15/04/2008

Acordo Ortográfico ou Aborto Ortográfico?




Eis um assunto delicado para eu me meter, sendo estrangeiro....

Mesmo assim: há quase 20 anos, ainda a aprender a língua portuguesa, comprei nos saldos um livro de bolso com contos brasileiros. Na primeira frase li a palavra "fato".... e só meia página de confusão depois percebi que não se tratava de "peças de roupa", mas de um "facto". Horrorizado fechei o livrinho para nunca mais o abrir!

E como vai ser agora? Egípcio e Egito? Ação e atuar? "Concepção" (acto de conceber) vai ficar "conceção" e soar como "concessão" (acto de conceder)? "Excepção" ou "exceção" ? (que me soa como um grande "excesso"!) Para não falar da supressão do h inicial (úmido?), do desaparecimento dos tremas, hífens e acentos (exemplo de Vasco Graça Moura ontem na RTP: o postal com a mensagem "Andamos na Grécia"; se o acento já não se usa, como sabemos se é presente ou perfeito simples?).

Pode soar fundamentalista, mas para mim, holandês, os 5 anos de Latim no ensino secundário (que grande privilégio, digo agora!) foram uma ajuda inestimável para a aprendizagem do português. Acho que se vai perder esse elo com o aborto maciço de todos aqueles c-zinhos e p-zinhos, coitadinhos!

Ontem à noite, no programa "Prós e Contras", falou-se também do papel muito preponderante (até chamado "neo-colonialista") das Academias brasileiras e portuguesas na "fabricação" do Acordo, em detrimento de outras comunidades lusófonas sem centros de estudo (África, Ásia).

10 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Há uns anos, comprei um dicionário enciclopédico ou uma "enciclopédia dicionárica".

Tiveram azar.
Logo eu que não sei nada de química, pego num dos cerca de 20 volumes e o que vejo
"A", entre muitas coisas, símbolo químico do Árgon.

Na altura não havia as "mordomias" que quem paga, deve ter ...

Fui à sede da "EDICLUBE", com os livros amarrados, como se fossem um monte de lixo e depois de colocá-los sobre o balcão, ao ser atendido ... ainda me queriam chamar estúpido.
Posso não ser esperto, nem pretendo sê-lo, mas não gosto de ser levado.
Chamei a polícia e obriguei o agente a fazer um "auto de participação" contra a Ediclube, que me estava a vender mentiras.

Conclusão :
Uns tempos depois, recebi uma nota da empresa a pedir desculpas e que tinha um crédito de não sei quantos escudos.
Exigi dinheiro vivo e recebi-o mesmo.

Que felicidade!!!
Nunca mais me enviaram publicidade ... e o símbolo químico do àrgon ficou mesmo "AR".

Andreia Azevedo Moreira disse...

Pois, visto assim não concordo com o acordo... Não consigo decidir se concordo ou discordo do dito cujo...

Anónimo disse...

eu fico muito contente por ver debatido este tema. a maioria das pessoas não tem noção nenhuma do quanto isso vai afectar (ou afetar) a nossa vida.... se o português de Portugal é a língua mãe, não devíamos ser nós a fazer a maior parte das alterações. não concordo nada com este acordo!!! :(

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Contribuição à discussão de Odete Santos (agora em directo na RTP 1): "E se tiramos o acento ao cágado, o pobre animal fica cagado!"

Anónimo disse...

Tens toda a razão Rini. Não que esteja muito preocupado, pois vou continuar a escrever como aprendi (e, pelos vistos, tu também).
O que se passa é que ESTE Acordo é uma reacção provinciana de Portugal, quando o Brasil passou a ser a 9ª potência económica do Mundo e está em vésperas de tornar-se membro do Conselho de Segurança da ONU. Os homens de negócios (editores, incluídos) pensam que "uniformizando" a língua vendem mais produtos culturais...Como se o Saramago ou o Lobo Antunes, pudessem ser uniformizados! Nunca os portugueses deixaram de ler os livros escritos em português do Brasil e vice-versa. Porquê, agora?
Obviamente que existe aqui uma posição neo-colonialista, desta vez ao contrário.
Sobre este assunto, aconselho a ler o excelente ensaio de Vitorino Magalhães Godinho, no "JL" nº 978, de 26 de Março, sob o título: "A língua portuguesa em tratos de polé". Penso que está lá o essencial.

Helena Velho disse...

Olhe a minha sorte: já escreveram o meu primeiro nome com I e com E ,mas fui registada com H(mudo, claro, mas com H) agora ( e agora brincando) "me diga, visse?" Como escreverei meu nome??"um baita dum probrema...";)
Como vivemos tantos anos a entendermo-nos é que eu não entendo( passe a redundância)!?
Isto do colonizador ser uma formiga e o colonizado um elefante tem as suas repercussões!!

Ni disse...

Tens no meu blog uma petição contra o Acordo Ortográfico!
É só assinar... já somos Muitos!!!!

Beijinhos***

Anónimo disse...

e o aborto musical?

Anónimo disse...

Sou brasileiro nato. No Brasil houve uma reforma ortográfica na década de 70. Em 2010,ainda há brasileiros que nasceram após a reforma e que ainda não assimilaram aquela reforma de 40 anos atrás.

A língua inglesa tem grafia e significados diferentes no Reino Unido, Estados Unidos, Austrália, etc. Nunca ouvi falar de um movimento para unificar a escrita do inglês ou para abortar as letras que não são pronunciadas.

Na verdade, todos os argumentos dos acordistas são falácias para distrair e ocupar a população com bobagens quando, na verdade, deveríamos estar promovendo a educação da população e elevando o nível do português escrito e falado. Ensinando o latim, lingua mãe, ensinando os clássicos brasileiros, portugueses e outros. Em tempos passados, o Brasil cultivou um português de excelente nível, mas agora está se deteriorando sem que a população o perceba, pois a cultura geral também está se deterioriando, assim como a capacidade de raciocínio da população.

Nosso Presidente, nossa futura PresidentA, políticos como o Tiririca, com mais de um milhão de votos, e o baixo nível de escrita em blogs e jornais atestam a nossa decadência linguística e cultural, agora sacramentada pelo aborto ortográfico... Estamos de luto pela cultura no Brasil e pela língua portuguesa!!!