"O ainda embaixador português na Unesco, Manuel Maria Carrilho, afirmou esta quinta-feira que hoje Portugal «tem políticos mais autoritários» do que no passado recente porque são pessoas «impreparadas» para o poder e que para se defenderem tendem a «gerar o medo» nos outros.
Carrilho não pronunciou o nome de José Sócrates mas as críticas eram-he dirigidas. «Os grandes estadistas não geram medo, gostam da crítica e do debate», continuou, em entrevista na SICN, lembrando que no PS não ha verdadeiro debate desde 2004, altura em que Sócrates foi eleito secretário-geral do PS, mas apenas reuniões a que chama de «debates com teleponto».
Como pecados capitais dos actuais políticos, o ex-ministro da Cultura de António Guterres aponta «a demagogia» e «o deslumbramento», nomeadamente com as novas tecnologias, como o Magalhães, e a propaganda.
Sobe a sua anunciada substituição como embaixador da Unesco, Carrilho explicou que exerce as suas funções «sempre com muita liberdade e desapego aos cargos» e que a sua recusa em votar no candidato egípcio Farouk Hosni a director-geral da Unesco, em 2009, (e que esteve na base da decisão do Governo em o afastar) não devia ter sido surpresa para quem o nomeou. Lembrando que o egípcio «perseguiu escritores e impôs censuras», afirmou: «Se alguém esperava que eu fosse para uma organização de direitos humanos votar numa pessoa com aquele passado é não me conhecer»."
(Artigo no jornal SOL desta semana)
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R.L. - Agora que já foi "saneado" do seu posto, Carrilho já não se cala! Gostei e também gostei do comentário duma leitora:
"Mariaaa07-10.2010 - 22:39
Confesso que nunca gostei muito do senhor M M Carrilho. O seu ar de superioridade sempre me irritou, mas ao mesmo tempo confesso que cada vez mais o admiro pela sua postura na manutenção dos valores que em consciência defende e mantem sem se sujeitar a pressões vindas de quem nunca lhe chegará aos calcanhares."
4 comentários:
Concordo em absoluto com o comentário da Maria.
Embora apenas seja um português de adopção nos últimos 25 anos, Rini já detecta todas as subtilezas e idiossincracias deste povo peculiar, somente porque, como holandês e como xadrezistas, tem e cultiva algo que muito falta às nossas gentes: Memória!
De facto, gostando-se ou não da acção e do estilo de M.M. Carrilho, um crédito há que lhe conceder, o da coerência!
Recordo que, num congresso partidário durante o 2º Governo de Guterres, quando já era vísivel que o país caminhava para um beco sem saída (restrição financeira, escândalo PRP, Vara/F. Gomes, etc), ele foi o único a levantar a voz contra esse estado de coisas, contra esse estado de espírito suguidista/autista que caracteriza a mediocridade, o conformismo e o carreirismo português, e foi vaiado por isso!...
Com efeito, poucas pessoas em Portugal são capazes de dizer que o rei vai nú!
Dervich
Quase 25 anos "português de adopção", Dervich, mesmo assim: a palavra "suguidista" ainda não conheço...ou será um neologismo dervichista!? (Não está nos meus dicionários)
De facto, Carrilho, sempre disse e escreveu o que lhe apeteceu (rima e é verdade). Também foi o melhor (e único) ministro da cultura depois do 25 de Abril o que, em si, não é pouco. Lembro que saiu do segundo governo de Guterres por este não aceitar, entre outras exigências, que o orçamento do seu ministério subisse para 1% (Canavilhas tem menos de 0,4% e está toda satisfeita).
É vaidoso? Tem mau feitio? Certamente, mas todos - amigos e inimigos - reconhecem as suas qualidades: como filósofo, político e gestor da coisa pública. Quantos governantes socráticos podem orgulhar-se de tal curriculum?
Já tenho saudades...
"suguidista" = Seguidista
As minhas desculpas
Dervich
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