04/08/2008

Mais saudades: Barcelona 1984!



























Folheando mais para trás no meu portfólio curricular das últimas décadas (bom passatempo em época de canícula) encontrei estas páginas (imagens aqui acima, clicar para ampliar), um pequeno registo da minha primeira viagem a Barcelona no Inverno de 1984.
Nessa altura comecei a entrar num processo de separação da pátria: estava no desemprego na área da Química e (certamente também por causa disso) comecei a descobrir os encantos da vida do músico de rua viajante. Nos anos anteriores já tinha passado grande parte do Verão em Paris, em 1985 estive em Veneza e Florença, em 1986 fui para Lisboa e cá fiquei!
Aqui acima, à esquerda os bilhetes dos meios de transporte da viagem em 1984 (não me perguntem porque os guardei):
- comboio Antuérpia - Gand;
- "Taxistop" Gand - Barcelona, uma ideia genial (não sei se ainda existe), um tipo de "last minute booking", não para aviões, mas para (auto)carros com lugares vagos, a tarifa era um franco belga (cinco escudos) por quilómetro; no entanto, desta vez houve um pequeno contratempo: o autocarro tinha como destino Benidorm e quando chegámos aos arredores de Barcelona, lá pelas quatro horas da madrugada, o motorista recusou-se a parar, só após um pagamento extra de 150 francos ele deixou-me sair, francamente...;
- passeio rural de autocarro entre Barcelona e Gerona, pelo caminho toquei em frente à escola primária da aldeia San Jordi, as crianças repararam no acordeão e gritaram "Toca, si us plau!", pedido irrecusável;
- comboio Gerona - Cerbere (fronteira espanhola/francesa);
- comboio para Perpignan (onde chovia torrencialmente) e logo a seguir para Montpellier, onde passei uns dias agradáveis de Primavera antecipada;
- outro "Taxistop" Montpellier - Lille(!), 1000 km. num Citroën de luxo, fantástico, a seguir comboio para casa, pelos vistos perdi os registos destas últimas viagens.

Em Barcelona não consegui grande coisa como músico de rua: a Guardia Civil, ainda com as fardas e os modos de agir da época franquista, não me deixou tocar nas Ramblas e nos estreitos "carrers" não se ganhava muito. Por outro lado, eu não tinha a noção que a minha "bata" de músico/vagabundo (polaroid na imagem à direita) que funcionava tão bem nas minhas actuações em Antuérpia, podia não ser o visual mais adequado em Barcelona... assim aprendemos sempre alguma coisa.
Como consequência estive lá hospedado numa pensão muito "simples", acho que foi perto do bairro portuário de Barceloneta, 250 pesetas por noite, consegui 1400 por semana, refeição típica "room service": pão, queijo, azeitonas, vinho de mesa.
E às vezes, quando voltava ao fim da tarde com o acordeão nas costas, eu ouvia o assobio de uma "guapita", a chamada de uma sereia profissional lá do bairro. Pois, para isso não dava mesmo...

10 comentários:

Pedro Fiuza disse...

tens de cá voltar, ainda que todas as pessoas daqui digam que esta cidade agora está completamente virada para os turistas, isto ainda continua a ser uma cidade incrível. ando a pensar também em, depois de uns anos de aventura barcelonense, ter uma aventura berlinense... acho que Berlim anda a chamar-me!!! mas agora espero é viver aqui coisas giras!!! do teatro estou de férias!!! moro na rua da Sagrada Família, é uma rua gigante, mas pronto, era só para dizer... hahaha

Anónimo disse...

Realmente, Pedro, 1984 - 1996 - 2008... os "intervalos sabáticos" indicam que está na altura de visitar Barcelona outra vez! Agenda, agenda, se calhar no início de Outubro, antes não consigo...avião não, comboio caríssimo, camioneta Eurolines ida e volta 147 euros, vá lá, vá lá.
Já prometi várias vezes visitar aí um amigo francês, Philippe, bailarino e durante mais de 15 anos (!) companheiro nas vindimas no Beaujolais, vive (pelos menos vivia há uns anos...) na Riera Alta, zona universidade, perto das Ramblas, vizinho e amigo de Manu Chao (no ano passado eu ia com a Kumpania Algazarra fazer a primeira parte do concerto dele na Galiza, mas ele cancelou no último momento), mundo pequeño!
Quien sabe, si supieras que aún dentro de mi alma, conservo aquel cariño....
Vamos ver, vamos ver...

Anónimo disse...

Rini,

Um dia, terás de explicar-me o que te fez ficar em Portugal...

Abraços,

RM

Rini Luyks disse...

Caro Rui M.,

Bem, uma explicação completa...
Em meados anos '80, além do desemprego no meu caso, havia na Holanda para muitas pessoas da minha geração outros factores negativos:
- a ameaça nuclear, tanto em relação aos perigos da energia nuclear como do armamento nuclear:
o lobby a favor da construção de novos centrais para produzir energia nuclear e a ameaça de estacionamento de mísseis nucleares Pershing e Tomahawk (1983, em Woensdrecht, a cinco quilómetros da minha casa!) levou muita gente a temer o Apocalipse, amigos meus emigraram para "nuclear free zones" como Nova Zelândia...;
- na altura também estava generalizado na Holanda (na minha opinião) um sentimento de saturação: o Estado Providência era capaz de garantir a subsistência "van de wieg tot het graf" ("do berço até a sepultura"), mas então: "porque as pessoas não são felizes!?".
Agora, entre pensamentos deste tipo e a decisão efectiva de emigrar ainda há aquele espaço de tempo de "chegar ao grau necessário de desespero".
Foi então inicialmente mais a necessidade de "sair daqui" do que "ir para lá"...
Mudando para um registo mais "allegretto", vantagens de Portugal como refúgio para um estrangeiro europeu:
- tudo acontece aqui com algumas décadas de atraso, incluindo o Apocalipse (espero);
- já em 1986, quando cheguei a Portugal, reparei que aqui as pessoas com comportamento algo anómalo não são imediatamente arrumadas em manicómios, mas circulam livremente na via pública, uma situação que considero bastante saudável; ainda na manhã do sábado passado fui fazer uma acção musical para as crianças na Casa do Gil, ao lado do Hospital Júlio de Matos, e encontrei lá perto em quiosques e pastelarias vários "maluquinhos à solta", é uma alegria!

Anónimo disse...

Já estou mais descansado. Lembro-me bem da polémica do nuclear. No entanto, a acreditar nos inquéritos regularmente publicados, os holandeses (juntamente com os escandinavos) consideram-se dos povos mais felizes da Europa. Mas, claro, há excepções. A maioria dos meus amigos portugueses também não percebem porque é que eu ando sempre a queixar-me. Talvez a solução esteja na Nova Zelândia...quem sabe?

Rini Luyks disse...

Já sei, Rui, é isso!
Nós, holandeses, gostamos muito de queixarmo-nos, mesmo quando não há nenhuma razão para isso (como na maior parte das vezes é o caso na Holanda).
Por isso Portugal é um paraíso para mim, finalmente tenho verdadeiras razões de queixa, sinto-me realizado!

Cláudio disse...

Ainda há o Tejo... E o cheiro a roupa lavada de Alfama. Disso não tem a Holanda! Nuncam lavam a roupa: compram sempre nova, estão cheios dele!

Anónimo disse...

Há (muitos) holandeses que não lavam a roupa, mas também não compram roupa nova. Nos anos '90 foi feita uma contagem: na Holanda são criados 15 milhões de habitantes e 15 milhões de porcos. Está tudo explicado.

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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