28/02/2007
Reasons to be cheerful...
Os meus ilustres sócios neste blogue estão a mandar posts com provas de trabalho feito. Para eu não ficar atrás de mãos vazias, aqui uma pequena reportagem do concerto da banda Kumpania Algazarra no sábado de Carnaval na Comuna:
https://www.youtube.com/watch?v=DrfodrzH9mY
https://www.youtube.com/watch?v=DrfodrzH9mY
Faz esta noite três anos que muitos companheiros do meu sinuoso percurso artístico (entre os quais os já mencionados dois ilustres) me apanharam de surpresa com a celebração inesperada (para mim) dos meus 50 anos de existência durante um concerto da Bigodes Band no "Santiago Alquimista".
Em geral não gosto muito de festas com datas fixadas (aniversários, Natal, etc.), mas naquela noite no "Alquimista" recebi muitos mimos e isto sabe sempre bem!
Na minha terra, a Holanda, uma pessoa que faz 50 anos "vê Abraão" (no masculino) ou "vê Sara" (no feminino). A alusão é clara: sabe-se que o casal bíblico Abraão e Sara viveu muitos anos; delicadamente (embora nem sempre...) os "recém-cinquentões" recebem a mensagem que com certeza ainda são muito atraentes, ainda têm muitas capacidades, mas....estão a ficar velhos. Não vou traduzir as frases em volta da imagem com "sorriso amarelo" acima, escolhida de propósito pela minha família. De facto, é mais uma boa razão para emigrar da Holanda...aquelas manias pequeno-burguesas (estou a enervar-me).
"Reasons to be cheerful", top-hit de Ian Dury and the Blockheads no fim dos anos '70, quando eu tinha a metade da minha idade actual, é isto a prenda musical que me quero dar a mim próprio.
Versão original em: http://www.youtube.com/watch?v=CIMNXogXnvE
Para quem queira berrar a letra comigo:
Why don't you get back into bed
Why don't you get back into bed
Why don't you get back into bed
Why don't you get back into bed
Why don't you get back into bed
Why don't you get back into bed
Why don't you get back into bed
Why don't you get back into bed
Reasons to be cheerful part 3
1 2 3
Summer, Buddy Holly, the working folly,
Good golly Miss Molly and boats
Hammersmith Palais, the Bolshoi Ballet
Jump back in the alley and nanny goats
18-wheeler Scammels, Domenecker camels
All other mammals plus equal votes
Seeing Piccadilly, Fanny Smith and Willy
Being rather silly, and porridge oats
A bit of grin and bear it, a bit of come and share it
You're welcome, we can spare it - yellow socks
Too short to be haughty, too nutty to be naughty
Going on 40 - no electric shocks
The juice of the carrot, the smile of the parrot
A little drop of claret - anything that rocks
Elvis and Scotty, days when I ain't spotty,
Sitting on the potty - curing smallpox
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
1 2 3
Reasons to be cheerful part 3
Health service glasses
Gigolos and brasses
round or skinny bottoms
Take your mum to Paris
lighting up the chalice
wee willy harris
Bantu Stephen Biko, listening to Rico
Harpo, Groucho, Chico
Cheddar cheese and pickle, the Vincent motorsickle
Slap and tickle
Woody Allen, Dali, Dimitri and Pasquale
Balabala and Volare
Something nice to study, phoning up a buddy
Being in my nuddy
Saying hokey-dokey, singalonga Smokey
Coming out of chokey
John Coltrane's soprano, Adi Celentano
Bonar Colleano
Reasons to be cheerful,part 3
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
1 2 3
Yes yes
dear dear
perhaps next year
or maybe even never
in which case
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
1 2 3
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to be cheerful part 3
Reasons to Be cheerful part 3
1 2 3
Reasons to be cheerful part 3
(repeat to fade)
27/02/2007
Struggle For Hope
Yo-Yo Ma, genial violoncelista em perfeita comunhão com Tamasaburo Bando, o grande mestre de Kabuki, sob o signo de Bach e das suas suites para violoncelo.
Vi pela primeira vez estas obras primas há uns bons anos na RTP 2. Fiquei rendido a tamanha perfeição e beleza. Comprei logo que apareceu em DVD e vejo-o nos momentos que tenho necessidade de uma ajudinha para me reconciliar com a raça humana.
.
Os restantes andamentos também se encontram no youtube. Aconselho no entanto a compra do DVD, pois a qualidade de som e imagem faz toda a diferença.
Custa apenas 10$ na Amazon
CD "Por Detrás dos Montes"
CD - POR DETRÁS DOS MONTES - já à venda.
Contactar Teatro Meridional 21 868 92 45
Prémio da Crítica 2006
Menção Honrosa pela música e espaço sonoro do espectáculo Por Detrás dos Montes, do Teatro Meridional, "que condensam e reconstituem as paisagens sensoriais do nordeste transmontano de forma bela e singular, e em plena cumplicidade" com o espectáculo encenado por Miguel Seabra.
http://fernandomota.com.sapo.pt
Ouça aqui alguns excertos do disco...
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Espectáculo em itinerância de 3 de Março a 6 de Maio.
10 de Março: Barreiro
5 de Abril: Almada
Ver calendário completo em www.teatromeridional.net
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Prémio da Crítica 2006
Menção Honrosa pela música e espaço sonoro do espectáculo Por Detrás dos Montes, do Teatro Meridional, "que condensam e reconstituem as paisagens sensoriais do nordeste transmontano de forma bela e singular, e em plena cumplicidade" com o espectáculo encenado por Miguel Seabra.
http://fernandomota.com.sapo.pt
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10 de Março: Barreiro
5 de Abril: Almada
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26/02/2007
Comemoração dos 300 anos do Nascimento de Carlo Goldoni
Goldoni acostumara o público veneziano a um divertimento teatral durante o Carnaval. Oferece-lhe assim mais uma comédia que é bem mais que um simples divertimento.
Era tradição na Veneza do século XVIII dar um dia de folga aos empregados domésticos para que gozassem em liberdade esta inversão da ordem estabelecida. E os amos divertiam-se simultaneamente em bela convivência.
Aproveitando essa liberdade os criados vestem-se como os amos não só por envergarem o guarda- roupa que subtraíram à sua vigilância, mas porque lhes imitam os comportamentos.
Todos se preparam para o Carnaval disputando parceiros e perspectivas de divertimento, fortuna e prazer. E o grande comércio com a troca de favores inicia-se num mercado onde tudo acaba por ser moeda de troca, onde tudo se pode vender ou comprar.
Os patrões, por seu lado, mobilizam os favores e a cumplicidade dos criados para os colocar ao serviço dos seus amores inconfessáveis, os seus pequenos vícios, as suas pequenas necessidades materiais, que podem ir desde um anel valioso a um empréstimo de dinheiro para o jogo ou um simples prato de sopa.
No Carnaval forças estranhas são postas em jogo libertando impulsos recalcados e instintos que não são tão visíveis noutras alturas.
A vida privada vai-se tornando pública, o espaço privado vai-se alargando até se tornar a praça onde todas as nossas misérias e segredos se denunciam, como se o Carnaval e a sua inversão da ordem nos julgassem e nos punisse.
Era tradição na Veneza do século XVIII dar um dia de folga aos empregados domésticos para que gozassem em liberdade esta inversão da ordem estabelecida. E os amos divertiam-se simultaneamente em bela convivência.
Aproveitando essa liberdade os criados vestem-se como os amos não só por envergarem o guarda- roupa que subtraíram à sua vigilância, mas porque lhes imitam os comportamentos.
Todos se preparam para o Carnaval disputando parceiros e perspectivas de divertimento, fortuna e prazer. E o grande comércio com a troca de favores inicia-se num mercado onde tudo acaba por ser moeda de troca, onde tudo se pode vender ou comprar.
Os patrões, por seu lado, mobilizam os favores e a cumplicidade dos criados para os colocar ao serviço dos seus amores inconfessáveis, os seus pequenos vícios, as suas pequenas necessidades materiais, que podem ir desde um anel valioso a um empréstimo de dinheiro para o jogo ou um simples prato de sopa.
No Carnaval forças estranhas são postas em jogo libertando impulsos recalcados e instintos que não são tão visíveis noutras alturas.
A vida privada vai-se tornando pública, o espaço privado vai-se alargando até se tornar a praça onde todas as nossas misérias e segredos se denunciam, como se o Carnaval e a sua inversão da ordem nos julgassem e nos punisse.
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tradução JOSÉ COLAÇO BARREIROS / encenação JOSÉ PEIXOTO / cenografia ACÁCIO CARVALHO / figurinos MANUELA BRONZE / música RUI REBELO / desenho de luz CARLOS GONÇALVES / coreografia KOT KOTECKI
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COM
SÍLVIA FILIPE, JORGE SILVA, ELSA VALENTIM, DIANA COSTA E SILVA, ANGELA RIBEIRO, DAVID PEREIRA BASTOS, PATRÍCIA ANDRÉ, LEONOR CABRAL, LUÍS BARROS, CARLOS QUEIRÓS, RICARDO ALVES, TIAGO MATEUS e CARLA CARREIRO MENDES.
SÍLVIA FILIPE, JORGE SILVA, ELSA VALENTIM, DIANA COSTA E SILVA, ANGELA RIBEIRO, DAVID PEREIRA BASTOS, PATRÍCIA ANDRÉ, LEONOR CABRAL, LUÍS BARROS, CARLOS QUEIRÓS, RICARDO ALVES, TIAGO MATEUS e CARLA CARREIRO MENDES.
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Co-produção Teatro Nacional D. Maria II / CENDREV / Teatro dos Aloés
De 1 a 4 de Março - Teatro Garcia de Resende
De 8 a 14 de Março - Teatro da Politécnica
De 21 de Março a 1 de Abril - Recreios da Amadora
25/02/2007
A Canção de Amor mais bonita....
...da historia," diz a Rititi, no seu blogue "Rosa Cueca".
Adivinhar qual é!?
Depois ver no http://www.youtube.com/watch?v=Hbpb5ffcwO8 .
24/02/2007
Farinha Master
A efeméride do falecimento de Zeca Afonso leva-me a outra, recentemente lembrada pelo jornalista António Pires no seu excelente blogue http://raizeseantenas.blogspot.com/ (post de 9 de Fevereiro 2007, Cromo XII.4).
Menos universal mas mais controversial, o músico e performer Farinha Master (verdadeiro nome Carlos Cordeiro) deixou-nos há 5 anos. Recitando as palavras de homenagem de António Pires: "Os seus concertos eram uma surpresa constante. Neles poder-se-ia ouvir fado mutante em electrónica lo-fi, poesia concreta transmutada em hard rock manhoso, música minimal-repetitiva passada por uma peneira minhota."
O seu projecto mais lendário, os "Ocaso Épico", ficou registado em vinil no álbum "Muito Obrigado" (1988).
Conheci o Farinha em finais de 1988, quando eu estava a tocar como acordeonista no "Café Paris" em Sintra, no ano a seguir fiz parte da sua banda.
Participámos num dos últimos concertos no Rock Rendez Vous, um pequeno festival na época de Natal '88, (com bandas como Requiem pelos Vivos, Ik Mux e Ritual Tejo). A festa começou com muito atraso, já depois da meia noite, por causa do soundcheck. Tivemos a sorte de ser a primeira banda a tocar e Farinha abriu o concerto, pendurado numa viga, com as palavras: "Boa noite, nós vamos tocar 14 músicas!", levando ao desespero as outras três bandas..... Tipicamente Farinha, como também foi típica a nossa entrada numa emissão RTP em directo do programa "Tempos Modernos": Farinha levou para o estúdio um carregamento de utensílios agrícolas para tocar "rock rural", gozando assim com o playback obrigatório.
Em 1993 participei com ele no concurso de versões de músicas de Zeca Afonso "Filhos da Madrugada". A nossa versão tribal de "Vai Maria vai" (inspirado na música étnica no filme "The Sheltering Sky" de Bernardo Bertolucci, baseado no livro de Paul Bowles) não foi seleccionada, mas foi usada como banda sonora numa peça de teatro a solo: "As Bruxas" pela actriz Helena Flôr Dias. No dia 21 de Junho 1999 assistimos (eu, Farinha e Luís, o companheiro no seu último projecto músical "Angra do Budismo") à peça no Espaço Moira no Chiado, foi uma noite tórrida durante as Festas da Cidade. Antes do espectáculo começar, a operadora de som fez a gracinha de colocar as colunas na janela aberta no 1º andar. Quando nós subimos a Rua Garrett, já de longe se ouvia a música "Vai Maria vai" na nossa versão. Acho que Farinha ficou contente com isso, embora o estrelato artístico lhe fosse completamente alheio.
Depois perdi o contacto com ele até saber do seu desaparecimento em 2002.
Neste momento, com a ajuda de Helena Flôr Dias, estou a tentar recuperar o CD com a banda sonora daquela peça (incluindo a versão de "Vai Maria vai"), pois existe uma ideia de fazer uma compilação das gravações não editadas do Farinha.
Nessa altura vou pedir aos meus co-bloguistas como meter isto no Podcast do blogue, nestas coisas ainda sou neófito...
23/02/2007
Cantar Alentejaníndiano - O Zeca é Universal e Intemporal
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Sofia de Portugal - voz
Paulo Sousa - Sítar
Rui Rebelo - Viola Braguesa
Fernando Mota - Udu
Zeca Afonso
Faz hoje 20 anos, numa manhã chovosa, estava eu nas Caldas da Rainha, quando acordei com a notícia na rádio de que o Zeca tinha morrido de madrugada. Chorei. Chorei e a tristeza invadiu-me o corpo com dor como se me tivessem amputado parte da minha esperança. Cresci a ouvir Zeca e ele foi a grande influência musical e ideológica da minha infância e juventude. O simples facto de estar aqui a escrever sobre ele emociona-me e por isso vou parar pois não há palavras que alcancem a sua grandeza.
Uma coisa eu sei:
Nunca vou deixar de o cantar.
Zeca Afonso
Nesta noite faz 20 anos que morreu José Afonso.
Não me sinto a pessoa indicada para falar sobre ele.
Quando Zeca morreu eu vivia só há um mês e meio em Lisboa numa pequena mansarda, tinha acabado de emigrar da Holanda para Portugal por razões ainda não muito claras.
No dia 23 de Fevereiro os jornais tinham na capa a fotografia deste homem com uma flor no punho, junto com a letra de "Grândola, vila morena".
Um impulso que não sei explicar fez-me apanhar o barco para o Barreiro e o comboio para Setúbal para participar no cortejo fúnebre. Sem exagero posso dizer que foi um dos acontecimentos mais impressionantes que vivi até agora.
20/02/2007
"Vastenavend" in 't Krabbegat
Deixem-me matar um bocadinho das saudades do Carnaval na região onde nasci, o único sítio na Holanda onde esta festa tem um nome próprio: "Vastenavend" ou seja "Véspera da Quaresma".
Também a própria cidade muda de nome: chama-se durante três dias "Krabbegat" ("Toca dos Caranguejos", curiosamente existem muitos restaurantes com este nome no Brasil, como vi no Google) em vez de Bergen op Zoom ("Bèrrege" em dialecto) e os seus habitantes são neste período "Krabben" ("Caranguejos").
O poder político deixa de existir, quem reina é o Príncipe Carnaval, agora Prins Nilles III, acompanhado por "de Nar" (o "Bobo"), "de Gròòtste Boer" (o "Camponês-Mor" ) e "Steketee" (Chefe de Policia do Carnaval, muito tolerante). O povo, vestido a rigor (bata azul de camponês, pedaços de cortina e um lenço vermelho à volta do pescoço) vagueia e dança pelas ruas, entrando nos e saindo dos bares, um fenómeno chamado "dweilen" (literalmente "lavar o chão"). Existem no "Krabbegat" umas 60 orquestras de carnaval, chamadas "dweilbands", para acompanhar os festejantes.
Cada ano tem o seu lema de Carnaval, em 2007: "Vastenavend.....wa d'n sprookje!" ("Carnaval....um conto de fadas!") com uma canção que é lançada no "Neuzebal" ("Baile dos Narizes"), três semanas antes do Carnaval.
Pontos altos das festividades são o Carnaval das Crianças ("Kindervastenavend") na segunda feira, o desfile ("D'n optocht") na terça feira à tarde e o ritual da Queda do Corvo ("Val van de kraai") às 23.45 h, marcando o Fim do Carnaval e início da Quaresma.
Com este pequeno glossário o caro leitor pode provar um bocadinho do "Vastenavend", único e nada característico na Holanda, veja por exemplo os sites: http://www.vastenavend.nl/ ou http://www.stichtingvastenavend.nl/ e faça clique nos vários assuntos.
14/02/2007
Intermitentes
Petição dos Profissionais do Espectáculo e do Audiovisual Pela Criação de um Regime Laboral e Direitos Sociais para o Trabalho Intermitente
PARA SABER MAIS CARREGUE EM...
Para assinar esta petição faça download do formulário em PDF, imprima e assine. Quanto mais assinaturas recolher melhor. Deve assinar como no bilhete de identidade e o nome completo. Não esqueça de indicar o seu nº de BI. Em caso de não estarem as assinaturas e os nomes completos e a ausência do nº de BI torna a assinatura inválida. Depois de recolher as assinaturas por favor envie por carta para:
PLATAFORMA INTERMITENTES
TRAVESSA DO FIGUEIREDO
Nº10 R/C DT0 1400-156 LISBOA
PARA OBTER DOCUMENTO EM PDF CARREGUE EM...
Mettre au violon
Interessante a discussão "viola-guitarra" nos comentários ao post de ontem "Ceci n'est pas un violoncelle".
Na língua francesa "le violon" além de "violino" tem o significado extra de pequena prisão provisória numa esquadra de policia para presos apanhados em flagrante. A expressão "Mettre au violon" remonta ao século XV; foi o Rei Luís XI, o Prudente (1423-1483), também apelidado de "Rei Aranha" que instaurou esta prática.
Parece que foi mesmo disponilibizado um violino aos presos do Palácio de Justiça em Paris para se divertirem. E claro, ainda existe uma analogia entre as cordas do instrumento e as barras da prisão.
E se calhar para muitos, ouvir tocar mal violino será o mesmo suplício que estar numa prisão....
Na língua francesa "le violon" além de "violino" tem o significado extra de pequena prisão provisória numa esquadra de policia para presos apanhados em flagrante. A expressão "Mettre au violon" remonta ao século XV; foi o Rei Luís XI, o Prudente (1423-1483), também apelidado de "Rei Aranha" que instaurou esta prática.
Parece que foi mesmo disponilibizado um violino aos presos do Palácio de Justiça em Paris para se divertirem. E claro, ainda existe uma analogia entre as cordas do instrumento e as barras da prisão.
E se calhar para muitos, ouvir tocar mal violino será o mesmo suplício que estar numa prisão....
13/02/2007
Musicien de la rue...
Depois de um regresso tão emocionante do co-bloguista Fernando com confissões do seu foro artístico mais íntimo sinto que não posso ficar atrás.
Gostei particularmente da parte final do post: "o prazer de sentir as vibrações de uma viola ou de um acordeão na barriga"....."a altas horas, quando a tendência para o erotismo é uma probabilidade".
Acho que o próprio Astor Piazzolla podia ter concordado com isto. Tive o privilégio de um breve contacto por correspondência com este Mestre do Bandoneon em 1985, pouco antes de um concerto dele em Utrecht, Holanda. Só que no dia seguinte ele afirmou numa entrevista num diário nacional que "tocar o tango num acordeão (e não num bandoneon) é como lamber um gelado com mostarda em vez de chantilly", pondo assim as coisas (entre as quais este pequeno artista) nos seus devidos lugares....
Eu tinha começado a aprender tocar acordeão (como autodidacta) poucos anos antes. Completamente autodidacta também não: como adolescente tive a sorte (numa aldeia de 200 almas sem escola de música) de ter aulas de piano, mas no fim do ensino obrigatório a minha escolha foi começar estudos na Química em detrimento da Música (que não era uma opção "a sério" na altura, muito menos no meu meio social).
Lembrando me agora parece impossível, mas durante 10 anos não toquei um instrumento. A dedicação foi toda para a química ... e para o xadrez! Estive à beira de uma tentação de "profissionalização" nesta modalidade quando em 1977 me faltou meio ponto para atingir a final do Campeonato Individual da Holanda, um torneio repleto de Mestres e Grandes Mestres Internacionais.
Em vez disso fiquei desempregado na Química e comecei a "brincar" num pequeno acordeão do meu tio. Alguma coisa tinha de acontecer, pois um subsídio de desemprego na Holanda é suficiente para sobreviver mas não para manter a força de vontade. Participei em alguns workshops de música tradicional e na altura de Pentecostes 1982 decidi que tinha chegado o momento: a minha estreia como Músico de Rua. Obviamente não podia ser na minha pequena cidade na Holanda, onde toda a gente me conhecia, não, queria começar num anonimato tranquilo na cidade de Antuérpia, 40 quilómetros ao Sul, já na Bélgica.
Num domingo solarengo (soalheiro, um erro frequente... :) de Primavera atei o meu pequeno acordeão no porta-bagagens da minha bicicleta e pedalei até Flandres. Muito movimento de turistas lá: o Grande Mercado, a Praça da Sé da Nossa Senhora, a Casa Museu do pintor Rubens, não consegui decidir um lugar para a minha estreia, sentimentos de pudor e medo da exposição aos olhares e sobretudo ouvidos de toda a gente, será que valia a pena!? Afinal toquei umas músicas ao cair da noite no Parque da Cidade onde de dez em dez minutos passava um casal de namorados sem dar a mínima atenção à minha performance.
Já era tarde para voltar a casa, decidi pernoitar num banco no parque com a malinha do acordeão a servir de almofada, pois amanhã, amanhã é que ia ser....
Às quatro de madrugada acordei encharcado pelo chuvisco que já estava a cair há algumas horas. Não havia outra alternativa a não ser um regresso inglório à Holanda.
Esta foi a minha estreia como músico de rua em Antuérpia...
Mas no domingo seguinte eu estava lá outra vez e ganhei os meus primeiros 1400 francos belgas em frente à Casa Museu do Rubens. A seguir toquei quatro anos em Antuérpia e Paris antes de enveredar por caminhos que me levaram até Lisboa...
Gostei particularmente da parte final do post: "o prazer de sentir as vibrações de uma viola ou de um acordeão na barriga"....."a altas horas, quando a tendência para o erotismo é uma probabilidade".
Acho que o próprio Astor Piazzolla podia ter concordado com isto. Tive o privilégio de um breve contacto por correspondência com este Mestre do Bandoneon em 1985, pouco antes de um concerto dele em Utrecht, Holanda. Só que no dia seguinte ele afirmou numa entrevista num diário nacional que "tocar o tango num acordeão (e não num bandoneon) é como lamber um gelado com mostarda em vez de chantilly", pondo assim as coisas (entre as quais este pequeno artista) nos seus devidos lugares....
Eu tinha começado a aprender tocar acordeão (como autodidacta) poucos anos antes. Completamente autodidacta também não: como adolescente tive a sorte (numa aldeia de 200 almas sem escola de música) de ter aulas de piano, mas no fim do ensino obrigatório a minha escolha foi começar estudos na Química em detrimento da Música (que não era uma opção "a sério" na altura, muito menos no meu meio social).
Lembrando me agora parece impossível, mas durante 10 anos não toquei um instrumento. A dedicação foi toda para a química ... e para o xadrez! Estive à beira de uma tentação de "profissionalização" nesta modalidade quando em 1977 me faltou meio ponto para atingir a final do Campeonato Individual da Holanda, um torneio repleto de Mestres e Grandes Mestres Internacionais.
Em vez disso fiquei desempregado na Química e comecei a "brincar" num pequeno acordeão do meu tio. Alguma coisa tinha de acontecer, pois um subsídio de desemprego na Holanda é suficiente para sobreviver mas não para manter a força de vontade. Participei em alguns workshops de música tradicional e na altura de Pentecostes 1982 decidi que tinha chegado o momento: a minha estreia como Músico de Rua. Obviamente não podia ser na minha pequena cidade na Holanda, onde toda a gente me conhecia, não, queria começar num anonimato tranquilo na cidade de Antuérpia, 40 quilómetros ao Sul, já na Bélgica.
Num domingo solarengo (soalheiro, um erro frequente... :) de Primavera atei o meu pequeno acordeão no porta-bagagens da minha bicicleta e pedalei até Flandres. Muito movimento de turistas lá: o Grande Mercado, a Praça da Sé da Nossa Senhora, a Casa Museu do pintor Rubens, não consegui decidir um lugar para a minha estreia, sentimentos de pudor e medo da exposição aos olhares e sobretudo ouvidos de toda a gente, será que valia a pena!? Afinal toquei umas músicas ao cair da noite no Parque da Cidade onde de dez em dez minutos passava um casal de namorados sem dar a mínima atenção à minha performance.
Já era tarde para voltar a casa, decidi pernoitar num banco no parque com a malinha do acordeão a servir de almofada, pois amanhã, amanhã é que ia ser....
Às quatro de madrugada acordei encharcado pelo chuvisco que já estava a cair há algumas horas. Não havia outra alternativa a não ser um regresso inglório à Holanda.
Esta foi a minha estreia como músico de rua em Antuérpia...
Mas no domingo seguinte eu estava lá outra vez e ganhei os meus primeiros 1400 francos belgas em frente à Casa Museu do Rubens. A seguir toquei quatro anos em Antuérpia e Paris antes de enveredar por caminhos que me levaram até Lisboa...
"Ceci n’est pas un violoncelle"
O comentário do Palhaço do Xadrez ao meu último post (BPM's...) pôs-me a pensar como ouvimos a música que ouvimos. E o que realmente ouvimos.
Eu comecei a minha história de ouvinte avariando o último gira-discos da minha irmã. Achei que na rotação máxima faria uma óptima rampa de lançamento para os objectos que eu então acreditava serem naves espaciais. (Sim, muitas Star Wars e Espaço 1999 nesta cabecinha!) Fiquei portanto proibido de me aproximar do seu rádio-leitor de cassetes. (Era um Sanyo em mono, um antecessor dos então chamados "tijolos".)
Os meus pais ofereceram-me então um daqueles gravadores de cassetes de repórter. Tão portátil quanto um objecto de aprox. 40 x 15 x 5 cm pode ser. (Se bem me lembro, novamente, Sanyo em mono.) Gravava cassetes da Sonovox (baratinhas!) e de marcas brancas (qualidade arquivo, no pior dos sentidos) colando o dito ao altifalante de 5W da televisão (passei a minha infância e adolescência em mono). Top of the Pops e outros tops que tais sempre em playback.
Mais ou menos por esta altura (10/11 anos) iniciei a minha carreira musical, logo envolvendo-me em várias tarefas: construtor de instrumentos, compositor, instrumentista e técnico de som. Construí um cordofone com algumas tábuas de madeira, parafusos e fio de pesca (cordas de Nylon, senhores!), alguns membranofones com latas de Cola-Cao e sacos de plástico esticados com elásticos (aqueles das fisgas) e juntei um pequeno número de objectos, de entre os quais me lembro de um jogo electrónico, tachos e vários recipientes. Descobri que se gravasse uma cassete, a pusesse a reproduzir num gravador e produzisse outros sons enquanto o outro Sanyo gravava o resultado, poderia sobrepor tantos sons quanto a minha sensibilidade audiófila pudesse aguentar. (Sopro? Quando é foi a última vez que ouviram uma cassete gravada nos anos 80?) Também achei que estas gravações multi-pista (2 pistas já são multi-pista?) funcionavam muito melhor na casa de banho. Felizmente para o meu percurso de músico a minha mãe foi mostrar o tal cordofone que eu construíra ao nosso vizinho do lado (tocador de viola de fado de Coimbra, acompanhou durante anos o Luís de Góis) que se prontificou a ensinar-me a tocar viola. (A que os espanhóis chamam de guitarra.) Anos mais tarde voltaria a utilizar elásticos de fisga na última encarnação da Tabula Rasa, instrumento construído por mim (http://fernandomota.com.sapo.pt/)
Mas voltando ao que ouvimos, e tentando duma só penada dar sentido ao título presunçoso deste post e fazer uma alusão pretensiosa à alegoria da caverna, quantos dos instrumentos que nós achamos que conhecemos é que alguma vez ouvimos realmente? Mesmo nós, músicos, que gozamos do privilégio de regularmente ouvir um piano ou um clarinete a dois metros (o facto de não mencionar a gaita-de-foles ou o cravo não foi pura coincidência) e que temos o prazer de sentir as vibrações de uma viola ou de um acordeão na barriga (estou a escrever isto a altas horas, a tendência para o erotismo é uma probabilidade), quantos de nós já ouviram uma orquestra de Gamelan, uma orquestra chinesa, tambores Taiko, um shakuhashi, uma harpa eólica, sem ser em disco? Para ser mais abrangente (e menos burguês), quantas pessoas à nossa volta já ouviram um violoncelo? Ali. À frente. Ou um coro… Que bonita comunhão. Vinte pessoas a cantar na sala onde estamos. Para nós.
Os 44.1 Khz a 16 bits do CD ou os 128 Kbs do MP3? Eu continuo a preferir uma posta mirandesa a um hambúrguer do McDonalds. Mas também sinto que por vezes todas estas geringonças não passam de prospectos turísticos. E bom mesmo é estar na praia.
12/02/2007
Quantos BPM’s (batidas por minuto) ouviste hoje?
Lembrei-me hoje, ao ouvir de seguida o último disco do Pierre Favre (“Fleuve”, edição ECM), que já há muito que não me sentava por mais de dez minutos apenas a ouvir música. Sendo que há muito é para mim uma ou duas semanas. Ouvir música tornou-se um luxo. Tenho tudo em casa para ter experiências auditivas cada vez mais ricas: cerca de 600 CD’s de música de várias épocas, estilos e geografias, um sistema de alta-fidelidade razoável (a mim nunca me enganou, que eu saiba), um sistema profissional de gravação e monitorização, dois auscultadores profissionais de gama média-alta, um leitor de MP3’s (vários pontos abaixo das BASF’s de crómio que eu ouvia no liceu num walkman, mas tão detestável quanto a qualidade do áudio das rádios. Ficamos antigos mas mais refinados. “Ouve isto...”) e mais não sei quantos gadgets de gravação e manipulação de som. E, no entanto, cada vez que consigo ouvir um disco do início ao fim, sem fazer mais nada, assim mesmo, sem revistas de Domingo, tarefas domésticas eternamente adiadas, com o telefone e o computador DESLIGADOS, sinto-me triunfante, como que a roubar minutos a uma agenda alheia, que não escolhi.
E tu… quantos BPM’s ouviste hoje…?
E tu… quantos BPM’s ouviste hoje…?
Sismo em si bemol
O Charles Francis Richter e o Heinrich Rudolf Hertz deveriam ter chegado a um acordo.
A mim o sismo pareceu-me estar em Bb.
A mim o sismo pareceu-me estar em Bb.
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P.S. - Se a imagem fosse de um qualquer editor de audio, a coisa estava a picar um bocadinho...
09/02/2007
Marcelo e o Não
O Fernando Mota falava-me há dias, quando entrávamos para a Medeia, deste sketch que eu não tinha visto.
Muito bom. Por isso aqui fica.
Muito bom. Por isso aqui fica.
08/02/2007
Sondagem
Passados 15 dias podemos fazer um balanço desta sondagem sobre o aborto musical.
Os indicadores mostram que os eleitores votaram expressivamente contra a penalização da Interrupção Voluntária da Ideia Musical (IVIM), o que já era previsível.
A grande surpresa são os 25% de votos que defendem que a penalização depende da ideia musical, deixando subentendido que uma ideia musical muito boa é sagrada e, como tal, deve ser preservada e levada até ao fim.
É de salientar os 13% que me mandam trabalhar, votação que me parece ser a mais sensata e que revela algum conhecimento da minha procrastinação musical. Confesso que um dos votos é meu e que fui realmente trabalhar depois do clique.
Os 5% dos eleitores que concordam incondicionalmente com a penalização da IVIM mostram-nos que um significativo espectro do eleitorado anacrúsico se pauta por princípios musicais ultra conservadores.
Há ainda uns personalizados 2% que não gostam que lhes perguntem nada mas que mesmo assim respondem dizendo que não querem responder. É o equivalente ao “não sabe/não responde”.
Para finalizar tivemos um insignificante voto no ”tanto faz” e nenhum no “talvez”. O que me parece ser demonstrativo de que os nossos visitantes têm opiniões claras.
Os indicadores mostram que os eleitores votaram expressivamente contra a penalização da Interrupção Voluntária da Ideia Musical (IVIM), o que já era previsível.
A grande surpresa são os 25% de votos que defendem que a penalização depende da ideia musical, deixando subentendido que uma ideia musical muito boa é sagrada e, como tal, deve ser preservada e levada até ao fim.
É de salientar os 13% que me mandam trabalhar, votação que me parece ser a mais sensata e que revela algum conhecimento da minha procrastinação musical. Confesso que um dos votos é meu e que fui realmente trabalhar depois do clique.
Os 5% dos eleitores que concordam incondicionalmente com a penalização da IVIM mostram-nos que um significativo espectro do eleitorado anacrúsico se pauta por princípios musicais ultra conservadores.
Há ainda uns personalizados 2% que não gostam que lhes perguntem nada mas que mesmo assim respondem dizendo que não querem responder. É o equivalente ao “não sabe/não responde”.
Para finalizar tivemos um insignificante voto no ”tanto faz” e nenhum no “talvez”. O que me parece ser demonstrativo de que os nossos visitantes têm opiniões claras.
Fico à espera de sugestões para novas sondagens.
07/02/2007
Outro Momento Absorto
Podia-se ter escolhido outro assunto dourado para o Post Nº 50 deste blogue, mas pronto, calhou assim.....
SIM à Liberalização do Momento Absorto
Como era de esperar: nos últimos dias de campanha antes do referendo sobre o aborto a discussão sobe de tom, é um "vale tudo" onde muitas vezes os argumentos são substituidos pela mais pura demagogia.
Já na semana passada a Sra. Alexandra Tété, presidente da Associação Mulheres em Acção, conseguiu fazer ferver o sangue de muita boa gente com o seu discurso tipo "Auto da Fé" no programa "Sociedade Civil" no Canal Dois. Ela defende o "Não" ao aborto em todas as circunstâncias, incluindo violação e malformação do feto. Vale a pena ler a entrevista com esta dona de casa com 8 filhos ("Ai meu Deus, Deus me livre!", mas pronto, cada uma faça como quiser, é exactamente isso que ela não deixa!) no site www.mulheresemaccao.org/ .
E ontem vi escrito em todos os degraus de uma escadaria do Metro Rotunda o texto "Eu tenho dez semanas", pintado por mãos provavelmente pouco habituadas aos pulverizadores de graffiti.
Apetece-me retribuir a provocação na mesma moeda e escolher esta frase como título de um "Hino ao Direito à Eutanásia para o Feto Indesejado", de preferência cantado por Marco Paulo (afinal este blogue também é sobre música...):
"Eu tenho dez semanas, quinze anos os meus "pais",
façam alguma coisa, eu não aguento mais."
O quê? Muito mau gosto? Mmm...O.K., concordo. Por isso será muito bom quando acabar o brandir de Cruzes e Satanases à volta da questão do aborto que, quanto a mim, nem devia ser referendado, mas simplesmente possibilitado por lei.
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