências médicas e a farmacêutica Roche. O motivo prende-se com a real eficácia do antiviral oseltamivir, comercializado como Tamiflu.
Em artigo publicado no British Medical Journal (BMJ), os investigadores acusam a farmacêutica de não revelar dados essenciais de ensaios clinícos, que permitiriam conclusões sobre a eficácia do antiviral.
O Tamiflu, dizem os autores do artigo, encurta a fase da doença em cerca de um dia, mas não é possível dizer que impede as complicações que podem surgir com a gripe, nomeadamente as pneumonias. Esta seria a razão pela qual a Roche escolheu manter secretos dados de alguns dos ensaios clínicos que levou a cabo, afirma-se no artigo do BMJ.
A farmacêutica refuta as acusações e a direcção do BMJ publicou mesmo um editorial intitulado “Why don’t we have all the evidence on oseltamivir?”, onde se afirma que este não é um medicamento qualquer – foi “adoptado” pelos governos de todo o mundo como arma de primeira linha contra a gripe A – e não podem haver dúvidas sobre a sua eficácia.
O editorial do BMJ
http://www.bmj.com/cgi/content/full/339/dec08_3/b5351
O britânico Channel 4 deu relevo às dúvidas sobre a eficácia do Tamiflu

09/12/2009

Três Anos Anacruses



O terceiro aniversário merece uma música em três tempos duma banda caseira.

foto (espelhada) Rui Rebelo, almoço anacrúsico 21 de Janeiro 2008

07/12/2009

Venda de Natal



Há males que vêm por bem.

Farto de estar na bicha interminável na Estação de Correios dos Restauradores, atravessei a praça e encontrei na Loja dos Museus estas duas edições do Museu Nacional do Teatro sobre a história do teatro em Lisboa em tempos idos, a preço de venda de Natal (5 euros).

Há ainda uma terceira edição: "O Teatro em Lisboa no tempo de Almeida Garrett" (a época da peça que acabámos de representar com os Artistas Unidos!), não vou descansar antes de deitar a mão a essa também!

Filme de abertura da Conferência de Copenhague (COP 15)

Comentário desnecessário.

Bobby McFerrin e o poder da escala pentatónica

Bobby McFerrin afirma que esta "brincadeira" resulta com qualquer público.

Parece então que fomos mesmo criados para a escala pentatónica! http://en.wikipedia.org/wiki/Pentatonic_scale

06/12/2009

Drunken Sailors

foto de Jorge Gonçalves

Foto de ensaio do espectáculo "O Peso das Razões" na Biblioteca da Assembleia da República, aquele local que tem o bar mais barato do País. (café a 30 cêntimos...)

05/12/2009

Guia prático contra a gripe A

(Post só para maiores de 16 anos, com excepção de Cazaquistão: só para maiores de 11 anos, ver: http://ogatodoalekhine.blogspot.com/2009/11/borat-de-visita-amsterdam.html , 1 min. 20 seg.)

A revista americana "Cosmopolitan" inclui no número deste mês um trabalho sobre as formas de evitar o contágio com o vírus H1N1, recomendando a alteração de comportamentos na convivência humana, desde o simples cumprimento até as relações mais íntimas.

As imagens falam por si (clicar para ampliar), de baixo para cima:
- em vez de apertar as mãos chocar os punhos;
- o abraço caloroso é substituido por um suave beliscão;
- o beijo soprado será mais seguro do que o beijo na boca.
"So far, so good", embora me pareça que os chocadores de punhos (prática já existente, onda "Borat") não vão adoptar tão rapidamente o beijo soprado...

Chegando ao assunto mais delicado: a revista "Cosmopolitan" auto-intitula-se "lifestylist for millions of fun fearless females" e assim não é surpresa que defende a "reverse cowgirl position" como a posição sexual menos arriscada (em detrimento da tradicional posição do missionário, pois "quanto mais distantes estiverem as vossas bocas e os vossos narizes, menores são as hipóteses de inspirar o vírus") .

Ora, caro leitor, aí tenho uma dúvida que gostaria de partilhar consigo: não será tão ou mais segura a "doggy position" que já foi assunto neste blogue por causa duma caricatura irreverente, involvendo o casal dos príncipes herdeiros da Espanha (imagem que até me trouxe problemas com a minha irmã "muy católica" na Holanda, http://anacruses.blogspot.com/2007_07_01_archive.html , posts de 27 e 31 de Julho).

Uma simples comparação: se imaginarmos as cabeças do casal, de perfil e viradas à esquerda, nas posições das extremidades dos ponteiros do relógio, podia-se chamar "three o'clock position" à posição defendida pela revista e "nine o'clock position" à outra... (esta designação tem ainda a vantagem de não discriminar entre as várias orientações sexuais).

Pode parecer uma insignificância, deve ser uma questão de centímetros, mas em prol do rigor científico acho que o assunto merece uma investigação objectiva. Que tal então uns experimentos com casais de voluntários para obter medições exactas (com a régua) da distância entre as cabeças em ambas as situações? Medições feitas de preferência por técnicos qualificados, pois o casal envolvido no acto não deve estar em condições para poder garantir a fiabilidade dos resultados.

Se alguém considerar este post um exagero: tentei apenas extrapolar ao nível do artigo na revista "Cosmopolitan"...

Visite virtuelle sur les Champs-Elysées à l'Arc de Triomphe

É menos cansativo do que a pé.




Clique nas setas em cima da imagem ou ande com as teclas do cursor. É incrível. Também já disponível em Lisboa. Na rua onde moro vê-se o meu carro está estacionado à porta de minha casa...

03/12/2009

Nobel da Paz Obama manda mais 30.000 militares para o Afeganistão

Perfect timing, Mr. President!
Uma semana antes de ir receber (será que vai?) o Nobel da Paz Obama decidiu enviar mais 30.000 pacotes de "Kanonenfleisch" (carne para canhão) para o Afeganistão, pois "é dum interesse nacional vital" para os Estados Unidos.
Obama revelou ainda que os reforços vão custar 30 mil milhões de dólares (um milhão por pacote então, deve ser carne de boa qualidade).
Fazer a guerra agora para conquistar a paz e uma retirada total em 2011?
Não aprenderam nada no Vietnam?
Não, não aprenderam nada no Vietnam.

02/12/2009

Uma prenda de Natal de Albert Cossery (1913 - 2008)


Albert Cossery: mestre do escárnio, profeta do prazer e da preguiça.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Cossery


UMA PRENDA DE NATAL

A Antígona oferece aos seus leitores as primeiras páginas do romance para sempre inacabado de Albert Cossery, que morreu aos 94 anos, em Paris, em Junho de 2008, no hotel Louisiana, Rue de Seine, onde vivia há mais de sessenta anos.
Estas páginas manuscritas foram encontradas no seu quarto e constituem o princípio de um romance sobre o qual o escritor trabalhava, escrevendo, segundo ele, uma linha por semana…

De Albert Cossery, a Antígona publicou todos os seus títulos, ainda disponíveis:
– A Casa da Morte Certa
– A Violência e o Escárnio
– As Cores da Infâmia
– Mandriões no Vale Fértil
– Mendigos e Altivos
– Os Homens Esquecidos de Deus
– Uma Ambição no Deserto
– Uma Conjura de Saltimbancos
E, de Michel Mitrani, Conversas com Albert Cossery.




Uma época de filhos de cães

Mokhtar sentou-se na esplanada de um café de aspecto sórdido, mas cujo rádio difundia uma melodia da cantora mítica que lhe fazia lembrar Malika, a sua mãe, que não podia ouvir este lamento de um amor perdido sem que os olhos se lhe marejassem de lágrimas. A esta hora matinal, para além de um jovem adormecido sobre um banco, como um destroço rejeitado pela noite, o local proporcionava uma calma, sem dúvida precária, mas por agora propícia à reflexão. Evidentemente, não estava nas suas intenções reflectir de novo sobre a perenidade da estupidez humana, nem vituperar os lastimáveis dirigentes deste mundo, pois todos estes indivíduos se encontravam há muito esgotados e não eram merecedores de qualquer outra crítica mais aprofundada. Numa palavra, o que ele desejava de imediato era um recanto tranquilo onde pudesse recordar – antes que perdesse todo o sabor – o incidente burlesco que precipitara o seu despedimento do lugar de professor de uma escola de um bairro popular da cidade costeira, considerada histórica, a que chamam Alexandria. Tudo começara por uma discussão sem motivo aparente com o director do estabelecimento escolar, um homem pleno de ignorância e, ainda por cima, casado com uma mulher feia. Esta dupla particularidade tornava-o detestável e intolerante nas suas relações com as pessoas inteligentes e solteiras. Após algumas insinuações pérfidas acerca da concupiscência ligada ao celibato, este gerador de crianças degeneradas acusara-o de ter feito esquecer aos seus alunos, no espaço de alguns meses, o que eles haviam demorado muitos anos a aprender. Mokhtar, nada surpreendido com este elogio que considerava absolutamente merecido, não pôde resistir à tentação de dar uma estocada definitiva e global na hierarquia, mesmo que esta fosse de medíocre qualidade. Respondeu com um tom de comiseração, como se estivesse a dar os pêsames a um viúvo amargurado, que os seus alunos tinham mesmo assim aprendido uma coisa muito importante para o futuro: que o director desta escola era um burro, e que era preciso substituí-lo por um burro de verdade, certamente mais agradável de contemplar. Para qualquer espírito livre dos preconceitos seculares de sacralização do homem, era evidente que tratar um humano de burro constituía um insulto para o burro. Mas o director, incapaz de assimilar uma doutrina tão audaciosa, pôs-se a gritar que um louco estava a querer degolá-lo, atraindo com os seus berros uma matilha de salvadores benévolos que agarraram Mokhtar e o atiraram, com as imprecações habituais, para fora da escola.
A Mokhtar não desagradou esta expulsão brutal, que lhe conferia um estatuto de dissidente político e de mártir da liberdade de expressão, capaz de suscitar o interesse, para além dos mares, dos intelectuais dos ricos países democráticos. Estes bravos pensadores, adeptos de um humanismo sem fronteiras, tinham a faculdade de tornar célebre a pessoa mais insignificante do planeta, desde que esta tivesse sofrido alguns vexames ou alguns meses de prisão por parte de um governo qualificado, para a circunstância, de ditadura sangrenta. Esta ideia divertia-o como uma enorme brincadeira. Por um momento, entreteve-se com a perspectiva de um exílio dourado em terra estrangeira, solicitado e adulado por todas as cabeças pensantes do hemisfério ocidental. Tratava-se, e ele tinha consciência disso, de uma apoteose longínqua, e mesmo improvável, pela simples razão de que o género de dissidência de que era o genial inventor nada tinha em comum com uma oposição a qualquer governo. A Mokhtar todos os governos eram completamente indiferentes, fossem eles eleitos ou impostos pela força das armas, pois todos provinham do mesmo molde e eram compostos pelos mesmos malfeitores. Era, pois, estúpido querer derrubar um governo, para depois ficar diante de outro pior do que o anterior. E na obrigação de recomeçar indefinidamente esta comédia grotesca. Para Mokhtar, a única maneira de combater um regime político só podia conceber-se no humor e no escárnio, longe de toda a disciplina e das fadigas que qualquer revolução geralmente implica. Na verdade, tratava-se de conseguir uma distracção fora das normas e não uma prova debilitante para a saúde. O seu combate contra a ignomínia reinante não tornava necessário um grupo armado nem mesmo uma sigla que referisse a sua existência. Era um combate solitário, não uma congregação de massas ululantes, mas uma operação prazenteira de salvação da humanidade, sem lhe pedir a opinião e sem esperar uma autorização vinda do céu. Há muito tempo que Mokhtar decidira que o seu papel na vida seria o de dinamitar o pensamento universal e os seus miasmas fétidos que atulhavam há séculos o cérebro fraco dos miseráveis. Esmagadas e fragilizadas, as massas humanas ainda sobreviventes à superfície do Globo foram levadas a acreditar em tudo o que lhes conta uma propaganda que ofende em permanência a verdade. Afigurava-se-lhe com nitidez que o drama da injustiça social só desaparecerá no dia em que os pobres deixarem de crer nos valores eternos da civilização, um palmarés de mentiras deliberadas, programado para os manter para sempre na escravidão. Por exemplo, a honestidade. Os pobres estão convencidos de que a honestidade é a virtude fundamental que lhes vai salvar a alma das chamas do inferno, e esta crença condena-os a uma miséria endémica, enquanto os ricos, cujos antepassados inventaram a palavra, sem jamais terem acreditado nela, continuam a prosperar. É certo que esta análise, aparentemente pueril, da economia capitalista, não satisfará os espíritos sérios, inimigos implacáveis da verdade, porque o seu simplismo impede-os de parecer profundos. Três meses antes, quando se candidatou a este lugar de professor, Mokhtar não ambicionava de maneira nenhuma ser profundo em matéria de ensino. Professor era o emprego ideal para começar a pôr em prática a destruição do discurso pernicioso habitual em todos estes continentes, cuja tradicional impostura é proclamarem-se civilizados. Com efeito, a escola proporcionava-lhe uma ocasião magnífica para influenciar jovens alunos, mais dispostos à subversão do que os adultos anestesiados de longa data pelo vocabulário dominante. A indignação do director deu-lhe a certeza de ter sido bem sucedido, pelo menos em relação a uma parte ínfima da população, mas este magro resultado representava uma carga explosiva, manipulada por três dezenas de adolescentes dotados de uma consciência renovada, e que se preparavam para prodigalizar por todo o lado o seu novo saber. Mokhtar via este bando de alegres missionários crescer e disseminar-se por todos os países e, porque não, além-fronteiras em direcção às tristes cidades do Sul moribundo.
A visão deste futuro mirífico foi bruscamente perturbada pelos latidos de um cão que dava a impressão de ser de uma espécie rara, desconhecida no bairro. Havia nestes latidos uma notável dose de insolência e como que um desafio lançado contra sabe-se lá que raça maldita. Subjugado e seduzido por este desempenho, Mokhtar dispôs-se a procurar o animal com a intenção de o adoptar, caso ele tivesse fugido a um dono autoritário e mal-educado. A ideia de passear com um cão pela trela enchia-o já de júbilo como um ataque subtil ao mito insuportável da supremacia do homem. Pôs-se assim a inspeccionar a esplanada, mas, em vez de um encontro amigável com um membro eminente da raça canina, foi ofuscado por um esplendor de cores cambiantes sob os raios pálidos de um sol de Inverno, bruscamente surgido de entre as nuvens, como que para participar neste surpreendente espectáculo feérico. O responsável por esta intrusão excêntrica da moda, símbolo da modernidade, no cenário imundo da esplanada, era um jovem dos seus vinte anos, de físico atraente e porte aristocrático, sentado a uma mesa à entrada do café, e que exibia uma panóplia vestimentar de grande ousadia na escolha dos tecidos e das cores. Este jovem esteta envergara, para uma visita turística nestas paragens deserdadas, calças de linho branco, camisa de seda vermelha, bem aberta no peito, e casaco preto de caxemira, com um pequeno ramo de jasmim na botoeira. Para completar este traje magnificente e requintado, calçava sapatos de verniz, como os que usam os ministros e os proxenetas quando vão à ópera. Mas as originalidades deste enviado do diabo não se ficavam por aqui: estava a fumar um cigarro de haxixe, cujo fumo parado desenhava uma espécie de auréola sobre a sua cabeça.
Perante esta cena inusitada, Mokhtar aguardou calmamente o que se ia passar a seguir, estranhamente consciente de que este príncipe da elegância, perdido neste lugar, tinha para lhe transmitir uma mensagem da mais alta importância. Dir-se-ia que o portador da mensagem se apercebera desta expectativa e que estava pronto para lhe responder, pois, sem mais delongas, abandonou a sua pose descontraída, endireitou-se na cadeira, ergueu os olhos ao céu, e depois, com a determinação do cantor que entoa a ária que o celebrizou, pôs-se a ladrar com um tom implacável e obstinadamente sarcástico, parecendo assim exprimir a sua raiva para com os habitantes da casa em frente. Passado um momento, parou com os latidos e virou-se para Mokhtar, visivelmente satisfeito com a sua proeza.
Mokhtar aplaudiu discretamente para não acordar o homem adormecido no seu banco, único elemento de realidade tangível que o impedia de ficar alarmado. Sem qualquer dúvida, estes latidos continham um sentido oculto que ele tinha de decifrar o mais rapidamente possível, mas o imitador de cães furiosos não lhe deu tempo para isso ao desferir-lhe a seguinte frase insensata:
- Estava certo de que compreenderias.
- De onde vem essa certeza? – perguntou Mokhtar. – Gostaria muito de conhecer as razões dela.
O jovem pimpão, que se chamava Haydar, levantou-se para se ir sentar a uma mesa junto de Mokhtar e começou a falar com um tom fortemente caloroso, como se pretendesse cativar o seu interlocutor com vista a uma cumplicidade eterna.
- Passava por aqui, guiado apenas pelo acaso, quando te vi sentado, sozinho, neste café piolhoso. Mas, em vez da tristeza e do abatimento do solitário, pairava nos teus lábios um sorriso muito especial, o género de sorriso malicioso que é um desafio à infâmia universal. Sentias-te mais poderoso do que algum monarca jamais foi. Isto levou-me a pensar que tinha obtido a tua compreensão.

Tradução: Luís Leitão
Revisão: Carla da Silva Pereira


01/12/2009

O Teatro Obrigatório

O TEATRO OBRIGATÓRIO

Por que é que os Teatros estão vazios? Pura e simplesmente porque o público não vai lá. De quem é a culpa? Unicamente do Estado. Se cada um de nós se visse obrigado a ir ao Teatro, as coisas mudavam completamente de figura. Por que não instituir o teatro obrigatório? Por que é que se instituiu a escola obrigatória? Porque nenhum aluno iria à escola se a tal não fosse obrigado. É verdade que era mais difícil instituir o teatro obrigatório, mas com boa vontade e sentido do dever, não é facto que tudo se consegue?
E além do mais, não será o teatro uma escola? Então…
O teatro obrigatório podia, ao nível das crianças, iniciar-se com um repertório que apenas incluísse contos como o “Pequeno Polegarzão” ou “O Lobo Mau e as Sete Brancas de Neve”…
Numa grande cidade pode haver – admitamos – cem escolas. Com mil crianças por escola todos os dias, teremos cem mil crianças. Estas cem mil crianças vão de manhã à escola e à tarde ao teatro obrigatório. Preço de entrada por pessoa-criança: cinquenta cêntimos – a expensas do Estado, é claro – dá, cem teatros cada um com mil lugares sentados: 500 euros por teatro, faz portanto 50.000 euros para cem teatros, por cidade.
Quantos actores não arranjavam trabalho! Instituindo, distrito a distrito, o teatro obrigatório, modificava-se por completo a vida económica. Porque não é bem a mesma coisa pensarmos: “Vou ou não vou hoje ao teatro?” ou pensarmos: “Tenho que ir ao teatro!”. O teatro obrigatório levava o cidadão em causa a renunciar voluntariamente a todas as outras estúpidas distracções, às cartas, às discussões políticas na taberna, aos encontros amorosos e a todos esses jogos de sociedade que nos tomam e devoram o tempo todo.
Sabendo que tem de ir ao teatro, o cidadão já não será forçado a optar por um espectáculo, nem a perguntar-se se irá ver oFausto em vez de outra coisa qualquer – não, assim é obrigado a ir, cause-lhe o teatro horror ou não, trezentas e sessenta e cinco vezes por ano ao teatro. Ir à escola também causa horror ao menino da escola e no entanto ele lá vai porque a escola é obrigatória. Obrigatório! A imposição! Só pela imposição é que hoje se consegue obrigar o nosso público a vir ao teatro. Tentou-se, durante dezenas e dezenas de anos, convencê-lo com boas palavras e está-se a ver o resultado! Truques publicitários para atrair as massas, no género de “A sala está aquecida” ou “É permitido fumar no foyer durante o intervalo” ou ainda “Os estudantes e os militares, desde o general ao soldado raso, pagam meio bilhete”, todas estas astúcias não conseguiram encher os teatros, como estão a ver!
E tudo o que se gasta num teatro com publicidade passará a ser economizado a partir do momento em que o teatro se torne obrigatório. Será porventura necessário pagar publicidade para se mandar as crianças à escola obrigatória?
Como também deixará de haver problemas com o preço dos lugares. Já não dependerá da condição social, mas das fraquezas ou da invalidez dos espectadores.
Da primeira à quinta fila, ficarão os surdos e os míopes!
Da sexta à décima, os hipocondríacos e os neurasténicos!
Da décima à décima quinta, os doentes da pele e os doentes da alma.
E os camarotes, frisas e galerias serão reservados aos reumáticos e aos asmáticos.
Tomemos por exemplo uma cidade como Munique: descontando os recém-nascidos, das crianças com menos de oito anos, dos velhos e entrevados, podemos contar com cerca de dois milhões de pessoas submetidas ao teatro obrigatório, o que é um número bastante superior ao que o teatro facultativo nos oferece.
Ensinou-nos a experiência que não é aconselhável que os bombeiros sejam voluntários e por isso se constituiu um corpo de bombeiros. Por que razão o que se aplica aos bombeiros não se aplicará também ao teatro? Existe uma íntima relação entre os bombeiros e o teatro. Eu que ando pelos bastidores dos teatros há tantos anos, nunca montei nem vi uma só peça que não tivesse um bombeiro presente na sala.
O T.O.U., Teatro Obrigatório Universal, que propomos, chamará ao teatro numa cidade como Munique, cerca de dois milhões de espectadores. É pois necessário que, numa cidade como Munique, haja: ou vinte teatros de cem mil lugares, ou quarenta salas de cinquenta mil lugares, ou cento e sessenta salas de doze mil e quinhentos lugares, ou trezentas salas de seis mil duzentos e cinquenta lugares, ou seiscentas e quarenta salas de três mil cento e vinte cinco lugares ou dois milhões de teatros de um único lugar.
É preciso que cada um trabalhe no Teatro para se dar conta da força que daí nos pode advir, quando o ambiente de uma sala à cunha, com o público de – digamos – cinquenta mil pessoas nos arrebata!
Aqui tendes o verdadeiro meio de ajudar os teatros que estão pelas ruas da amargura. Não se trata de distribuir bilhetes à borla.
Não, há que impor o teatro obrigatório! Ora quem poderá impor senão… o ESTADO.

Carinhoso - Pixinguinha

Versão com sotaque de Portugal



Meu coração
Não sei porquê
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim
Foges de mim

Ah se tu soubesses como eu sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim
Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor
Dos lábios meus
À procura dos teus
Vem matar esta paixão
Que me devora o coração
E só assim então
Serei feliz
Bem feliz