26/10/2009

Tentativa de esmiuçamento da Carris



Assunto: "indefinição de critérios", 14-10-2009

Exmo. Senhor Provedor do Cliente da Carris,

1) Nesta tarde de 14 de Outubro 2009 tive uma experiência desagradável quando quis entrar na carreira nº 746 da Carris (na paragem terminal no Marquês de Pombal) que ia começar a sua viagem na direcção Damaia às 15.57 horas (esta especificação para conseguir identificar o motorista que estava de serviço, aliás ele começou o seu serviço nessa hora, vi-o trocar com um colega).
Trabalho como músico na Fundação do Gil em pediatrias nos hospitais de Grande Lisboa e como tal nos transportes públicos tenho sempre comigo uma mala-trolley com pequenos instrumentos para as crianças, tamanho 60x40x25 cm e/ou uma mala de acordeão de 40x40x25 cm. Hoje à tarde eu estava de regresso do Hospital Santa Cruz em Carnaxide, cheguei com a linha nº 13 da Vimeca ao Marquês de Pombal e tencionava seguir viagem a Benfica com a Carris.

Como já faço estas viagens há mais de cinco anos, grande foi o meu espanto quando o motorista da Carris me vedou a entrada com a minha mala-trolley, apontando para uma vinheta na entrada do autocarro.
Esta vinheta já está lá há meses, mas nunca tive qualquer problema com a minha mala, simplesmente porque ela é pequena, não incomoda ninguém.
Ainda por cima: nessa hora o autocarro estava quase vazio (2 passageiros), aliás quando tiver muita bagagem tenho o cuidado de viajar na Carris em horários fora da "hora da ponta".
Infelizmente hoje o meu apelo à razoabilidade só encontrou casmurrice do lado do motorista: "São as regras".

Queria então saber quais são os critérios para transportes de volumes dentro dos autocarros da Carris, isso não pode estar dependente do livre arbítrio dum funcionário vosso com mau humor, parece-me!
Compare este caso por exemplo com a caricata situação dos carrinhos de bebé de tamanho gigante não dobráveis (!!) que entram a qualquer hora (também em hora da ponta!) nos autocarros, ocupando 3 ou 4 lugares de passageiro em pé, com os acompanhantes a reivindicarem os seus "direitos" em voz alta, totalmente ridículo!

2) Outra situação de falta de critérios: o ar condicionado. Estamos num mês de Outubro com temperaturas altas, no domingo passado (11 de Outubro) acima dos 30 graus. Muitos motoristas têm o hábito de pôr o ar condicionado no nível máximo, há autênticas ventanias dentro dos autocarros, nomeadamente os veículos pequenos (as linhas 74 ou 709 à noite, por exemplo), resultado: temperaturas lá dentro de 10-15 graus!
Um passageiro a transpirar que entra num autocarro nestas circunstâncias corre sérios riscos.
A minha amiga encontra-se acamada com 39 graus de febre, depois duma viagem num autocarro da Carris "superclimatizado" no domingo passado: o motorista simplesmente recusou o pedido de baixar o ar condicionado.
Na minha opinião é um comportamento que devia ser punível por lei nesta época de gripe sazonal e gripe A, um comportamento que está a roçar o crime!

Aguardando a sua resposta,

Com os melhores cumprimentos,

Marinus Luyks, músico



Assunto: "indefinição de critérios" (R 3880-09), 26-10-2009

Exmo. Senhor Marinus Luyks,

Recepcionamos e agradecemos o e-mail que nos endereçou.

Considerando o teor do mesmo, informamos que os nossos motoristas/guarda-freios regem-se por Ordem de Serviço interna, onde é referido que transporte de bagagem de maiores dimensões pode ser autorizado, desde que tal não conflitue com os restantes passageiros, nem ponha em causa a segurança da viatura. Também é referido que a referida Ordem de Serviço se aplica mais em relação às carreiras que servem o Aeroporto, o que não é o caso da carreira 746. De qualquer modo, as dimensões por vós referidas encontram-se dentro dos limites determinados pela Ordem de Serviço (dimensões máximas de 55x40x20 centímetros).

Deste modo, o motorista em questão foi advertido quanto à incorrecta interpretação, que deve ter da Ordem de Serviço referida.

A vossa reclamação foi registada no seu cadastro individual, podendo vir a ter efeitos penalizadores na sua avaliação anual de desempenho e outros prémios pecuniários, com impacto directo na progressão na carreira, caso se venham a verificar outras queixas semelhantes.

No que se refere às situações com o ar condicionado, por falta de elementos identificadores, como a data, hora, local e sentido de marcha, não podemos avaliar nenhuma situação em concreto. De qualquer forma, os nossos Clientes, caso se sintam incomodados com a situação, poderão sempre solicitar aos motoristas, que desliguem o sistema (também temos Clientes que reclamam do mesmo ir, por vezes, desligado).


Na expectativa de o termos esclarecido, apresentamos os melhores cumprimentos,

P/ O Provedor do Cliente,

Lígia Querido




5 comentários:

Rui Rebelo disse...

Fantástico Rini,

Se houvesse mais cidadãos como tu as coisas funcionariam com certeza muito melhor. Mas acho que tiveste sorte na senhora que te respondeu como o seu nome sugere.

Rini Luyks disse...

:) Verdade, Rui.
Um trocadilho que vem à cabeça:
Lígia Querido, querida no litígio!

Anónimo disse...

Este é um exemplo do que deveria acontecer mais vezes em Portugal mas não acontece porque:

- Quem tem legitimidade para reclamar muitas vezes não o faz porque, não apenas não sabe como o fazer, mas também frequentemente não sabe sequer escrever duas linhas que tenham um mínimo de coerência;

- Quem sabe como reclamar não o faz, porque não quer ser somente uma pedra isolada a cair em saco roto e não se preocupa com isso;

- Quem não tem razão mas sente necessidade de extravasar frustrações, reclama sob qualquer pretexto, sem intenção de ser consequente nos seus actos (nem sabendo o que isso é).

Portanto, o exemplo teve de vir de um músico que até foi querido e de uma Lígia que até sabe dar alguma música bem afinada...

Dervich

carla amaro disse...

Obrigada por este belo exemplo de cidadania. Que venham para este país muitos como o senhor.

Rui Mota disse...

Boa Rini. Dá-lhes na cabeça!
É uma querida, a Lígia...