01/11/2009
Dia de Todos os Santos: Maria, a coveira de Merufe
Uma mulher com 68 anos é há cinco décadas a coveira de serviço de Merufe, Monção, uma "arte" que pode estar em vias de extinção, já que, afirma, "todos fogem dela como o diabo foge da cruz".
"As pessoas parece que têm medo dos mortos, não sei. Mesmo os homens têm a mania que são muito corajosos mas pelam-se de medo quando têm que abrir uma cova ou pegar numa ossada. Pois olhe, eu tenho medo é dos vivos, não dos mortos", sentencia a coveira de Merufe.
Maria Cerqueira, localmente conhecida por "Maria Coveira", já perdeu a conta às pessoas que enterrou, desde que, há 55 anos, começou a dar os primeiros passos (as primeiras pazadas!?, R.L.) na actividade, como ajudante do pai.
"Depois do meu pai morrer, fiquei eu sozinha com o serviço de coveira. Os meus filhos ainda me ajudavam um bocado, mas o meu marido, das poucas vezes que me acompanhava, ficava sempre em cima, nunca entrava na cova. Fazia-lhe impressão estar ali dentro, não sei porquê", acrescenta.
Autêntica mulher de armas, a "Maria Coveira" pega na sachola, na pá e numa escada e em meio-dia abre uma cova com a sua altura.
Confessa que já apanhou alguns sustos, não por causa das ossadas que encontrou, mas sim pelos deslizamentos de terras, que por várias vezes a cobriram até à cintura.
Hoje, pode levar até 110 euros pela abertura duma cova. "As pessoas acham muito, mas, se é assim tão bom, por que é que são cada vez menos que pegam nisto?", questiona.
No cemitério, Maria Cerqueira "está por tudo": limpa o recinto, abre covas, desenterra e traslada sepulturas, levanta ossadas. E tem sempre solução para os problemas mais intricados que se lhe deparam.
Numa ocasião, teve que ir desenterrar uma urna a uma freguesia vizinha, já que o coveiro que lá havia "não tinha coragem".
"Eu tenho coragem para tudo, os mortos nunca fizeram mal a ninguém. Os vivos sim, os vivos às vezes são levados do diabo", repete.
A "Maria Coveira" diz que não quer mal a ninguém mas não esconde que, se tiver oportunidade, enterrará com um cuidado especial umas certas pessoas que ainda há pouco tempo foram ao seu quintal e lhe roubaram as espigas do milho e um toldo de plástico "com 20 metros" que as cobria.
"A algumas pessoas, até as enterrava vivas, se pudesse", atira.
Em relatos meio a sério, meio a brincar, Maria Cerqueira garante que continuará a enterrar até que as forças lhe faltam.
"Enquanto for eu a enterrar os outros, é bom sinal. O pior vai ser quando forem outros a enterrarem-me a mim", diz. (VCP, Agência Lusa, 31 de Outubro).
No vídeo RTP a Maria Coveira pede um simples retrato seu na sede da Junta de Freguesia.
Caro leitor, eu acho que ela merece uma estátua!
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4 comentários:
Não estando relacionado com o caso em refrerência,mas diz respeito á freguesia, porque não feito o prolongamento da estrada que foi feita recentemente de Leiras á capela da Breia, até á Portela de Alvite, uma travessia de muito facilitaria,para já não falar a Santo António á muito reclamadas,as pessoas destas localidades e zonas eram bem melhor servidas quando estas estradas estavan sob a alçada dos Serviços Florestais, que as iam mantendo transitáveis,as Câmaras querem assumir tudo , mas o concelho não é só a sua sede, já vai sendo tempo de olharem mais para as gentes que vivem nos lugares.
Ao comentador anterior, quero dizer-lhe que aqui ao lado no concelho dos Arcos se passa uma situação idêntica, parece tirada a papel químico,mais concretamente entre as freguesias de Loureda e Sistelo,neste caso, foi reabilitada a estrada que vai até á capela de S. Bráz da Anta,e por aí se ficou, quando com mais uns quilómetros, ficava concluída a ligação ao Sr.do Bonfim e lugar ao da Estrica-Sistelo, que encurtaria uma distância de cerca 15 Km, ou mais para 3 Km, se optar por ir por Lordelo ainda são mais, mas tem sido esta a visão política, seguida pelas pessoas que nós talvez erradamente, elegemos para nos representar e defender os nossos interesses, que parecem mais apostados em fazer obra á porta deles,como na caso da Portela de Alvite onde náo á muito tempo foram investidos milhares de Euros, e segundo consta vai haver mais, nada contra, mas á outras prioridades o resto náo é só paisagem.
Estou de acordo com o que aqui foi dito,pois os habitantes das freguesias de Sistelo e Merufe,Cabreiro e não só, estão mais mal servidas se quiserem ir á Peneda e á Romaria que ai se realiza do que á 40 anos,e muito tempo depois quando então se fazia a travessia por S. Amtónio,neste caso não se parou no tempo, mas recuou-se , pois tem que se utilizar a estrada de Melgaço, como á um século,ou ir a Riba de Mouro que não demora menos tempo.
DE facto é uma triteza, locais que no tempo do Salazar podiam ser porcorridos em viatura ligeira, perfeitamente á vontade, passados quase 40 anos de demoracia é a miséria que se vê,não há dinheiro nem para conservar o que foi construído no tempo em que não havia nem fundos da União Eropeia,agora há isso tudo, mas é para os senhores de sempre,por essa razão os lugares estão cada vez mais lugares fantasma.
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