12/12/2006

A Genialidade do Simples - Um Hino à Existência


Acordei hoje com a necessidade vital de ouvir o segundo andamento do concerto para violino BWV 1056 de Bach pelo maravilhoso Pinchas Zukerman, numa das melhores e mais lentas interpretações desta obra que por mais que a ouça, a lágrima teima sempre em espreitar. Ouvir tamanha beleza é um acto de auto prescrição de um medicamento que incrementa a crença de que a humanidade nunca estará perdida. Ou seja, uma droga que nos faz criar ilusões ou uma inevitável crença num Ser superior.
O Título linka ao único mp3 que consegui encontrar na net,numa versão muito pior que a do Zukerman.

26 comentários:

Anónimo disse...

Vê lá o que é que ouves na ressaca...

Rui Rebelo disse...

Thimar é bom para a ressaca, mas com guronsam

Rui Rebelo disse...

Vou abrir uma farmácia de música. Posso receitar música para todo o género de situações, efermidades e estados de espírito.
O consultório está aberto. Peçam que eu receito.

Anónimo disse...

eu quero saber que música devo ouvir para combater a incompetência nacional?

Rui Rebelo disse...

Para tal não há remédio. Só se conseguires que todos os incompetentes ouçam as suas próprias vozes...
Mas para efeitos de largo espectro prescrevo Bach.

Rini Luyks disse...

Na RTP ouve se agora diariamente, tipo jingle, a "Lacrimosa" do Requiem em Ré menor K.626 de Mozart, tentativa de consolação permanente para que ficássemos conformados com o Estado das Coisas. Como anti-doto oiço o Kyrie da Missa em Dó menor K.427 do mesmo Amadeus, tão magistralmente aplicado na cena da tempestade no filme "Les triplettes de Belleville", de preferência com uma garrafa de tinto ao lado e jogando xadrez de ataque na internet. Que remédio..
Anacruzes, anacredo, anasatanas...

Anónimo disse...

caro palhaço do xadrez,

folgo em saber que te auto prescreves com alguma sensatez. Esta coisa de ouvir música não é tão simples como pode parecer. Pode ser nocivo e bastante prejudicial para a saúde e eu creio mesmo que a salvação da humanidade passa por ouvir coisas melhores e deixar de ouvir as autênticas armas nucleares sonoras.

Anónimo disse...

só mais uma coisa sr palhaço do xadrez,
o Kyrie da Missa em Dó menor K.427 pode ter os seguintes efeitos secundários: Satisfação inexplicável, estados de sonolência, sensação de leveza, por vezes acompanhada de ligeira "lacrimejação".
contra indicado para discussões, lutas, e acompanhamento de exercício físico.

Rini Luyks disse...

Curioso mas também bonito como a mesma música pode produzir efeitos tão diversos em indivíduos da mesma espécie. Eu estava a referir-me ao fragmento cantado do Kyrie entre minuto 0.20 e 1.50. Exercício sugerido: acompanhar as frases cantando só em Dó com um número mínimo de respirações (eu faço três e ainda sobre), a seguir idem cantando uma segunda voz; especialmente recomendado a fumadores para terem noção do estado físico (lamentável!?) em que se encontram.
Efeitos primários: satisfação explicável, os pés bem na terra e (no meu caso, às vezes) vontade de mudar o mundo.
Já agora, por associação, um pequeno aparte: na minha terra, a Holanda, os criadores de porcos conseguem bons resultados com esta música. Nas pocilgas de grandes dimensões com meio metro quadrado para cada porco, o combate ao stress dos animais é importante para melhorar a qualidade da carne. Até parece que os estrangeiros ilegais, empregados lá para dar de comer aos bichos, se queixam menos dos ordenados em atraso.

Rini Luyks disse...

...eu faço três e ainda SOBRA...

Rui Rebelo disse...

vou fazer esse exercicio.
Os meus peixes, que resistiram a àgua bem porca e esquecimento de comida, começaram a morrer quando o meu piano ficou desafinado o suficiente para eu já não conseguir tocar nele. O hábito que tinham de se encostar a um canto do aquário a ouvir-me tocar deu-lhes longividade e vontade de a ter.
a minha filha bebé acalma as coligas com taças tibetanas ou harmónicos de cordofones.
Eu uso o quinteto de clarinete do Mozart (dependendo de que andamento) para quase tudo, é uma espécie de paracetamol musical.
vai dando notícias palhaço do xadrez, é um prazer trocar estas ideias com outros musicoterapeutologistas.

Rini Luyks disse...

Aaah, coitadinhos dos peixes...
Falando em "longevidade", caro Rui, eu tenho um problema bastante invulgar nesta época do ano, a longevidade de alguns mosquitos aqui em casa. Não são muitos mas o suficiente para me tormentar mesmo na Noite de Consoada, imagina!
Pensando nos teus peixes outrora felizes: nos últimos meses tenho tocado acordeão em casa muito mais do que o habitual (tinha que decorar um repertório de vinte e tal músicas da minha nova banda, veja o meu comentário ao post da descarada wish list do Mota). Será que os sons do meu instrumento funcionam como feromonas sonoras para mosquitos? Já estou a ver a cena: a minha casinha é pequena, mas um mosquito solitário é ainda muito mais pequeno, deve ter imensas dificuldades de encontrar aqui uma namorada (mosquitos também têm namoradas, suponho).
E agora o bicho a ouvir quatro, cinco horas por dia este chamamento (nomeadamente os registos de bandoneon e bassoon devem levá-lo ao enlouquecimento), sem que os sons se substancializem num corpozinho apetitoso.
Perfeitamente natural que ele se queira vingar do causador desta ilusão dolorosa durante a noite. E não pica logo, não, só depois de umas horas de um glissando num leque de várias dinâmicas e intensidades. Esta música sim, caro Dr. Partituras, provoca-me ataques de forte "lacrimejação", mas são de fúria.
Que faço, caro colega farmacêutico de música, sem recorrer às "bombas atómicas" do tipo Bayer Advanced PowerForce Mosquito Killer, Raidmax, etc. que não entram na minha casa?

Anónimo disse...

Mosquito e pernilongo são termos gerais para designar diversos insectos da subordem Nematocera, especialmente os da família Culicidae. As fêmeas são também conhecidas como melgas.
Como os outros membros da ordem Diptera, os mosquitos têm um par de asas e um par de halteres, que são modificações das asas posteriores usadas como órgãos de equilíbrio. Nos chamados mosquitos a probóscide (tromba) está adaptada para a sucção de líquidos como néctar, seiva ou sangue.

Em geral, apresentam dimorfismo sexual acentuado: os machos apresentam antenas plumosas e as fêmeas apresentam antenas pilosas e são muito mais corpulentas; em quase todas as espécies elas alimentam-se de sangue de vertebrados (incluindo o homem) para maturar seus ovários antes de pôr os ovos.

Os mosquitos existem há 170 milhões de anos (Jurássico médio) e há cerca de 2.700 espécies de mosquitos, organizadas em cerca de 35 géneros.

Isto para lhe dizer que a prescrição nestes casos tem de ser avaliada consoante o tipo de mosquito pois eles reagem de formas diferentes à música ou mesmo a uma simples conjugação de frequências e timbres sonoros. A Bach poderia ter efeitos catastróficos no mosquito ornitófilo enquanto no mosquito vulgaris provoca um aumento da libido.
Proponho que simule o som de um insecticida de 15 em 15 minutos ou em alternativa, arranjar forma de emitir um som a 44000 Hz que é o lá deles, ou seja a deixa para eles se chegarem para lá. Claro que qualquer uma destas receitas deve ser acompanhada de uma bebida branca que, no caso de não funcionar, sempre picado e picador se sentem mais satisfeitos.

Rini Luyks disse...

Caro Dr. Partituras, obrigado pela sua exposiçaõ científica, mais uma prova que o Homem tem de se inclinar impotente e humildemente diante a (riqueza de variedades na) Criação, um Pensamento que se enquadra bem nesta época de Natal. Não me resta outra solução que puxar lençois e cobertores por cima da cabeça, as alternativas parecem-me demasiado laboriosas ou podem até revelar-se contraproducentes...

Anónimo disse...

Há também uma prescrição para efeitos preventivos que seria houvir Carlos Gardel com as janelas fechadas e pouca luz.

Rini Luyks disse...

Com Carlos Gardel nem é preciso fechar as janelas:
...."Al cotorro abandonado ya ni el sol de la mañana asoma por la ventana como quando estabas vos...
Y aquel perrito compañero que por tu ausencia no comía, al verme solo, el otro dia, también me dejó-hó-hó-hó-hó....
(fragmento "La cumparsita", letra de Pascual Contursi e Enrique P. Maroni, em www.clubdetango.com.ar/)

Anónimo disse...

pois é caro palhaço do xadrez, receio que com as janelas abertas os mosquitos argentinos possam ir matar saudades da pátria, principalmente se tiver as luzes ligadas e se for de noite.
Há sempre a solução das doses homeopáticas de Piazzolla, administradas em dosagens de 3 compassos de hora a hora, retirando todos aqueles que são antecedidos de anacruses.

Rini Luyks disse...

Tendes razão, caro Dr., o que eu queria dizer era: "Com Carlos Gardel nem é preciso fechar (nem abrir) as CORTINAS (.."ni el sol de la mañana asoma por la ventana"..). Dei com a língua nos dentes: na minha casinha de palhaço pobre as cortinas estão coladas à janela, esta em dimensões manifestamente insuficientes para iluminar a minha vida caseira como deve ser. E ainda por cima um gajo a pagar 85 contos de renda para isto.
Custa um bocado expor assim a minha indigência à comunidade internauta, procura-se então uma casa com janela maior e renda mais baixa.
Em relação a Piazzolla, caro Dr., se vamos retirar-lhe todos os compassos antecedidos de anacruses, não acha que vai imperar o Silêncio? O que não deixa de ser a Essência da Música.

Rui Rebelo disse...

o problema das anacruses é esse, não podem ser retiradas...
Agora ando a fazer um exercício herculico de tentar cantar o prludio nº1 do JSBACH à semelhança do Bob McFerrin, postado em cima.
Quando já souber fazes o Gounod no acordeão. combinado?
Estou a cantar em Lá.
abraço

Rini Luyks disse...

Caro Rui, depois do visionamento do video do Bobby McFerrin, teu post neste blogue do dia 20 de Dezembro, concordo que este exercício é hercúleo. Ao mesmo tempo também não fiquei insensível ao teu repto justificado, lá depois do video: "Ninguém comenta este post?" Eu podia copiar aqui esse meu comentário (isto fica para mais tarde, na edição em livro desta "Farmácia da Música"), mas mais simples será agora pedir ao caro leitor para ir ao arquivo deste blogue e fazer clique no item "Bach/Gounod - Avé Maria". Depois, caro Rui, em relaçaõ ao teu desafio no comentário anterior, já deves perceber onde é que eu quero chegar....
Isto não obstante o facto de eu considerar o Gounod em acordeão mais sensual do que em violoncelo (a viola da gamba, enclausurada entre as pernas, era outra coisa!) e até capaz de competir com o Prelúdio de Bach em canto.
Por isso aceito a tua sugestão, vamos a isto!

Anónimo disse...

Caro palhaço do xadrez,

continuamos no postal do Avé Maria e o próximo postal que fizer vai ser a abertura oficial do consultório musical que penso ter um dr contratempo para colaborar comigo. Estou a procurar uma dra com fusa mas está dificil.

Rui Rebelo disse...

Bom,

este post está prestes a ser passado para as postagens mais antigas. para os inúmeros fãs digo que o que vem aí é muito melhor. É um verdadeiro consultório musical online e gratuito.

até lá

Rini Luyks disse...

Caro Rui, caro Dr. Partituras, foi um prazer dissertar convosco neste post sobre Bach, Mozart e tango, lardeado com alguma bicharada.
Que o ano 2007 seja frutífero para todos nós em todos os aspectos.

Anónimo disse...

A mim tabem me acontece com quase todo o bach. no outro dia estava a ver o "Chocolate" com a Juliete B. e passou uma passagem duma gimnopedie d Eric S. e desfis-me em lágrimas. Quem é q já viu o "Barry LYndon" do Kubrick.É potente...

Anónimo disse...

Caro Gonçalo Lopes,

É prefeitamente normal esses estados emocionais alterados com as peças mais sensiveis do Bach.
As Gimnopedies tepressivos quanto a êm um efeito extra sensorial que por vezes pode ser perigoso. Satie comunha com bases cabalisticas e de numerologia, foi uma espécie de esperimentalista dos quais ainda estamos a estudar os efeitos. Quando ouvido em conjunto com determinadas imagens pode levar tanto a estados de euforia extrema.
aconselho-o a ouvir John Surman pela manhã a db moderados durante uma semana e não mais que 30 minutos diários. Depois volte cá para dizer o que se passou. Se tiver algum problema mais grave ou uma situação que queira ver resolvida não esite em contactar-nos.

cumprimentos,

Dr. Partituras.

Anónimo disse...

agradecia-lhe, caro G.L. que postasse os seus comentários no nosso consultório:
http://anacruses.blogspot.com/2006/12/consultrio-musical-possvel-soluo-para.html

obrigado e até breve.