14/07/2008

Filosofia na Estação de Metro "Parque"


Raramente faço paragem na estação de metro "Parque" em Lisboa, mas na semana passada aconteceu duas vezes: tinha que renovar a minha Autorização de Residência em Portugal e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) fica lá perto.
Subindo as escadas rolantes reparei em duas frases nos azulejos:
"É preciso muito caos interior para poder parir uma estrela que dança" - Friedrich Nietzsche;
"A ética é estar à altura do que nos acontece" - Gilles Deleuze.
Reflectindo um bocado achei que ambas as frases têm a ver com a vida do artista em Portugal:
- a frase de Nietzsche (na inscrição no Metro Parque falta a letra "s": "Nietzche") é uma belíssima descrição do processo criativo;
- a frase de Deleuze lembrou-me naquele momento a minha condição de músico - profissional liberal - intermitente - imigrante em Portugal: além do passaporte, do cartão de residência prestes a caducar e das duas fotografias tipo passe, eu tinha de apresentar (segundo a Lei 23/2007):
- comprovativo dos meios de subsistência;
- comprovativo de que disponho de alojamento;
- requerimento para consulta do Registo Criminal pelo SEF;
- certificado de conhecimento de português básico.
E "last but not least": "para verificação do cumprimento das obrigações fiscais e perante a Segurança Social, deverá ser feita consulta interna às bases de dados das referidas entidades".
Ou seja: "o que me aconteceu" foi que tinha de desistir da minha luta de "Dom Quixote Intermitente" (post "Anacruses", 5 de Junho 2007) e pagar já todos os meus encargos sociais em atraso.
E assim entrei no dia seguinte como imigrante obediente por intimidação nas instalações do SEF com uma pasta cheia de papéis. Meia hora depois já tinha o meu documento renovado na mão.
Descendo as mesmas escadas rolantes do metro Parque reparei numa outra frase nos azulejos, desta vez em francês e atribuida ao filósofo "pré-socrático"(!) e pai da dialética Heráclito de Éfeso (540 - 470 a. C.):
"C'est par la musique qu'a commencé l'indiscipline!".
Toma-lá!

4 comentários:

Anónimo disse...

Como te compreendo, Rini...

Pedro Fiuza disse...

caro Rini...
o mundo não está preparado!!!
e estás bem?
eu espero que sim.

Anónimo disse...

Caro Rini,

escreveu-me um dia destes e convidou-me para visitar o seu site. Com curiosidade o fiz logo! Mas deixei para mais tarde uma visita mais atenta - tipo: passar na estação do Parque é uma coisa. Outra coisa é passar por lá.
Agora estou a ler o seu blog e surgiram-me algumas questões:

O Rini disse-me que é Holandês. Ou seja, é comunitário. E assim sendo pergunto eu:
-para que precisa de comprovativo de residência?
- aliás... para que precisa de tudo isso?

Julgava que podia estar em Portugal livremente. Aliás, tenho a certeza que pode estar em Portugal livremente.
Eu aqui tenho um documento que me diz que tenho permissão para residir e trabalhar na Dinamarca enquanto esta fizer parte da União Europeia!!!?!? Essa história está muito mal contada. Por detrás da BP na Estrada da Luz há (ou havia) uma repartição do SEF. Na parede, à porta, alguém escreveu:
"Um Homem não tem país!"
Um tag para a vida!

Cumprimentos.

Francisco Santos

disse...

Maestro Rini,
junto-me ao anterior comentário, em primeiro lugar, para reavivar a minha antiga dúvida:
com toda esta relação com o SEF, só podes é ser um russo, ou um moldavo a fazer-se passar por um holandês para despistar aos kapagebistas_ O que fala a favor do SEF, que não liga nenhuma às aparências e marca-te as periódicas "reuniões"...
E em segundo lugar, essa estação do metro me é muito conhecida, por estar lá ao pé o meu instituto de formação osteopática, pelo que tive de ver e rever todas essas frases que mencionaste, como a do grande Friedrich(nunca reparei naquele erro que disseste, ai, ai), ou uma imagem dum tabuleirinho de xadrez virado de côté e outras muitas curiosidades mais...que certamente conferem-lhe um ar místico e especial... (agora que o penso, deve ser o próprio SEF que promoveu a sua criação, para os que lá vão, já estejam com a ideia de entregar o guito e o tempo como parte da mesma filosófica visão---tudo é passageiro, Sr. Passageiro:))...)