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.....Recentemente o Metropolitano de Lisboa decidiu remodelar, modernizar, ampliar, etc. várias das estações mais antigas e não foram de modas. Avançaram para as paredes e sem dizer água vai, picaram-nas (eu já sabia, pelo nome da estação "Picoas" - sem tracinho, para desfarçar, R.L.) sem se darem ao trabalho de (antes) retirar os painéis de azulejos, ou ao incómodo de dar uma palavra que fosse à autora dos ditos.
.....Recentemente o Metropolitano de Lisboa decidiu remodelar, modernizar, ampliar, etc. várias das estações mais antigas e não foram de modas. Avançaram para as paredes e sem dizer água vai, picaram-nas (eu já sabia, pelo nome da estação "Picoas" - sem tracinho, para desfarçar, R.L.) sem se darem ao trabalho de (antes) retirar os painéis de azulejos, ou ao incómodo de dar uma palavra que fosse à autora dos ditos.
A parte "realmente boa" desta história é que, ao contrário de todos os arquitectos, engenheiros. escultores, pintores e quem quer que seja que veja uma sua obra pública alterada ou destruida sem o seu consentimento, Maria Keil não tem direito a qualquer indemnização.
Pergunta-se "porquê?". Porque no Metropolitano de Lisboa há juristas muito bons, que descobriram não ser obrigatório pedir nada, nem indemnizar a autora, de forma nenhuma....exactamente porque ela não cobrou um tostão que fosse pela sua obra!!!
Este crime silencioso não pode continuar impune. Pior do que o crime em si será o (nosso) silêncio à sua volta.
Como tal os abaixo assinados exortam o Conselho de Gerência do Metropolitano de Lisboa a, rapidamente, diligenciar obter os desenhos dos painéis destruidos e mandar executar, à empresa que produziu (Viúva Lamego) novos painéis...."
(Fragmento da petição http://petitiononline.com/MK2008PT/ , lançada no blogue "A Face Oculta da Terra").
Na mesma noite às duas da madrugada enviei um e-mail para as Relações Públicas do Metro:
"Exmos. Senhores,
"Exmos. Senhores,
Acabo de ler o post de 18 de Setembro do blogue http://faceocultaterra.blogspot.com/ , um texto no qual os juristas (e por isso também o Conselho de Gerência) do Metropolitano não ficam muito bem "na fotografia".
Queria perguntar:
1) qual é a reacção do Metropolitano a esta notícia?
2) se a notícia for verdadeira, o que pensa o Metropolitano fazer para remediar esta situação escandalosa?"
Antes do meio dia(!) chegou a resposta:
"Exmo. Senhor,
Acusamos a recepção do seu e-mail, o qual, face às preocupações manifestadas, mereceu a nossa melhor atenção.
O Metropolitano de Lisboa tem pautado a sua actuação ao nível das intervenções plásticas nas suas estações por uma rigorosa defesa da qualidade artística das mesmas e por um profundo respeito pelos artistas que nelas intervieram. A esse respeito, o facto de ser elogiado a nível mundial, por essa mesma qualidade e cuidado na ligação de um espaço público de transporte de passageiros à intervenção plástica em espaços públicos, é uma confirmação do respeito que os artistas plásticos nos merecem.
A prática que tem sido seguida pela empresa é a de garantir o respeito pela originalidade do trabalho plástico e do património, apesar das intervenções levadas a cabo que têm como objectivo a melhoria das infra-estruturas.
Os painéis de azulejos que, fruto da reestruturação das estações mais antigas - por necessidade de segurança e, mesmo, higiene - e do actual alargamento da rede de metropolitano, conflituam com as obras em curso são retirados, ou na eventualidade de destruição indesejada, são repostos garantindo, o mais possível, a configuração original. É o caso da intervenção na estação de S. Sebastião, em que, os painéis destruidos pela intervenção de alargamento e de duplicação da mesma serão repostos, mantendo a originalidade, graças ao acordo entre o Metropolitano e a artista Maria Keil.
A excepção mais relevante a estes procedimentos ocorreu, de facto, na estação Restauradores, em que parte dos azulejos originais não foram repostos (mas sim destruidos, R.L.), no âmbito do alargamento da rede de Metro à Baixa-Chiado.
Com os melhores cumprimentos,
Sara Plácido, relações públicas.
Pronto, sabemos agora quais são os estragos, mas o Metro ainda não assumiu nenhuma culpa por incúria.
Por isso, caros leitores: toda a razão para assinar a petição acima mencionada!
13 comentários:
Acho que esta petição não faz sentido pelo simples facto de que a remodelação em causa não aconteceu recentemente, como ali se afirma, mas há mais de uma dezena de anos, tendo o caso já sido dado por resolvido pela própria Maria Keil (cf. As Causas da Júlia e o texto que está na área "actual" de Viriatoteles.net). Não queiramos ser mais papistas do que o Papa! Assim, acho que esta petição é uma luta por coisa nenhuma.
Caro Carlos António,
- O facto de a remodelação ter acontecido há mais de dez anos não faz prescrever o crime da destruição dos azulejos (não negada na resposta do Metro às minhas perguntas!).
- "Caso já resolvido pela própria Maria Keil"?? Como diz (e muito bem) Carlos A. Augusto hoje no blogue "A Face Oculta da Terra": "Os painéis faziam parte do património artístico do país. Não eram do Metropolitano, nem já sequer da autora. Eram nossos!"
- Li atentamente a nota de "mea culpa" no blogue "As causas da Júlia". Mesmo se as afirmações sobre os juristas do Metro (que pelos vistos foram o rastilho para esta explosão blogosférica) foram empoladas e não verificadas, acho que o recuo da Júlia é desproporcional. Dizer que "nem o actual Governo nem a Administração do Metro em exercício tem alguma coisa a ver com o assunto" para a seguir "pedir desculpas públicas a Maria Keil, profundamente incomodada com esta guerra" parece-me mais um acto de prestar vassalagem ao poder. Socrates agradece!
Quem tem de pedir desculpa aos portugueses todos é o Metropolitano! O "Não fomos nós" não existe.
- Todos estão de acordo: foi provado a força da internet e da blogosfera na mobilização da opinião pública!
O Carlos António acha então que esta é uma "luta por coisa nenhuma"! Uma entidade pública destruiu uma parcela do seu e nosso património, saiu com toda a impunidade de tudo isto e o meu amigo acha que isto não merece crítica e reflexão?! O acto do Metro desvanece-se com a idade? Destruir hoje património é condenável, mas como foi há dez anos já passa? Explique lá porque não percebi...
Por favor, não leiam o que eu não disse!
É claro que a destruição do património, seja por entidades públicas ou privadas, merece toda a crítica e reflexão. E é claro que o acto do Metro não se desvanece com a idade. A questão é que esta guerra está a ser travada como se tudo se tivesse passado agora! Gaita, eu também não gosto do Sócrates, nem um bocadinho. Mas, por isso mesmo, tenho a obrigação de ser rigoroso nas críticas. Sócrates é mentiroso? É. Enganou os portugueses que votaram nele? Enganou. Agora isso não nos dá o direito de lhe atribuir culpas que o homem não tem! Ou então estaremos a ser tão mentirosos e falsos como ele.
Se isto é prestar vassalagem ao poder, eu vou ali e já venho...
Há aqui uma obsessão qualquer da Júlia/ Carlos António com Sócrates e o governo, que eu ainda não percebi...mas, então, a petição é contra o governo? É caso para dizer: por favor, não leiam o que não está lá escrito!
Leiam lá bem o último parágrafo da petição e não inventem fantasmas onde eles não existem.
Em primeiro lugar, quero esclarecer muito bem que NÃO sou a Júlia, sou apenas um cidadão apanhado a meio desta guerra. Na verdade, a petição não fala no governo. Diz só que "recentemente a Metro de Lisboa decidiu, etc.", quando de facto NÃO foi recentemente, mas há uma boa dúzia de anos. Ao governo referiram-se vários dos blogues que participaram na divulgação dos posts da Júlia e do Samuel. E referiu-se, indirectamente, o Rui Lyuks ao acusar a Júlia de estar a prestar "vassalagem ao poder". Foi por isso, SÓ POR ISSO, que retomei o tema no meu comentário.
Carlos António,
Já toda a gente percebeu, que os factos não foram recentes. Quem escreveu a frase "recentemente, etc." foram os divulgadores iniciais do texto que os autores da petição usaram. Eu também sei que o CA não é a Julia, mas não deixa de ser curioso ambos usarem os mesmos argumentos relativamente ao goveno, como se a petição fosse contra este ou outro governo qualquer...
Quem escreveu a frase "recentemente" foi o Samuel. A Júlia escreveu um texto que localizava os factos no tempo mas não o fez tão claramente que não ficasse espaço para a dúvida. E terá sido isso que induziu no Samuel (e nos outros todos a seguir) a ideia do "recentemente". E esta ideia levou a que muitos outros blogs(não foi o caso deste) desatassem logo a apedrejar... o governo. É este efeito de bola de neve que me chateia, já que pessoalmente estou-me nas tintas para o governo, mas acho que convém atacá-lo por razões mais objectivas, e há muitas.
Entendo que a petição não foi contra ninguém, mas a favor de uma obra de arte. E foi feita e assinada por gente boa, gente de bem. Não tenho, nem nunca tive, qualquer dúvida sobre isso, Mas (exagerando, como em todas as caricaturas) parece-me que travar esta guerra 20 anos depois é quase como se agora desatássemos a correr atrás dos franceses por nos terem invadido há 200 anos...
Caro Carlos António,
Já admiti (no blogue "A Outra Face da Terra") que "vassalagem ao poder" foi uma expressão forte, mas como costumo dizer: "nós, alguns holandeses, somos assim: causticos, acutilantes e corrosivos", sempre na primeira fila para estimular uma boa discussão. De resto, ainda não (ou)vi nenhuma refutação dos outros pontos do meu primeiro comentário neste post.
Entretanto, seja bem-vindo ao nosso blogue, se calhar vai encontrar outros assuntos do seu interesse...!?
...e gostei de ver esta nova versão portuguesa do meu nome: RUI LYUKS, a juntar à dezena que já existe ...
Por mim, está tudo mais do que esclarecido. Quanto ao blog, cheguei aqui por acaso justamente a propósito desta história. E fiquei "assinante".
Quanto ao resto, eu não sou holandês, mas também gosto duma boa discussão. Sobretudo por bons motivos, como foi o caso.
Gostei da ideia de ir atrás dos franceses 200 anos depois... e com os holandeses? Não tivémos recentemente uns problemas em Pernambuco?
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